Até
bem pouco tempo atrás, era quase proibido chamá-lo pelo nome. Era “aquela
doença” ou, no máximo, o “C.A.”, como se pronunciar a palavra pudesse atrair o
mal da enfermidade. Valdisa Mendes Sombra era uma destas mulheres que tinha
medo até de citar a palavra câncer; e adotava alguns cuidados com sua
saúde, indo ao médico uma vez ao ano (sempre no mês de maio), para fazer exames
de rotina e seguir a vida normalmente após ver que tudo estava bem. Foi assim em
2015, mas oito meses depois do check-up habitual, uma dor insistente no seio
direito lhe tirou a tranquilidade.
O diagnóstico se confirmou no dia 04 de abril, após a primeira mamografia da sua vida, aos 40 anos de idade. Naquele dia, Valdisa entrou no “Barco do Câncer”, um mundo totalmente novo e desconhecido, que transporta pessoas de todas as cores, idades e classes sociais, unidas pela dor, pela fragilidade, pelo medo e pela vontade de completar a travessia.
Valdisa conta que não tinha outra opção: apegar-se ainda mais a Cristo era inevitável. O dia em que perdeu totalmente os cabelos foi ainda mais difícil do que ouvir do médico qual era o seu quadro. Mas tudo isso se torna supérfluo quando se está lutando pra ficar vivo. Cabelo, corpo, dinheiro, viagens, trabalho, prazeres... nada é tão importante quanto sair do barco. E Valdisa saiu, após um ano de tratamento – com dores, lágrimas, orações, intimidade com o Deus que prometeu estar na embarcação durante todo o tempo – ela recebeu a tão sonhada alta médica.
“Para alguns, câncer é vida. E pra mim foi. Eu precisei passar por tudo aquilo para ser uma pessoa melhor, para ser livre de coisas da velha natureza que ainda eram guardadas no meu coração. O Senhor me ensinou que a vida é curta e bela, e que precisamos aprender a perdoar. É impossível não sair do barco uma pessoa melhor”, relata.
*Conheci
a Valdisa (à esquerda) no último sábado (13), durante um bate-papo sobre câncer de mama,
realizado na minha igreja (AD Cidade, em Fortaleza). Ela contou sua história,
para incentivar as mulheres a, em primeiro lugar, fazerem tudo o que estiver em
suas mãos (e está em suas mãos) para se "prevenirem" do câncer, como ter uma vida
saudável, com alimentação balanceada e prática de atividades físicas; e em
segundo lugar, caso enfrentem esse diagnóstico tão difícil, que não desistam
daquilo que é mais importante: a fé no Deus que nos criou e nos conhece. Ainda
que a travessia no barco do câncer demore a se concluir, ou mesmo que venha a
morte antes disso, que todo o percurso seja feito com Ele. À direita, a médica ginecologista Luciene Bessa, que deu orientações sobre o autoexame das mamas e esclareceu os mitos e verdades relacionados à doença.