Empresas brasileiras descobriram onde investir em meio à crise política e à instabilidade econômica: em qualquer lugar, menos no Brasil.
Nos últimos dois meses, a WEG, com sede em Jaraguá do Sul (SC), abriu sua terceira fábrica na China, aumentou a capacidade no México e anunciou a aquisição de uma fabricante de motores elétricos em Indiana, nos EUA.
As crises política e econômica do Brasil são as principais razões da relutância das empresas em investir domesticamente. Em uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas com 670 empresas, 81% dos participantes disseram que o ambiente político era a principal influência negativa sobre as decisões, seguido pelo ambiente macroeconômico, com 71%.
A demanda externa foi percebida como a maior influência positiva, com 32%.
Enquanto a receita da empresa de produtos de beleza Natura Cosméticos fora do Brasil aumentou 42% no primeiro trimestre, as vendas domésticas caíram quase 10%. O CEO Roberto Oliveira de Lima atribuiu a culpa à piora do cenário político e à carga tributária.
A Natura, com sede em São Paulo, está se concentrando por enquanto na expansão internacional, disse Lima no mês passado em uma teleconferência com investidores.
A empresa está conquistando participação no mercado de outros países latino-americanos e iniciando uma operação online na França, através da qual também poderá vender para clientes em outros países da Europa.
"No Brasil, esse ano vai ser para a gente focar nos processos estruturais, para que, quando o país recuperar seu crescimento, estejamos bem posicionados para competir", disse ele.
Dólar atrapalha
Uma grande limitação para as empresas que buscam investir fora do país é a queda de 43% do real frente ao dólar nos últimos três anos, incluindo a recuperação de 11% no ano até agora.
Isso significa que elas precisam gastar mais para crescer no exterior. Por outro lado, lucram mais quando repatriam a receita externa, obtida em moedas mais fortes.
As empresas brasileiras na realidade estão reduzindo os investimentos em geral. Das companhias consultadas pela FGV, 44% disseram que pretendem investir menos durante os próximos 12 meses, o nível mais baixo de intenção de investimentos desde pelo menos 2012.
No primeiro trimestre do ano passado, cerca de 28% disseram que estavam diminuindo os investimentos.
Esperanças com governo Temer
Há sinais, no entanto, de que as perspectivas empresariais podem estar mudando com o novo governo interino. A confiança industrial deu o maior salto neste mês, quando o vice-presidente Michel Temer assumiu temporariamente a presidência, desde que o indicador começou a ser monitorado, em 2010.
A alta foi de 36,8 em abril para 41,3 em maio, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria.
Arte: Stock/TeamOktopus
Fonte: Uol