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Mais de 8 mil atendimentos para pessoas com hanseníase foram feitos só este ano

Um serviço de referência no Piauí é o Centro Maria Imaculada, localizado no bairro Real Copagre, zona Norte de Teresina, e é executado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA).

22/06/2024 às 12h07

22/06/2024 às 12h07

Receber o diagnóstico positivo para Hanseníase, a antiga lepra, ainda não é nada fácil. É o que relata Paulo Araújo, de 39 anos de idade, que chegou a desistir do sonho de concluir o curso de Licenciatura em Letras Inglês na UFPI. Apesar de já estar curado da doença, lembra das dificuldades que enfrentou durante o tratamento e como lida com as sequelas. Ele conta que o que atrasou o seu tratamento foi, inicialmente, o diagnóstico errado.

“Em 2015, eu morava em Fortaleza (CE). Tive manchas brancas nas costas e o médico da rede privada tratou como micose e pano branco. Três anos depois, apareceram manchas vermelhas e uma atrofia no dedo. O que aconteceu foi uma reabsorção óssea no dedo indicador esquerdo, que começou a ficar roxo”, relembra ele, que em setembro de 2018, ao procurar um outro profissional, em suas costas já somavam 28 manchas vermelhas, identificadas como hanseníase.

Com a dificuldade de obter o diagnóstico correto e iniciar rapidamente o tratamento, Paulo Araújo comenta que foi apenas por meio do SUS no Piauí que conseguiu o encaminhamento para iniciar o tratamento.

“Eu não conseguia o tratamento adequado em Fortaleza e decidi retornar a Teresina. Com a visita domiciliar do médico da família para a minha avó, que estava acamada, recebi o encaminhamento para o Centro Maria Imaculada. E foi assim que em 2019 iniciei meu tratamento e tenho acompanhamento necessário até hoje”, ressaltou.

Paulo Araújo durante sessão de fisioterapia no CMI - (Crédito: CMI) Crédito: CMI
Paulo Araújo durante sessão de fisioterapia no CMI

Paulo Araújo conta que as sequelas da hanseníase fizeram ele se tornar uma pessoa com deficiência, tendo que passar ainda por muitos procedimentos cirúrgicos.

“Atualmente, fiz uma cirurgia de descompressão do túnel do carpo no braço esquerdo. Talvez, esse ano, eu faça a descompressão também do braço direito. Vou precisar também fazer a descompressão da perna direita. Tudo isso devido às sequelas que fiquei. Eu moro sozinho e tudo na minha casa precisa de algumas adaptações, desde a chave da porta a caneta para escrever. O chão precisa estar sempre livre e limpo, pois tenho anestesia nos dois pés, se entrar um prego, eu vou continuar andando com o prego no meu pé e não vou sentir”, destaca, ele que retomou os estudos no mesmo curso, Letras Inglês, na modalidade a distância.

Serviço é referência para pacientes com hanseníase

O Centro Maria Imaculada (CMI), com sede localizada no bairro Real Copagre, zona Norte de Teresina, foi fundado no ano de 1992 e é um serviço executado pela Ação Social Arquidiocesana (ASA). Os assistidos, assim como Paulo Araújo, recebem atendimento voltados para o diagnóstico, prevenção e cura, assim como o acompanhamento fisioterapêutico.

Os dados divulgados pela coordenação do Centro Maria Imaculada apontaram que em cinco meses, a unidade já realizou 8.054 atendimentos. Em 2023, esse número chegou a um total de 23.590.

Stephanie Santos, coordenadora do Centro Maria Imaculada - (Márcia Gabriele / O Dia) Márcia Gabriele / O Dia
Stephanie Santos, coordenadora do Centro Maria Imaculada

De acordo com Stephanie Santos, coordenadora do CMI, o serviço realiza em média cerca de 1.700 a 2 mil atendimentos por mês.

“O Centro Maria Imaculada é referência no atendimento de pessoas acometidas pela hanseníase. Nós temos uma equipe multidisciplinar, com psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistentes sociais e farmacêutico, para oferecer esse atendimento integral para o tratamento adequado", garante.

Para Stephanie Santos, uma das metas é ampliar o número de parceiros, para que possa ser ampliado direitos aos pacientes, que enfrentam muitos preconceitos no meio social.

“Muitas vezes, por conta da hanseníase, a situação de vulnerabilidade deste paciente é agravada. Eles acabam precisando de assistência médica, terapêutica e até mesmo financeira, principalmente, devido ao estigma da hanseníase na sociedade, que impede o acesso a diversos direitos", afirma.

Oficina Ortopédica no Centro Maria Imaculada  - (Crédito: Márcia Gabriele ) Crédito: Márcia Gabriele
Oficina Ortopédica no Centro Maria Imaculada

Oficina Ortopédica

José Oliveira, técnico em órteses, atua no Centro Maria Imaculada há mais de 30 anos e calcula que por mês, são produzidas em média 45 órteses de forma gratuita aos pacientes atendidos pela unidade.

José Oliveira, técnico em órteses do CMI - (Divulgação: CMI) Divulgação: CMI
José Oliveira, técnico em órteses do CMI

“As órteses são adaptações para pacientes com sequelas da hanseníase, que são palmilhas, palmilhas adaptadas, talas para mãos e dedos, férula para pé caído. Todas essas peças são doadas aos nossos pacientes, para que possam atender as necessidades de cada um deles”, fala José Oliveira, que informa sobre a aquisição da matéria prima da oficina ser de origem de doação das ONGs parceiras.


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