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"Como Zeca, tenho também que lidar com o que há de machismo em mim'

Personagem surge no horário nobre no momento em que, cada vez mais, as mulheres lutam por igualdade

01/05/2017 11:05

Em 'A Força do Querer', Zeca, personagem vivido por Marco Pigossi é gato, apaixonado, mas extremamente machista. Para ele, mulher não foi feita para determinadas coisas. O personagem surge no horário nobre no momento em que, cada vez mais, as mulheres lutam por igualdade de gêneros. Na trama, ele se divide entre sua paixão de infância, vivida pela sereia Isis Valverde e a policial Jeiza, interpretada por Paolla Oliveira. Aos 28 anos, o paulistano, que começou no teatro aos 13 e já fez mais de 10 novelas da TV Globo, evita o rótulo galã e revela sua opinião e semelhança com Zeca; confira!

Foto: Chico Cerchiaro

O que você acha do Zeca?

Zeca é um brasileiro comum, sua profissão é caminhoneiro, ele não para quieto, vive na estrada, sempre de passagem e em movimento. Rude, passional

e ao mesmo tempo super do bem. Como muitos brasileiros, teve uma criação com muito amor, mas com raízes profundamente machistas e isso define, de certa maneira, sua relação com as mulheres. A Glória fez questão de colocar duas mulheres extremamente empoderadas

em sua vida, a Jeiza, uma pessoa totalmente independente e forte, e Ritinha, uma sereia solta no mundo em busca de paixões e aventuras. A história toda se desenrola por aí.

Você tem algo do personagem?

Lógico, tudo do Zeca tem algo de mim. Tudo vem de dentro para fora, são experiências que eu, Marco, vivi e que a partir delas tento entender como

o personagem lida e vive com seus conflitos e emoções. Como Zeca, eu também sou apaixonado pelas estradas e por pilotar, tive paixões que me confrontaram e me ensinaram muitas coisas e, como Zeca, tenho também que lidar com o que há de machismo em mim. A beleza

do trabalho como ator é tanto trazer algo da minha vida para o personagem, como também trabalhar no personagem algo que também pode transformar minha vida.

O que você espera do Zeca? Como ele vai evoluir ao longo da trama e o que ele representa na sua carreira?

Espero do Zeca muita verdade, verossimilhança com o brasileiro que ele representa, espero que as pessoas vejam o Zeca na TV, se identifiquem ou não,

se irritem, discordem, concordem, até mesmo que odeiem ele, mas que no fim ele amadureça e torne-se uma pessoa melhor, como todos nós temos a chance de fazer. Como personagem, ele representa mais uma oportunidade de tocar milhões de pessoas, a responsabilidade de ao mesmo tempo representar e provocar. A carreira de um ator não é composta por um sucesso ou um personagem. É uma junção de trabalhos e personagens que trazem credibilidade e uma base concreta. O Zeca é mais um personagem que vem adicionar a minha história, a minha bagagem e tenho muito orgulho desse trabalho. Acho ele fundamental para compor minha carreira que sempre foi baseada em construir personagens distintos e verdadeiros.

Como é trabalhar com Isis e Paolla?

Tem sido ótimo, como não poderia deixar de ser. Com a Isis já tinha feito uma novela inteira juntos, e nesse primeiro trabalho com a Paolla, a troca também está incrível. Sempre me perguntam do trio, mas acho super importante também destacar outras tantas parcerias nessa novela, o Tonico Pereira, que é um grande ator, Rogério Gomes e equipe de direção, todo elenco e equipe técnica.

Já sente reação das pessoas ao personagem nas ruas?

Sinto. O Zeca é um personagem extremamente popular. Ele dialoga diretamente com o público de uma maneira simples e positiva. As pessoas gostam, algumas

se identificam, outras criticam seus posicionamentos, mas todos se sentem a vontade para opinar e comentar. Acho essa proximidade muito interessante. Um artista trabalha para o público, sem ele não tem artista nem ator.

O rótulo de galã te incomoda? Já levou vantagens ou se prejudicou na carreira por ser bonito?

Absolutamente. O rótulo de galã vem junto com o personagem. Meu primeiro personagem o Cássio (Rosa chiclete) não carregava esse rótulo. O Zeca também não. Nasci como ator no teatro, e foi no teatro que a televisão me convocou para trabalhos e testes. No palco um rosto bonito não pode fazer nada por você. Ele revela ou não um artista.

O Zeca está ali para mostrar o machista controlador, que acha que mulher não faz isso, que não pode fazer aquilo. O que aprendeu com ele que já te mudou?

Não defendo personagem, e o machismo do Zeca, como de qualquer outro, é injustificável e indefensável. Quando estamos atuando sempre buscamos entrar na cabeça do personagem para entender seus movimentos e assim conseguir executar melhor nosso trabalho. Faz parte do processo. Porém, Zeca veio num momento muito forte da nossa sociedade e nunca ficou tão claro que não se pode defender um homem machista.

Passou a se reconhecer como machista? Qual sua posição em relação ao machismo?

Zeca me abriu um canal para procurar entender e investigar um pouco mais sobre essa questão. O machismo na nossa sociedade é estrutural. Não posso dizer que não sou machista quando faço parte dessa sociedade na qual os homens ganham 30% a mais que as mulheres, por exemplo. Apenas ao acordar e trabalhar estou "aproveitando" desse ‘privilégio’ que é ser homem no Brasil, infelizmente. Por outro lado aprendi também que não posso ser feminista porque não sou protagonista dessa luta, posso ser pró feminista e ser solidário de outras maneiras, por exemplo, quando estou num ambiente só de homens e posso de alguma forma forçar uma reflexão ou questionar nosso comportamento. Aprendi que empatia é a palavra que melhor define a postura correta de nós homens ligarmos com isso. Escutar, entender, compreender, se colocar no lugar e dividir com colegas essa visão. Aliás, empatia é a palavra que define a postura para um mundo melhor.

Fonte: Marie Claire
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