Uma infinidade de partidos políticos e propostas. É assim que se caracteriza o processo eleitoral brasileiro. Mas a diversidade de siglas partidárias, que é característica do Regime Democrático, acaba às vezes por confundir o eleitor. Há quem se diga de Esquerda e há quem se diga de Direita, mas, afinal, o que significa exatamente ser de Direita ou de Esquerda?
A despeito dos conceitos, o Piauí se mostra um Estado “nem de Esquerda, nem de Direita”. É o que atesta a pesquisa Panorama Político, produzida pelo Instituto DataSenado, que traçou o perfil ideológico do eleitor brasileiro. Os dados revelam que 47% do eleitorado piauiense não se considera próximo ideologicamente nem da Esquerda Política, nem da Direita Política.
Nas entrevistas que embasaram a pesquisa, foram feitas perguntas para avaliar a opinião dos brasileiros para indicar prioridades para a atuação parlamentar e quantificar as percepções em relação à democracia brasileira, ao desempenho do parlamento e aos principais temas em debate no Brasil. Um dos questionamentos feitos era sobre a identificação ideológica de cada eleitor.
Mais da metade do eleitorado piauiense disse não ser nem de Esquerda, nem de Direita e nem de Centro. Os que se declararam esquerdistas correspondem somaram 366.381 pessoas, o que corresponde a 14% do total dos eleitores do Estado. Já os que se declararam de Direita somaram 645.965 pessoas, o que corresponde a 25% do total de eleitores. Os que se declaram de Centro somaram 176.312 eleitores, um volume de 7% em relação a total do eleitorado.
Os cinco Estados com o maior número de eleitores de Direita são Rondônia, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná e Roraima. Já os Estados com mais eleitores que se consideram de Esquerda são Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Mato Grosso do Sul. A pesquisa do DataSenado relacionou a preferência ideológica do brasileiro com sua condição econômica, seu gênero, sua identidade racial e religiosa e seu nível de escolaridade.
Para o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí, não é surpresa que entre os que responderam terem alguma inclinação ideológica, os eleitores de Direita sejam maioria no Estado. Ele associa este fator, dentre outros aspectos, à forte religiosidade do piauiense.
Mas qual é este aspecto conservador? O professor Elton Gomes esclarece que a Direita defende liberdades individuais, conservadorismo religioso ou não e o liberalismo econômico. “A Direita acredita no mercado enquanto instância locadora de recursos eficiente. Defendem que o mercado se autoequilibra e que o Estado deveria intervir muito pouco ou não intervir nas questões econômicas, permitindo que os particulares gerem atividades lucrativas que se oferecem na forma de bens e serviços”, discorre.
Já a Esquerda Política é o que muitas pessoas chamam de progressista, segundo Elton Gomes. Os esquerdistas defendem pautas coletivistas e questões que podem ser agrupadas em grandes totalidades orgânicas, como a luta de classes, por exemplo. O cientista político acrescenta que os esquerdistas também se colocam em defesa da intervenção do Estado na economia. “A Esquerda pensa em termos de coletivismo e intervenção estatal para corrigir o que eles entendem como sendo falhas de mercado”.
Maioria católica, nem de Direita e nem de Esquerda
O cientista político Elton Gomes destacou que o Piauí é o Estado mais católico do Brasil e que isso impacta na inclinação político-partidária do eleitor. É que entre os católicos, a grande maioria dos eleitores brasileiros (39%) afirma não ser nem de Esquerda, nem de Direta. Outros 28% dizem ser de Direita e 15% dizem ser de Esquerda. Assim como ocorre a nível nacional, no Piauí, a maioria do eleitorado afirma não seguir nenhuma inclinação ideológica política específica.
Já entre os Evangélicos, 42% afirmam não ser de Direita nem de Esquerda, 35% afirmam ser de Direita e apenas 8% afirmam ser de esquerda. Os que dizem não ter religião se dividem: 21% afirmam ser esquerdistas, 21% afirmam ser direitistas e 41% dizem não serem de Direita nem de Esquerda.
Quanto maior a renda, maior a adesão às ideias de Direita
O Panorama Político sobre o perfil ideológico do eleitorado brasileiro analisou ainda a relação entre a renda e a inclinação política. Quanto maior a renda dos brasileiros, maior a inclinação às ideias de Direita. Entre os eleitores que ganham mais de seis salários mínimos, 37% afirmam ser direitistas, 21% afirmam ser esquerdistas, 19% dizem ser de Centro e 21% não sabem dizer que ideologia seguem. Quando se observa o eleitorado que ganha de dois a seis salários mínimos, 32% dizem ser de Direita, 17% dizem ser de Esquerda, 12% de Centro e 35% não sabem dizer sua ideologia política.
E quando a renda cai para dois salários mínimos, a grande maioria afirma não ser nem de Direita, nem de Esquerda: 47%. Outros 25% dizem ser direitistas, 12% dizem serem esquerdistas e 9% dizem ser de Centro.
Mas a renda não é um fator determinante para a definição ideológica do eleitor. Elton Gomes esclarece que o brasileiro tem um espírito empreendedor e que a classe trabalhadora que empreende gosta das soluções de mercado, ou seja, tendem a apoiar um maior liberalismo econômico atrelado às ideias conservadoras. Por sua vez, há uma classe média mais abastada e tradicional que é mais liberal em termos de costume, mas tende a ser mais associada ao estado e às ideias esquerdistas de intervenção estatal.
“Uma parte desta classe ou é servidora pública ou almeja ser servidora pública. São pessoas que gostam de soluções estatais e tendem a preferir as ideias de Esquerda”, explica o professor.
Confiança no resultado das urnas é maior entre a Esquerda do que entre a Direita
Os esquerdistas são os que mais confiam no sistema eleitoral brasileiro. Este é um dos aspectos que aponta a pesquisa do DataSenado. Pelo menos 86% dos eleitores que se dizem de Esquerda disseram que os resultados das urnas são confiáveis. Em contrapartida, somente 26% dos eleitores de Direita disseram crer no sistema de votação eletrônico.
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Pluralidade de pautas
A despeito das inclinações políticas e ideológicas, o eleitorado brasileiro se caracteriza pela pluralidade de pautas. De acordo com o professor Elton Gomes, eleitor que vai às urnas votar quer encontrar, na verdade, um “salvador da pátria”, um “homem providencial” que é algo ainda muito arraigado no imaginário brasileiro. A leitura que o cientista político faz é a de que o perfil do candidato escolhido é aquele que atenda à pluralidade dos anseios do eleitor.
“O brasileiro, de modo geral, é conservador. O povo quer assistencialismo do governo porque precisa, logo ele se identifica com a Esquerda. Mas não querem restrições de liberdades individuais, logo, se identifica também com a Direita. O brasileiro quer liberdade econômica, um pensamento de Direita, e é conservador nos aspectos morais e religiosos. Mas há aquela parcela mais abastada que defende a intervenção do Estado porque tem negócios com ele, se beneficia de contratos públicos, uma agenda da Direita. O brasileiro quer tudo e, no fim das contas, fica difícil dizer qual a ideologia que ele de fato segue”, finaliza Elton.
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