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“A dor é tanta que eu não consigo nem chorar”, diz mãe de meninos envenenados em Parnaíba

Francisca Maria perdeu no intervalo de dois meses seus dois filhos mais velhos: Ulisses e João Miguel.

13/11/2024 às 11h37

Filhos que perdem os pais se tornam órfãos. Quando um marido ou esposa perde seu cônjuge, se torna viúvo. Mas e quando uma mãe perde os filhos, qual o nome que se dá? É para este sofrimento que Francisca Maria Silva tenta encontrar uma palavra. Ela é mãe dos pequenos João Miguel, 7 anos, e Ulisses Silva, 8 anos. Os dois morreram após serem envenenados quando comeram cajus dados por uma vizinha. O fato aconteceu em agosto na cidade de Parnaíba.

Francisca Maria Silva é mãe de Ulisses e João Miguel - (Reprodução) Reprodução
Francisca Maria Silva é mãe de Ulisses e João Miguel

João Miguel morreu dias depois do ocorrido, mas Ulisses ainda passou dois meses lutando pela vida e veio a óbito no último domingo (10), no HUT. Os dois eram os filhos mais velhos de Francisca Maria. Ela ainda vive em Parnaíba com sua mãe, cuidando de outros três filhos. Mas a proximidade com a residência onde morava a suspeita do crime e a própria postura de alguns vizinhos tornam a permanência no local difícil.

Francisca diz que a dor pela perda dos filhos é tão grande que não consegue mensurar. O choro, ela conta, não tem mais de onde vir. E a ausência das lágrimas é motivo de julgamento por parte de algumas pessoas.

“A dor é tanta que eu não consigo nem chorar mais. Nos dias dos enterros dos meus filhos falaram que eu não chorava, que não saía uma lágrima. Mas como chora se tudo que eu tinha para chorar já chorei. A dor no coração é grande, eu sinto muito tudo que estou passando. Mas não saía mais choro”.

Francisca Mariamãe das crianças envenenadas em Parnaíba

Ela diz que vai se mudar para não ter que conviver com a dor no espaço onde tudo aconteceu. Quando questionada sobre sua relação com a suspeita, ela conta que sequer a conhecia. “Não tinha desentendimento nenhum, a gente nem conhecia ela. “Meus meninos que brincavam sempre para lá [na direção da casa da suspeita] e falavam nela. E foi no dia que eles chegaram com a sacola de cajus nas mãos”, relembra.

Os cajus teriam sido dados a Ulisses e Miguel pela suspeita do envenenamento, Lucélia Maria da Conceição Silva. As frutas ingeridas por eles continham terbufós, uma substância usada como pesticida e que tem um poder de letalidade maior que chumbinho. O terbufós age nos nervos, diminui a oxigenação do cérebro, causa hemorragias, inchaço nos pulmões, o que dificulta a respiração, além de provocar convulsões, tremores musculares, diarreia e aumento da frequência cardíaca.

O perito geral do Instituto de Criminalística, Antônio Nunes, explica que, por conta de sua potência, o envenenamento por terbufós tem um grau de sobrevivência muito baixo mesmo que a vítima tenha sido socorrida rapidamente. “É bem mais forte que veneno de rato, infinitamente superior. Foi feita a apreensão de frascos na residência da senhora suspeita e essa substância foi trazida para cá, onde foi periciada. Foi encontrado, sem sombra de dúvidas, terbufós e deltametrina. Vamos agora fechar o laudo”, explicou o perito.

Antônio Nunes, perito geral do Instituto de Criminalística - (Assis Fernandes/O Dia) Assis Fernandes/O Dia
Antônio Nunes, perito geral do Instituto de Criminalística

A suspeita do crime permanece presa. Lucélia Maria deve responder agora por dois homicídios.


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Com informações de Tony Silva, da O Dia TV