Somente cinco das 50 cidades mais populosas do Piauí possuem boa qualidade do ar para respirar. É isso o que aponta o ranking suíço produzido pela IQAir, plataforma que mede a qualidade do ar respirado nas maiores cidades do mundo e que atestou que São Paulo Capital possui, pelo terceiro dia seguido, o ar mais poluído entre as maiores metrópoles do mundo. Aqui no Piauí, boa parte dos municípios apresenta qualidade do ar considerada moderada.
Para calcular a qualidade do ar, a plataforma mede, por meio de sensores espalhados ao redor do mundo, a quantidade de partículas finas (com menos de 2,5 diâmetro de comprimento) e de gases poluentes presentes por metro cúbico de ar. A tabela da IQAir utiliza o índice americano de qualidade do ar dividido segundo a classificação: 0-33 (muito bom), 34-66 (bom), 67-99, (moderado), 100-149 (ruim), 150-200 (muito ruim) e mais de 200 (perigoso).
Teresina, por exemplo, possui qualidade do ar moderada, segundo o modelo do IQAir, com índice de 60. A concentração de partículas finas presentes no ar da capital piauiense é de 14,2 microgramas por metro cúbico, um valor 2,8 vezes maior que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diferente de outras cidades brasileiros, Teresina não registra índices considerados significativos de poluição por dióxido de carbono e dióxido de enxofre, por exemplo.
Dentre as 50 cidades mais populosas do Estado, somente Buriti dos Lopes (40), Pedro II (49), Luís Correia (48), Parnaíba (48) e Cocal (47) possuem boa qualidade do ar, de acordo com o sistema de medição suíço. As demais cidades têm índice de 51 a 62, considerado moderado. Piripiri, Piracuruca e Castelo do Piauí possuem índice 51 ao passo que União e Uruçuí são as que concentram as piores qualidades do ar respirado, com índice de 62, pior até do que Teresina.
Mas o Piauí se encontra em uma situação controlada, segundo o que dizem os especialistas. De acordo com o ranking suíço da IQAir, São Paulo capital, por exemplo, alcançou nesta quarta-feira (11), 101 microgramas por metro cúbico, um valor 20 vezes maior que o limite recomendado pela OMS. Há cidades, no entanto, que estão em uma situação mais crítica que São Paulo: Rio Branco, capital do Acre, tem índice de qualidade do ar na casa dos 194 (muito ruim).
A poluição do ar em São Paulo, assim como em diversas cidades brasileiras, tem relação direta com a fumaça gerada pelos focos de queimada nas regiões Norte e Centro-Oeste. O Brasil já contabiliza 167.452 focos de queimada ao longo de 2024, sendo que mais de 40 mil foram registrados somente entre os dias 01 e 10 de setembro. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontam que o Piauí registrou 1.137 focos de queimada nos primeiros dez dias de setembro, o que coloca o Estado como o décimo do país no número de incêndios em vegetação.
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No entanto, especialistas afirmam que, apesar de o Piauí também ser atingido pela fumaça das queimadas, os gases poluentes gerados por elas aqui no Estado estão migrando para estados vizinhos em razão dos ventos alísios.
Os ventos alísios são deslocamentos de massas de ar em direção às zonas de menor pressão atmosférica das zonas equatoriais. No Piauí, eles entram pela região Sudeste do Estado e também pelo litoral e migram para o Maranhão. Quem explica é o geógrafo e especialista em gestão ambiental em geoprocessamento, Rafael Marques.
“Pela quantidade de focos registrados no Piauí e pela dinâmica atmosférica, na direção dos ventos a queima gerada no Piauí está migrando para o Maranhão, porque o corredor de vento, ou seja, a direção dos ventos alísios do Nordeste, faz isso. Eles vêm do Sudeste piauiense e do litoral e sai em direção ao Estado maranhense, fazendo um contorno circulatório para o Maranhão e, depois, descendo um pouco para o Tocantins. Em seguida, descem mais para o Sudeste para acompanhar a outra massa de ar”, explica Rafael.
Esse corredor de vento tem tornado o ar do Piauí um pouco mais respirável nas últimas semanas, muito embora o Estado esteja sob alertas de baixa umidade. Especialistas consideram a situação piauiense controlada se comparada com regiões no Norte e Sudeste brasileiro. O monitoramento do Inpe para a qualidade do ar aponta que o ar respirado no Piauí está em condição “boa”, diferentes do que se observa no Centro-Oeste, por exemplo, onde estão os estados com as maiores concentrações de focos de queimada.
“Se compararmos com estados como Amazonas, Acre, Rondônia e os Estados do Centro-Oeste como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, o Piauí está ainda numa situação controlável tanto no aspecto qualitativo, quanto na quantidade de emissões ou de focos registrado de incêndios florestais”, pontua o professor Rafael Marques.
O geógrafo explica quais são essas partículas poluentes e como elas prejudicam a saúde de quem as respira. As principais são o ozônio, óxido de nitrogênio, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e os hidrocarbonetos totais. Rafael diz que são partículas inaláveis justamente derivadas da queima de material orgânico, especialmente em vegetação. “Lógico que são poluentes que ficam em suspensão na atmosfera e que, em grande excesso, vão prejudicar a saúde das pessoas, dos animais e dos ecossistemas, sobretudo aqueles mais suscetíveis a problemas respiratórios, problemas na garganta, laringe, faringe e nos pulmões”, afirma.
A plataforma suíça que mede a qualidade pontua que quem vive no Piauí precisa tomar alguns cuidados para evitar adoecer em razão de inalar ar poluído. Entre os cuidados estão: grupos de risco devem reduzir a prática de atividades físicas ao ar livre e usar máscara ao sair de casa. É recomendado ainda fechar as janelas de casa para evitar entrada de poeira e, para quem é grupo de risco para problemas respiratórios, ter em casa um umidificador/purificador de ar.
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