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Bumba Meu Boi, tradição, amor à arte e muita persistência

Sinônimo de tradição e persistência, o Bumba Meu Boi é o folguedo mais representativo da cultura piauiense.

30/06/2019 10:06

Na data em que é comemorado o Dia Nacional do Bumba-Meu-Boi, 30 de junho, muitos brincantes ressaltam que somente a perseverança e o amor à arte têm mantido viva essa manifestação popular, em razão da falta de apoio do poder público. Embora, demonstrando certa tristeza, esses grupos se espelham na herança familiar: o show precisa continuar mesmo fraquejando aqui e ali.

“Eu acredito que o Bumba Meu Boi ainda existe aqui no Piauí, graças à nota luta em manter viva essa tradição, ao mesmo tempo em que honramos nossos familiares que nos deixaram essa cultura para levarmos adiante, independente de qualquer coisa”, observa Elvis Miranda, que dirige o grupo “Riso da Floresta”, acrescentando que falta respeito à cultura popular do Estado, por parte daqueles que ocupam cargos que deveriam priorizar essa manifestação que vem do seio do povo.

Do mesmo pensamento comunga Francisco das Chagas Morais, que dirige o grupo Dominante da Ilha: “Olha, é preciso que as autoridades competentes vejam a cultura popular com outros olhos, porque do contrário a tendência é ela desaparecer, como vem ocorrendo com muitos grupos de manifestações culturais. No Maranhão há um respeito muito grande pelo Bumba Meu Boi, mas aqui a tendência é se acabar”, explica Francisco. Para ele, somente haverá um crescimento dos grupos, se o poder público participar ativamente da preservação desse folguedo.

O primeiro registro da festa apareceu em 1840, num pequeno jornal de Recife chamado O Carapuceiro, mas sua origem é certamente mais antiga. Alguns historiadores associam seu nascimento à expansão, no Nordeste, do chamado Ciclo do Gado – quando, a partir do século XVII, o animal ganhou grande importância nas fazendas da região. Apesar de o Bumba Meu Boi ser uma manifestação típica do folclore brasileiro, ele lembra um pouco os autos medievais – encenações simples, com linguagem popular e, em geral, falando da luta do bem contra o mal.

Para os especialistas no assunto, o boi é um dos folguedos (festa popular) mais representativos da cultura brasileira, reunindo traços de três grandes ramos da formação do nosso povo: europeu, indígena e afro-negro. A apresentação mostra as relações desiguais entre senhores de engenho, escravos e indígenas, numa sutil crítica social. Geralmente, as apresentações ocorrem no mês de junho, quando das festas de Santo Antônio, São João e de São Pedro.

Embora haja enredos diferentes, dependendo da região, já que o Bumba Meu Boi se espalhou por todo o Brasil, uma das histórias mais populares dá conta de que um casal de escravos enfrenta a fúria de um senhor de engenho após matar um boi da fazenda. Desesperados, os dois tentam de tudo para ressuscitar o bicho. As pessoas que assistem e dançam durante a exibição do grupo folclórico, que pode durar horas, são chamadas de brincantes e também dão um tom religioso à festa, pois agradecem graças alcançadas e fazem promessas ao boi. O curioso é que a palavra bumba exprime o suposto som de uma pancada do chifre do boi. Assim, Bumba Meu Boi significaria algo como “Chifra, meu boi!”

Personagens centrais da festa

O boi

Figura mitológica nas mais diversas culturas, o boi era visto por escravos negros e indígenas como companheiro de trabalho, símbolo de força e resistência. É por isso que toda a encenação gira em torno dele. A pessoa que veste a fantasia do animal é chamada de miolo e seus trajes variam bastante de uma festa para outra. Alguns abusam de paetês, miçangas e lantejoulas. Outros preferem bordados com menos brilho e mais cores.

Vaqueiro

Ao lado de caboclos, índios e seres fantásticos como o caipora (figura da mitologia tupi), o vaqueiro é um dos personagens coadjuvantes do Bumba Meu Boi, mas consegue impressionar pelo figurino, principalmente o chapéu, sempre enfeitado com longas fitas. No enredo, ele é quem avisa o dono da fazenda da morte do precioso boi.

Dono da fazenda

Também chamado de amo ou patrão, é o senhor de engenho que, proprietário do boi morto, jura vingança contra o casal Catirina e Nego Chico e exige que o animal seja ressuscitado. Em geral, a pessoa que faz esse papel também é responsável pela organização do grupo folclórico.

Os músicos

O auto do Bumba Meu Boi sempre é acompanhado por uma banda musical. Vários ritmos e instrumentos são utilizados: só no Maranhão há mais de cem grupos folclóricos. Em alguns estilos (ou sotaques, como dizem os maranhenses), dá para ouvir até banjos e saxofones. Os instrumentos mais comuns, porém, são os de percussão: tambores, pandeirões, matracas (dois pedaços de madeira batidos um contra o outro), maracás (uma espécie de chocalho) e tambor-onça (tipo de cuíca rústica, de som gravíssimo).

Nego Chico e Catirina

Depois do boi, são os personagens principais do auto. Representam um casal de escravos, ou de trabalhadores rurais (dependendo do tipo de enredo escolhido). Grávida, Catirina sente uma grande vontade de comer a língua do boi mais precioso da fazenda em que trabalha. Com medo que seu filho nasça com a cara da língua do animal se o desejo não for atendido, Nego Chico (ou pai Francisco) mata o bicho para satisfazer a mulher. A personagem dela costuma ser interpretada por um homem vestido de mulher, mas já em muitos grupos a Catirina é interpretada por uma mulher.

Por: Marco Antônio Vilarinho
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