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Incêndio no Ninho do Urubu completa cinco anos sem respostas sobre a tragédia

Arthur Vinicius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías. As vidas desses 10 jovens e promissores atletas foram interrompidas quando, por volta das 5h17min do dia 8 de fevereiro de 2019, um incêndio atingiu os contêineres onde os adolescentes ficavam alojados no Centro de Treinamento (CT) do Flamengo, mais conhecido como o Ninho do Urubu, na zona oeste do Rio de Janeiro. 

airaocrespo/Instagram
Tragédia no Ninho do Urubu completa cinco anos.

Passados cinco anos da tragédia, muitas perguntas ainda esperam por respostas: quais negligências causaram o ocorrido, quem são os culpados, o clube dava a atenção necessária às categorias de base, porque tanta demora no julgamento do caso? A primeira audiência de instrução e julgamento do processo criminal sobre o incêndio no Centro de Treinamento foi feita quatro anos depois da tragédia, em agosto do ano passado, no juízo da 36ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.

Oito réus ainda serão julgados pelas mortes. Eles respondem por incêndio culposo qualificado pelos resultados de morte e lesão grave. Os réus Edson Colman da Silva, técnico em refrigeração, e Eduardo Carvalho Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, estiveram presentes à audiência. Outros dois réus Antonio Marcio Mongelli Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo, e o engenheiro do clube, Marcelo Maia de Sá, não compareceram à audiência.

Mais quatro réus, todos da empesa que forneceu os contêineres instalados no Ninho do Urubu, também não compareceram à audiência de instrução e julgamento. São eles: Claudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Fabio Hilario da Silva e Weslley Gimenes. Na época, o juiz decretou revelia na ausência das seis pessoas, o que significa que o processo continuará mesmo sem a presença dos réus e não altera o ônus da prova.

Piauiense esteve entre os sobreviventes

O piauiense Samuel Barbosa foi um dos sobrevivente da tragédia. Samuel é natural de Teresina e morava há seis anos no Rio. O atacante fazia testes no Rubro-Negro carioca desde 2013. Na época, o jogador tinha 17 anos em abril e disse que realizava um sonho no Ninho do Urubu. O garoto acordou com a fumaça e correu, conseguindo escapar do incêndio.

Reprodução / Instagram
Samuel Barbosa, sobrevivente da tragédia do Ninho do Urubu

Ele ainda conseguiu acordou outro amigo que dormia no alojamento provisório que pegou fogo. Na época, ele gravou um vídeo onde falou sobre a noite.

Estava dormindo na hora e senti um cheiro queimado muito forte, pensei que meu celular tivesse queimado, só podia ser o meu celular. Tirei a tomada do celular rapidinho. Quando eu fui ver, vi aquela explosão, veio fumaça no meu olho. Fui para o quarto e chamei Bolívia, Bolívia, vem, Bolívia, Bolívia. Gritei socorro, socorro... Saí correndo. Não deu para ajudar

Samuel BarbosaPiauiense sobrevivente na tragédia do Ninho do Urubu

MP-RJ já havia recomendado mudanças no CT

Antes da tragédia, o Ministério Público já havia feito várias vistorias e dado recomendações de mudanças no CT do Ninho do Urubu a partir de 2012, nas quais são apontadas diversas necessidades de melhoria em relação ao atendimento oferecido aos atletas da base.

Em 2014 foi feita uma tentativa de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que não se realizou. O Flamengo se recusou a fazer o TAC. Isso foi judicializado e em 2015: foi instaurada uma ação civil pública. Em 2019, quando o incêndio aconteceu, esta ação ainda estava em andamento. Então eu falo: o tempo da justiça nem sempre é o tempo de quem precisa dela. De 2012 a 2019, o Flamengo teve inúmeras oportunidades de se adequar, já os meninos do ninho não tiveram nenhuma chance

Daniela ArbexJornalista investigativa, autora do livro "Longe do Ninho"

"O clube prestou toda a assistência às famílias", diz nota do Fla

O Flamengo emitiu nesta quarta (07) uma nota sobre os cinco anos da tragédia no Ninho do Urubu. O clube afirma que "desde o trágico dia, o clube prestou toda assistência às famílias, tanto psicológica, como financeira". O rubro-negro fez acordo com nove das 10 famílias das vítimas da tragédia.

Segundo o clube, uma única família que não aceitou o acordo "recebe, mensalmente, uma pensão do clube, independentemente de processo judicial".

Confira a nota:

“Amanhã fará cinco anos da maior tragédia da história do Flamengo. Perdemos dez jovens atletas e não podemos – nem queremos – esquecer disso. Temos que rememorar nossos jovens eternamente, a cada dez minutos de cada jogo e sempre.

Será um dia muito difícil para as famílias daqueles dez jovens atletas e isso consterna a todos nós e nossa grande torcida. É dia de lamentar e de pedir a Deus por eles. Dia de nos solidarizarmos com as famílias e dar condolências. 

O clube recebeu várias consultas de muitos veículos de comunicação. Sinteticamente, o clube tem a dizer o seguinte:

Desde o trágico dia, o clube prestou toda assistência às famílias, tanto psicológica, como financeira.

Após algum tempo e independentemente de processo judicial, o clube firmou acordo com nove das dez famílias que tiveram vítimas fatais e com todos os sobreviventes. Essas famílias consideraram justos os valores da indenização e os aceitaram.

A única família que não aceitou o acordo recebe, mensalmente, uma pensão do clube, independentemente de processo judicial, e o Flamengo continua aberto para alcançar uma composição com eles, a quem muito preza.

O Flamengo tem o maior respeito e carinho pelas famílias, de modo que externamos aqui, mais uma vez, nossos mais sinceros sentimentos a todos”.