O prefeito de Teresina, Dr. Pessoa, publicou, na edição desta quinta-feira (19) do Diário Oficial do Município (DOM), a lei que declara a Orquestra Sinfônica de Teresina como patrimônio cultural de natureza imaterial do município. A lei, de autoria dos vereadores Neto do Angelim, Aluísio Sampaio e Markim Costa, entra em vigor a partir da data da sua publicação.
Pelas redes sociais, os músicos da orquestra comemoraram a publicação da lei. “ Isso reforça a importância da nossa orquestra como um dos maiores símbolos culturais de Teresina. Essa conquista reconhece o papel essencial da Orquestra na formação de músicos, democratização da música erudita e no enriquecimento da vida cultural da nossa cidade. Agora, com o respaldo legal, seguimos ainda mais fortes em nossa missão de levar música e cultura para todos!”.
A OST já havia se tornado patrimônio cultural imaterial do estado do Piauí desde o dia 15 de junho de 2022. À época, a lei foi sancionada pela então governadora Regina Sousa.
Com seus mais de 50 músicos, liderados pelo maestro Aurélio Melo, a Orquestra Sinfônica de Teresina encanta o público por onde passa, unindo o erudito ao popular e levando um pouco da cultura tradicional da música clássica para mais perto do povo. É esta a marca da Orquestra Sinfônica de Teresina (OST).
Criada em 1993, ainda como Orquestra de Câmara e sob direção do maestro Emmanuel Coelho Maciel, a orquestra veio com a pretensão inicial de ser um projeto social, preparando 25 bolsistas. Destes, mais da metade nunca havia tido qualquer contato anterior com a música. A coisa começou tímida, com violinos, violas, violoncelos e contrabaixo. Depois vieram os instrumentos de sopro e percussão. Mas até que a orquestra pudesse de fato ser chamada de sinfônica, o que fazia a trilha sonora de Teresina ainda era o improviso.
Quando assumiu a regência da OST, no início dos anos 2000 após a aposentadoria de Emmanuel Coelho, o maestro Aurélio Melo encontrou um grupo com poucos instrumentos, mas muita vontade de fazer acontecer. Os músicos, em geral, pegavam músicas eruditas e adaptavam para os instrumentos que tinham. Aurélio inverteu a ordem das coisas e decidiu trazer partituras originais para adaptar os músicos a elas.
“Chamei músicos de bandas. Não tinha oboé, eu botei um clarinete. Não tinha trompa, eu botei um bombardino de banda. Não tínhamos tímpano, eu comecei a usar os instrumentos do teclado. Começamos devagar, pegando música barroca. Depois colocamos mais pessoas e passamos de 15 para 30 músicos. Quando viram esse grupo tocando partitura começaram a imaginar que era uma orquestra, mas não era. Mas eu disse que sim, a gente podia ter orquestra aqui em Teresina. E foi isso que fizemos”, lembra Aurélio Melo.
O maestro regente da OST diz que no início tinha receio de chamar o grupo de Orquestra Sinfônica. É que o principal desafio para chegar a este patamar, segundo Aurélio, era ampliar o nível técnico e, neste caso, até Ludwig van Beethoven serviu de laboratório. O “da-da-da-tum” potente do primeiro movimento da Quinta Sinfonia, quando executado pelos músicos de Teresina, não representavam nem 50% do que a composição de fato era. Mas aí residia o incentivo.
“Eu tinha essa consciência. Está servindo de laboratório para nós. É o que temos para fazer. Não tínhamos condições de importar músicos de fora e eu brinco até hoje que a única diferença da Orquestra Sinfônica de Teresina para a Filarmônica de Berlim é que na Filarmônica de Berlim, tem músico da Inglaterra, do Japão, da Itália, dos Estados Unidos e até do Brasil. E em Teresina nós temos músicos do Mocambinho, do Promorar, do Dirceu e por aí vai”, brinca Aurélio.
Hoje, a OST já executa a Quinta de Beethoven “de peito para cima”, como descreve o maestro. Não é a evolução final, mas o caminho. Querer comparar um grupo criado há pouco mais de três décadas com uma orquestra filarmônica existente a mais de um século, como a de Berlim, é absurdo, afirma Aurélio Melo. A visão que se tem de uma orquestra são aqueles homens e mulheres vestindo trajes formais em cima de um palco executando à perfeição partituras regraticamente compostas.
A Orquestra Sinfônica de Teresina juntou as batutas do maestro e a suavidade dos violinos com o agudo potente de uma guitarra e a rapidez frenética da bateria. Foi no Piauí Pop de 2023 que a OST subiu ao palco junto do cantor Edu Falaschi para apresentar um setlist que ia do rock ao erudito. Rock e música erudita são a mesma coisa, em realidade.
“Eu não tinha noção de que um metal é totalmente erudito. Aprendi com os meninos do rock. Você tem que fazer isso, que procurar pessoas jovens, conversar com elas senão você envelhece. Hoje eu vejo uma música de metal como fizemos com o Edu Falaschi e aquilo para mim é Beethoven. Aquelas guitarras são Beethoven”, explica Aurélio Melo.
Foi da junção do rock com a música erudita que nasceu o projeto Rock Sinfônico. Inspirado em exemplos de sucesso mundo afora (Kiss e Orquestra de Melbourne, Metallica e Orquestra Sinfônica de São Francisco, Scorpions e Filarmônica de Berlim), a iniciativa mistura o erudito com o popular. A primeira apresentação foi em 2011 ao lado da banda Cojobas e deu um resultado que superou o tempo do show: aproximou o teresinense da orquestra. Esta se tornou a marca registrada da OST.
“Tem muito músico erudito que não se mistura. Eu ouvi uma vez uma música de Luiz Gonzaga orquestrada e aquilo era tudo menos Gonzaga. Era muito sofisticado. Quando eu fiz Luiz Gonzaga na Cantata Gonzaguiana com o João Cláudio, não tinha diferença da obra original para nossa adaptação. Nós queremos fazer música erudita com a essência com a qual ela foi construída, mas misturando os ritmos para torná-la mais acessível”.
Foi assim com o concerto “Na Sinfonia do Samba”, no concerto “Paisagens Brasileiras”, e recentemente com o projeto Sinfonia Anime. A OST também conta com o Concerto para Crianças, Concertos pelo Piauí, Concertos Natalinos, Concertos Matinais, Sinfonia nos Bairros e a OST nas Escolas. Aurélio define o trabalho como “humildade e esperteza”.
“As pessoas amam nossa orquestra, justamente porque tivemos esse carinho e essa humildade, a esperteza de construir um trabalho baseado na nossa realidade e na efervescência cultural da cidade. Isso é a OST”, finaliza o maestro.
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