A música gospel “O evangelho de fariseus” que tem repercutido nos últimos dias nas redes sociais têm chamado atenção de internautas. Para além da agenda tradicional de músicas cristãs, a cantora Aymeê Rocha retrata em sua canção um grave problema: a exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó, no Pará.
A música que ficou conhecida nacionalmente após a apresentação da cantora no reality show Dom Reality menciona críticas à comunidade cristã do Brasil com alegações de hipocrisia por parte de líderes religiosos que, segundo a artista, se distanciam dos ensinamentos de Jesus Cristo, se direcionando ao individualismo e priorizando interesses pessoais. Seguindo uma análise negativa desse cenário religioso, a canção reivindica da igreja brasileira mais atuação na justiça social e faz referência às crianças que são abusadas sexualmente na Ilha de Marajó.
Confira a letra na íntegra:
Fazemos campanhas pra nós mesmos
Eventos pra nós mesmos
Estocamos o Maná para nós
Oramos por nós e pelos nossos
O reino virou negócio
O dízimos importa mais do que os corações
Enquanto Ele tá querendo quem nós nem pensamos ou nos preocupamos
Oramos errados há séculos
Dias, horas e anos
Nós afastamos
Ah, um evangelho de Fariseus
Cada um escolhe os seus
E se inflamam na bolha do sistema
Ah, enquanto isso no Marajó
O João desapareceu
Esperando os ceifeiros da grande Seara
A Amazônia queima
Uma criança morre
Os animais se vão
Superaquecidos pelo ego dos irmãos
Um Evangelho de Fariseus
Estamos apodrecendo o corpo de Cristo
O sangue não tá circulando
O sangue está coagulando
Estamos no ápice da nova Era
E a falsa noiva se rebela
Contra o noivo que espera ver um caráter cristão
Um evangelho de Fariseus
Um evangelho de Fariseus
Um evangelho de Fariseus
Entenda a acusação de exploração sexual
Apesar de recentemente ter ressurgido à tona, as denúncias de pedofilia e exploração sexual infantil na Ilha do Marajó não são um fenômeno novo. Em 2006, uma investigação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados havia sido iniciada sobre o assunto. Documentos da época revelaram o envolvimento de políticos locais nos casos, com intermediários levando meninas para serem exploradas na prostituição em Belém e, posteriormente, na Guiana Francesa.
Em 8 de outubro de 2022, a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, mencionou o tema durante um culto evangélico. Contudo, sem apresentar evidências concretas, ela afirmou que crianças na região teriam dentes removidos para facilitar abusos sexuais.
Autoridades do Pará, incluindo o Ministério Público, demandaram provas dessas alegações, mas estas não foram fornecidas. Posteriormente, 19 procuradores da República solicitaram uma ação civil pública contra Damares.
No presente momento, a Ilha do Marajó está sendo assistida pelo Programa Cidadania Marajó, uma iniciativa promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. O objetivo principal deste programa é enfrentar e prevenir a exploração e o abuso sexual de crianças e adolescentes na região.
A música divide opiniões da igreja
Nos últimos dias, muitos cristãos utilizam das redes sociais para debaterem acerca da música. Enquanto muitos fiéis aplaudem a coragem da cantora para falar sobre um assunto tão delicado e confrontar a igreja, outros acreditam que expor a igreja protestante do Brasil dessa forma é equivocado. Morisjance de Sousa, pastor protestante da igreja Batista explica que o argumento utilizado na música não abrange a todos os cristãos.