O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros de Teresina (Setut) realizou, na manhã desta quinta-feira (12), uma coletiva para tratar sobre a proposta apresentada pela Prefeitura de Teresina sobre a possibilidade de tarefa zero do transporte público da capital.
Durante a reunião, o Setut destacou que, para aplicar a gratuidade, seria necessário que as empresas dobrassem a frota de veículos para atender à demanda, que deverá crescer com a tarifa zero. Atualmente, circulam em Teresina cerca de 220 ônibus.
Entretanto, Marcelino Lopes, vice-presidente do Setut, destacou que o sistema funciona com um déficit de R$ 5 milhões, que não é pago pela Prefeitura de Teresina, e há um débito de R$ 120 milhões que está judicializado. Hoje, o custo da operação é de R$ 9,8 milhões por mês e pode aumentar para R$ 15 milhões com a gratuidade.
Marcelino Lopes, vice-presidente do Setut (Foto: Nathalia Amaral/ODIA)
“As empresas não são contra a transferência dos repasses feitos pelos empregadores referentes ao vale-transporte para a Prefeitura. Contudo, há de se analisar se isso é possível, pois a lei que determina esse repasse é federal. A lei federal determina que as empresas comprem os passes para os trabalhadores, não é uma lei municipal. Tem que ver se há essa possibilidade de que esse valor seja depositado em um fundo, eu acho que é impossível", disse
O representante do sindicato das empresas relatou que a oferta da tarifa zero poderá gerar um aumento da demanda. Isso porque os usuários deixarão de utilizar outros meios de transporte, como carros de aplicativo e veículos clandestinos, e passarão a usar os ônibus.
"Hoje existem mais de 10 mil carros piratas fazendo transporte de passageiros em Teresina. Se houver a gratuidade, esses passageiros que usam esses carros vão migrar para os ônibus, porque eles não vão querer pagar pelo que está sendo ofertado de graça. A estimativa que nós temos é que, com essa demanda, iremos precisar aumentar para 400 o número de carros rodando. No cenário atual, precisamos de mais 50 carros para atender a demanda, o que dá cerca de R$ 600 mil a mais por mês, e a Prefeitura não quer pagar", ressaltou Marcelino Lopes.
O Setut acrescentou que o prazo dado pela Prefeitura para que o novo programa de tarifa zero comece a funcionar não é suficiente para sanar todos os problemas e dúvidas que ainda precisam ser discutidas.
"Semana passada, o prefeito de Fortaleza anunciou que irão passar esse ano de 2023 analisando o sistema para que a tarifa zero possa ser implementada a partir de janeiro de 2024. Então, como Teresina, que tem um sistema inferior em tudo, vai conseguir fazer isso em 20 dias?", avalia Marcelino.
O empresário Júlio Pereira, líder do Consórcio Teresina, revelou que "ficou com as pernas bambas" quando soube do projeto da tarifa zero. Segundo ele, "o que é ruim pode ficar ainda pior" se as garantias dadas pela prefeitura não forem cumpridas.
"Hoje, eu não sei como vou pagar [as despesas] dia 20. Imagina como a gente fica preocupado em ficar de uma hora para outra com receita zero, ter que esperar um mês para receber e pagar meus compromissos, se de três em três dias eu preciso pagar o fornecedor de combustível, tenho os funcionários que preciso pagar categoricamente no quinto dia útil e dia 20? Atualmente, a prefeitura não consegue honrar com a gente a meia passagem e a integração temporal", questiona o empresário.
Segundo o empresário, não houve, até o momento, negociação entre as empresas que compõem os consórcios do sistema de transporte e representantes da Prefeitura. Sem essa discussão, Júlio Pereira não vê condições de o novo sistema começar a operar.
"Se você pensar, a ideia é maravilhosa, mas precisamos ter garantias. O que é ruim pode ficar pior, porque você pode ter ônibus super lotados, porque se empresa não sinalizar que nós precisamos colocar mais carros, nós não podemos colocar, porque se você botar mais carro, vai botar mais despesa. Então, enquanto não sentarmos para ver a parte técnica, jurídica e prática, infelizmente, a ideia vai ficar no campo das ideias, porque precisamos de respostas", avalia.