Alimento versátil, rico em proteínas e sempre presente na mesa do brasileiro, o ovo tem pesado no bolso dos consumidores. Nos últimos 12 meses, o preço do ovo de galinha teve a maior alta em uma década. O aumento foi de mais de 20%, sete vezes superior à inflação, que hoje está em torno de 3%. A alta acumulada chega a 36,4%. Os motivos para isso são muitos e estão relacionados: desde os impactos da guerra na Ucrânia, que prejudicou a produção mundial de milho, passando pelas questões climáticas.
Quem vai ao supermercado se assusta com o preço cobrado na cartela de 20 e 30 ovos: elas têm custado entre R$ 21,00 e R$ 24,00. Em alguns estabelecimentos, a cartela já chega aos R$ 25,00. Uma das saídas que os consumidores encontram para tentar economizar é procurar comprar o ovo direto nas granjas. Em alguns galpões na Nova Ceasa, por exemplo, a cartela com 30 ovos é vendida a até R$ 18,00.
Geisel Santos, gerente de um destes galpões, explica que, por se tratar de um alimento multiuso, o ovo sempre é um produto bastante procurado. Por mês, a granja onde ele trabalha vende 12 mil caixas com 12 cartelas cada. Essa constância na procura é um dos fatores que têm contribuído para essa redução do preço cobrado na cartela nas últimas semanas. De acordo com ele, a redução foi de até 15%, muito embora este índice ainda esteja longe de fazer o preço do ovo cair para a média cobrada antes da pandemia, por exemplo.
“A maior alta do preço do ovo aconteceu durante a quaresma, que já era esperado. Mas esse ano tiveram vários fatores que ajudaram, como a gripe aviária no mundo e o fato do Brasil ter exportado bastante. Isso resultou na diminuição da produção, o que acabou fazendo o preço do ovo subir. Mas nas últimas semanas reduziu bastante, em torno de 10% a 15%. A cartela com 30 ovos estava custando R$ 22,00 e hoje está R$ 18,00. A procura não para e é grande. É um produto que sai bastante e isso com certeza ajuda a diminuir o preço”, explica.
Produto que não sai da mesa do brasileiro, o ovo pode ser consumido cozido, frito, mexido e ser usado também no preparo de uma diversidade de pratos. É por conta dessa versatilidade e por ser mais em conta que a carne, por exemplo, que ele não sai do cardápio da família do programador Edmilson Machado. Ele conta que em sua casa, uma cartela de ovo dura, em média, uma semana. Apesar de o preço cobrado estar alto, ele ainda considera mais vantagem investir nos ovos do que na carne.
“Eu, minha esposa e meu filho consumimos bastante e de todas as formas. A gente percebeu que teve esse aumento e começamos a ver que substituir a carne pelo ovo em alguns pratos era uma forma de não pesar tanto no nosso bolso. É uma economia e uma alternativa igualmente saudável. No geral, a gente costuma vir comprar nas granjas, porque sai mais barato ainda do que se formos comprar nos supermercados. E aqui nós compramos em maior quantidade”, diz Edmilson.
Outro que também encontra no ovo uma alternativa nutritiva para substituir a carne, mas que também reclamou do preço cobrado pela cartela é o comerciante Pedro Gomes. Ele e a família costumam consumir ovo diariamente, mas mesmo com a redução do valor nas últimas semanas, no fim do mês o alimento ainda pesa no bolso.
“Hoje o preço está mais baixo, senti que esteve mais caro antes. Essa semana reduziu e esperamos que continue assim, porque ainda está pesando no orçamento. Ovo é uma coisa que a gente come todo dia e quando fazemos as contas, dá um impacto grande nas finanças. Vamos ver se essa redução aí se concretiza e o preço dele cai mais, porque é um produto que não pode faltar na mesa. É saudável e fácil de preparar”, afirma Pedro.
Produção internacional de milho impacta diretamente no preço do ovo
O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, divulgado em junho pelo IBGE, mostrou que a safra nacional de cereis, leguminosas e oleaginosas deve registrar um novo recorde ainda este ano, totalizando 305,4 milhões de toneladas. Cereais como o milho e a soja entraram nesta estimativa. Essa projeção deve impactar diretamente no preço cobrado pela cartela de ovos ao consumidor final.
É tudo uma questão de cadeia de produção: aumentando a produção de milho, que é a base da alimentação das galinhas nas granjas, a produção de ovos acaba ficando menos dispendiosa. Menos custos de produção resultam na diminuição do preço final aplicado ao produto. Para se ter uma ideia, a redução do abastecimento de milho no mundo em razão da guerra na Ucrânia foi um dos fatores que levou à alta no preço do ovo.
A Ucrânia é reconhecida como um dos principais produtores mundiais de milho e teve sua produção afetada pelos conflitos políticos e econômicos internos e externos. A queda na produção do cereal no país foi de até 40%. Quem explica esta relação é o economista Francisco Sousa. Ele conta que o Brasil sofreu os impactos do mercado internacional e isso elevou os custos da produção interna.
“Sem milho no mercado internacional, faltou a base da alimentação das galinhas nas granjas. Com o milho sendo praticado a um preço mais elevado, os custos da produção subiram, fora os custos internos com água, energia, que também afetam a produção. O preço da carne bovina e da carne suína também aumentou, o que levou a crescer a procura pelo ovo. Sem ter oferta para atender a esta demanda, o prelo subiu. Mas o que vemos agora é uma tendência de estabilização e, quem sabe, de redução”, diz Francisco.
Com a projeção de safra recorde feita pelo IBGE e maior oferta de milho no mercado, o preço cobrado pelo ovo deve reduzir, basicamente porque os custos da produção devem diminuir. O economista não precisou a partir de quando esses impactos devem ser sentidos no bolso do consumidor, mas destacou que essa redução já vem sendo percebida de maneira sutil.
“Tivemos aí essa leve queda na semana passada no preço da cartela, então, no momento, tem cenários favoráveis para uma redução. Mas temos que ver também que há mais coisa envolvida: as questões climáticas que a qualquer momento podem afetar essa produção de ovos a nível de Brasil”, explica Francisco Sousa.
A despeito da exportação, o Brasil tende a manter em estabilização também a oferta de ovos no mercado interno. Conforme as projeções do IBGE, só em 2023 o Piauí deve produzir mais de 52 bilhões de ovos. Destes, apenas 0,5% devem ser exportados ficando, o restante, para abastecer o mercado interno. Com o aumento da oferta e a procura constante, a tendência de redução é reforçada.
Mas vale lembrar que as projeções não dão certezas. “É algo que a médio e longo prazo sempre pode ter alterações para mais ou para menos. Procura a gente sabe que não vai deixar de ter. Esperamos que os outros fatores que compõem o preço do ovo, além da demanda, se mantenham favoráveis. É um produto que dificilmente vamos deixar de consumir e isso deve pesar no final também”, finaliza o economista.