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Espécie de crocodilo de 85 mi de anos é batizado de 'caipira mineiro'

Os detalhes anatômicos do fóssil, oriundo da Fazenda Três Antas, no município de Campina Verde (MG), deixam claro que ele era muito diferente dos crocodilos modernos.

14/09/2018 14:04

Um esqueleto de 85 milhões de anos, preservado de modo quase perfeito em rochas do interior de Minas Gerais, corresponde a uma nova espécie de crocodilo pré-histórico, afirmam pesquisadores. Batizado de Caipirasuchus mineirus, o réptil de apenas 70 cm foi apresentado ao público nesta sexta (14).

Os detalhes anatômicos do fóssil, oriundo da Fazenda Três Antas, no município de Campina Verde (MG), deixam claro que ele era muito diferente dos crocodilos modernos. Para começar, era um bicho 100% terrestre -trata-se, na verdade, de uma característica comum da rica fauna desse grupo durante a Era dos Dinossauros.

Além disso, os diferentes formatos de seus dentes, o padrão de desgaste em alguns deles e a maneira como sua mandíbula se articulava indicam que ele deve ter incluído quantidades consideráveis de vegetais em sua dieta, algo impensável para jacarés e crocodilos de hoje.

Para completar o rol de esquisitices, suas patas traseiras eram bem maiores que as dianteiras. "A gente poderia pensar numa postura similar ao dos suricatos", compara um dos responsáveis pela descoberta, o paleontólogo Thiago Marinho, referindo-se aos pequenos mamíferos africanos que se tornaram conhecidos graças ao personagem Timão, de "O Rei Leão".

Os suricatos às vezes assumem a postura ereta, e talvez os membros do C. mineirus lhe permitissem fazê-lo também. 

Marinho, que trabalha no Centro de Pesquisas Paleontológicas L.I. Price, da UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), assina a descrição formal da nova espécie em artigo na revista científica de acesso livre PeerJ.

O trabalho foi coordenado por Agustín Martinelli, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, e conta ainda com a participação de Luiz Carlos Borges Ribeiro, também da UFTM, e Fabiano Iori, do Museu de Paleontologia Professor Antonio Celso de Arruda Campos (Monte Alto, interior paulista).

O nome latino mineirus é quase autoexplicativo: embora já fossem conhecidas três espécies do gênero extinto Caipirasuchus, todas achadas em rochas do interior de São Paulo, esta é a primeira vez que um animal do grupo aparece do lado mineiro da fronteira interestadual.

Portanto, as quatro espécies são bichos com parentesco relativamente próximo entre si, embora uma série de detalhes anatômicos tenha sido suficiente para propor que o C. mineirus deveria ser classificado como uma espécie à parte.

Os pesquisadores ainda estão tentando entender como e por que essa diversidade dentro do gênero se estabeleceu. É possível que houvesse algum tipo de barreira entre as populações, levando-as a seguir caminhos evolutivos ligeiramente distintos durante mais ou menos a mesma época. Ou então, se houver diferença significativa de idade entre os espécimes paulistas e mineiros, pode ser que os paleontólogos estejam vendo o processo de diferenciação do grupo ao longo de alguns milhões de anos. Para saber qual possibilidade é a mais provável, é preciso avançar nos estudos sobre a idade geológica das camadas de rocha em São Paulo e Minas. 

Alguns detalhes do esqueleto, como a falta de fusão entre determinados ossos, indicam que se tratava de um indivíduo que ainda não chegara à idade adulta, embora já estivesse quase com o tamanho "final" da espécie, segundo Marinho. Mais descobertas devem vir da região de Campina Verde: desde 2009, o grupo já achou por lá vários exemplares de outro crocodilo extinto, o Campinasuchus dinizi, ovos (de crocodilo), dentes e ossos de dinossauros carnívoros e diversos fósseis de peixes.

O grau de preservação do C. mineirus, mesmo em meio a uma colheita tão rica quanto essa, chama a atenção. "A gente tem o esqueleto da ponta do focinho à ponta da cauda. Certamente está no 'top 3' dos mais preservados entre os crocodilos fósseis do Brasil", estima Marinho. 

Fonte: Folhapress
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