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Cessna Caravan - O trator de asas

O melhor avião do mundo em sua categoria

11/05/2016 14:30

Existem aviões que por suas características operacionais deixam de ser aviões para serem ícones da aviação, um exemplo é o DC3, transportador da 2ª Guerra Mundial, que foi a espinha dorsal de inúmeras empresas que estão aí hoje (ou outras que se tornaram história), podemos falar do Boeing 737 (em todas suas versões). Mas o personagem deste artigo é o monomotor Cessna Caravan (C208B Grand Caravan EX).

O Caravan a gente pode até fazer uma analogia ao Fusca, ao Opala, ao Gol, veículos que ninguém chama de carro, chama pelo nome! Não se chama o Caravan de avião, de monomotor ou de teco-teco, chamamos ele de CARAVAN, O CARAVAN! Eu conheci esse avião nos anos 90 quando ainda era criança, já um leitor e amante de aviação. Naquela época, o saudoso Comandante Rolim (fundador da TAM), usava dezenas desta aeronave (em sua versão I) na BR Central, empresa aérea regional que operava desde Goiânia até Belém pontilhando o mapa. O Caravan surgiu da necessidade da FEDEX, gigante de cargas americano, que precisava de um avião robusto, de boa capacidade de carga, custo operacional baixo, eis que nasceu o mito: C208. Na região Nordeste do Brasil, o Caravan é muito conhecido pela sua operação na TAF Táxi Aéreo de Fortaleza e na Abaeté Táxi Aéreo de Salvador, esta última utiliza inclusive o avião no turismo aéreo entre Salvador e Morro de São Paulo.

Mas o Caravan se tornou minha paixão e obsessão nos últimos 10 anos, onde procurei conhecer-lo técnica e operacionalmente, aprender seus custos, suas artimanhas, é IMPOSSÍVEL (em caps lock mesmo) não se apaixonar pelo Caravan, seja como mecânico, como empreendedor, como operações, o avião é um trator de asas! E desde 2013 tenho aprimorado meu projeto de aviação regional envolvendo dois pontos centrais: Teresina e Salvador, afinal a aviação regional é o caminho mais veloz (literalmente) para o desenvolvimento do interior do Brasil. Calhou a notícia recente por parte da SETUR do Piauí, de que a Piquiatuba (táxi aéreo de origem Santarena) irá operar o magnífico Caravan entre PHB-THE-PCS-SRN. E então não poderia deixar de escrever sobre este trator alado.

 

O CARAVAN só tem um ponto negativo, a ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil, retém um avião cujas dimensões são de 12,7 metros de comprimento por 15,8 metros de envergadura, transportando apenas 2 pilotos e 9 passageiros, enquanto a EASA, órgão regulador da aviação Europeia libera 12 passageiros + 2 tripulantes ou seja 14 pessoas a bordo! Na aviação comercial, existe uma métrica de custo chamada CASK - Custo Assento Kilometro, e de 9 para 12 passageiros o CASK varia brutalmente e isso tem reflexo direto em um "pequeno detalhe": O preço da passagem! Detalhe sórdido, no passado (leia-se anos 90) o CARAVAN operava com 12 passageiros e a TAM/BR Central voavam para dezenas de cidade no Centro-Oeste, Norte, Sul e Sudeste, bastou a restrição de 9 passageiros aparecer para tornar o custo operacional alto e o avião praticamente desaparecer do transporte aéreo regional, aliás este medida afetou o Piauí na época, com a TAF saindo da rota Picos - Teresina - Sobral - Fortaleza.

Nos estudos desenvolvidos por mim a respeito do Caravan operando com 12 assentos, o CASK chega a baixar 25%, o que é bem relevante aos custos de uma industria balizada pelo dólar, moeda cuja valorização sobre o real é o calcanhar de aquiles de todas empresas aéreas atualmente.

NA PRÁTICA

O Caravan é usado no Brasil pela Piquiatuba Táxi Aéreo (em sua principal rota: Belém - Novo Progresso, via Altamira, Santarém e Itaituba), pela ASTA Linhas Aéreas (baseada em Cuiabá e servindo diversos destinos do Mato Grosso), pela RIMA Táxi Aéreo (baseada em Porto Velho que o utiliza para Cacoal e Lábrea, além do táxi aéreo), e inúmeros operadores de táxi aéreo, inclusive na versão anfíbia no Amazonas. Outros operadores são empresas de courier (carga) como a JAD e TWO cuja operação é nacional, além claro da Força Aérea Brasileira que possui quase 20 unidades da aeronave. A Cessna já entregou mais de 2.500 unidades desta aeronave desde os anos 80.

O avião é FANTÁSTICO, voa por 964 milhas náuticas (quase 1.800 Km) a 195 nós de velocidade (algo como 360 Km/h), transportando até 11 pessoas (regras Brasileiras). Seu peso máximo de decolagem é praticamente 4 toneladas (3.995 Kgs). Seu consumo de combustível é de 243 litros de querosene por hora, alimentando um motor PT6 (cuja fama na aviação é a seguinte: O apocalipse acontece, mas um PT6 não te deixa na mão) de 867 Shp. Isso mesmo que você leu: UM MOTOR! O avião é monomotor, mas você não encontra facilmente situações de que este avião se acidentou por falta de motor.

No Piauí, vislumbro facilmente que um par destas aeronaves permitiria ligações ideais entre a capital e cidades como Uruçuí, Bom Jesus, Picos, São Raimundo Nonato, Floriano, Pedro II, Parnaíba, Sobral, Imperatriz e obviamente a partir de algumas das citadas alcançaríamos capitais vizinhas como São Luís e Fortaleza ou Petrolina como destino regional.

Não existe "tempo ruim" para o Caravan, ele encara pista de terra, de grama, de asfalto, de concreto, ele encara o sol piauiense e decola de Picos meio dia sem stress (o mesmo não poderia dizer sem aplicar penalidades operacionais a aviões maiores no mesmo contexto). O Caravan simplesmente vai e faz. E é isso que esperamos, que ele faça o tão esperado desenvolvimento do transporte aéreo no interior Piauiense.

E OS VOOS NO PIAUÍ?

Anunciou-se por parte do Governo do Piauí, uma empresa chamada TW Fly que iria operar a aeronave, infelizmente a qualidade da informação foi precária e após extensa pesquisa por nossa parte concluiu-se que quem vai operar é a Piquiatuba com o Caravan e a TW Fly será a agência promotora dos voos na rota Parnaíba - Teresina - Picos - São Raimundo Nonato, o que vejo com bons olhos (inclusive comparando ao meu projeto, ou seja, vejo viabilidade no negócio). No entanto espero que o público "compre o produto", sem preconceitos com o tipo de aeronave e por outro lado sem esperar promoções de 50 ou 100 reais (que não acontecerá JAMAIS!).

Fica apenas um lembrete, mais uma vez, como ao longo dos últimos 80 anos, tem que vir uma empresa de fora para apostar no estado, pois ninguém local aposta na própria terra, não citarei nomes, mas procurei uma pessoa local e sequer quis me ouvir, e a ideia então já contava com o Caravan como ferramenta de trabalho.

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