Portal O Dia

Temperatura global registra aumento de 2 ºC pela primeira vez desde a era pré-industrial

Os sinais alarmantes das mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes. Em 2023, o aquecimento global desencadeou uma série intensificada de ondas de calor, secas e eventos extremos, exigindo ações urgentes. Dados recentes do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus alertam que este ano pode ser o mais quente registrado nos últimos 120 anos.

No último dia 17 de novembro, testemunhamos a primeira vez em que a temperatura global ultrapassou 2 ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Esse aumento de calor é atribuído ao fenômeno El Niño, que aquece as águas do leste do Oceano Pacífico, combinado com as emissões de gases de efeito estufa resultantes de atividades humanas, como desmatamento, queimadas e uso de combustíveis fósseis.

Fernando Frazão/Agência Brasil
2023 pode ser o mais quente registrado nos últimos 125 mil anos

“Essa informação acende mais um alerta vermelho, indicando uma subida significativa da temperatura global, sendo que a última maior registrada foi entre os anos de 1991 a 2020, que foi apenas de 1,17 graus. E este ano, segundo agências climáticas de vários países, será o ano mais quente registrado na história da temperatura global. Isso acende o cuidado e atenção sobre as mudanças climáticas”, explica o professor e pesquisador Rafael J. Marques, doutorando em geografia física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Para Marques, é imperativo que as políticas públicas e ambientais se tornem mais claras e coesas para mitigar os impactos negativos do aquecimento global. “As atividades humanas potencializam a mudança climática. Precisamos de uma resposta ágil para prevenção e mitigação desses problemas, pois este é um alerta gravíssimo que exige ações urgentes”, enfatiza.

Reprodução
Gráfico mostra tendência de crescimento da temperatura global em 2023

Os dados recentes indicam uma tendência alarmante no cenário global, com aumentos de temperaturas e eventos extremos das mudanças climáticas tornando-se cada vez mais recorrentes e acelerados. 

Isso é muito preocupante. Há 50 anos não se tinha um curto espaço de tempo entre esses eventos como tem sido nos últimos anos. É uma tendência global presente em todos os hemisférios. Aqui no Brasil, muitas cidades não têm uma atenção específica para estruturas de mitigação, muito menos para prevenção desses eventos climáticos extremos”.

Rafael J. MarquesPesquisador

Vale ressaltar que os esforços atualmente empreendidos para reduzir o aquecimento global ainda não são suficientes. A Organização das Nações Unidas (ONU) revela que existe apenas uma probabilidade de 14% de limitar esse fenômeno, conforme indicado em seu último relatório antes da 28ª edição da COP, em Dubai.

Adicionalmente, outro relatório destaca um aumento recorde de 1,2% nas emissões globais de gases de efeito estufa, evidenciando a urgência de ações efetivas para reverter essa trajetória preocupante.

ONU alerta sobre risco de aquecimento global chegar a quase 3ºC

O aumento expressivo das temperaturas em diversas regiões do globo pode intensificar ainda mais, alcançando quase 3 graus Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais. Segundo o Relatório Anual de Lacuna de Emissões 2023, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), as metas estabelecidas no Acordo de Paris tornam-se progressivamente mais desafiadoras de serem atingidas.

Para cumprir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, conforme estipulado no Acordo de Paris, seria imperativo reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 42% até 2030. No entanto, uma redução de apenas 28% levaria ao aquecimento global de 2 ºC.

Jailson Soares/ODIA
Aquecimento global é causado pelas ações humanas e industriais

Os dados divulgados nesta segunda-feira (20) revelam um cenário alarmante: em vez de decrescer, as emissões globais aumentaram 1,2% entre 2021 e 2022, atingindo um recorde de 57,4 gigatoneladas de Dióxido de Carbono. Cada gigatonelada corresponde a 1 bilhão de toneladas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que, até outubro de 2023, foram registrados 86 dias com temperaturas 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Além disso, setembro foi marcado como o mês mais quente já documentado, apresentando temperaturas médias globais 1,8°C superiores aos níveis pré-industriais.

Quais são as consequências do aquecimento global?

O aquecimento global desencadeia uma série de consequências, incluindo o aumento do nível do mar devido à fusão das calotas polares, eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, como furacões, enchentes e secas prolongadas. Há impactos na biodiversidade, com extinção de espécies devido a mudanças rápidas nos habitats. 

A acidificação dos oceanos, resultante do aumento das concentrações de dióxido de carbono, também ameaça ecossistemas marinhos. Além disso, outras consequências são: