Ruas, alamedas, avenidas, vilas, bairros, conjuntos, residenciais.... São várias as nomenclaturas que formam o cenário urbano de uma cidade e não raro eles causam confusão em quem tenta se situar em grandes centros metropolitanos. Com seus mais de 850 mil habitantes, Teresina, que é a primeira capital planejada do Brasil e completa 172 anos nesta sexta-feira (16), possui 123 bairros oficialmente reconhecidos e uma porção de vilas contornando seu perímetro urbano.
Mas o que chama a atenção é que nem todo local que os teresinenses reconhecem como bairro é de fato um bairro. Talvez você não more onde pensou que morava. Talvez você pense que sua casa está localizada em um residencial quando, na verdade, ela faz parte do prolongamento de outro conjunto. Talvez seu bairro não seja oficialmente reconhecido ou tenha nome de um empreendimento comercial que deu origem à aglomeração urbana.
Afinal, quem mora no Dirceu, mora também no Itararé? E quem mora no Itararé, mora no Renascença? Grande Santa Maria e Santa Maria da Codipi são a mesma coisa? Codipi é de fato o nome de uma santa? Centro é um bairro ou uma zona da cidade? Por que a zona Leste é considerada zona nobre? Estes são só alguns exemplos de perguntas óbvias que quase nenhum teresinense se faz, porque nomes de bairros são convenções e quem batiza é a própria população. Se o povo chama assim, então assim tem que ser.
Mas aí vêm polêmicas ainda maiores: ao contrário do que se pensa, a Vila Irmã Dulce não é bairro, e o bairro Mocambinho não é o maior de Teresina. E quem disse isso? A própria Prefeitura, que é o órgão responsável por delimitar os espaços urbanos da cidade e reconhecer oficialmente os logradouros. O povo nomeia, mas quem oficializa é o poder público.
Teresina tem uma lei de bairros: é a lei nº 4.423, de 16 de julho de 2013, que fixa as denominações e delimita os perímetros dos bairros da capital. Pelo texto, a cidade possui 123 bairros devidamente identificados no mapa oficial do perímetro urbano. No entanto, a cidade cresceu bastante nos últimos 11 anos e Teresina carece de uma atualização na sua legislação.
Quem afirma isso é o secretário municipal de Planejamento Urbano, Carlos Afonso. “Conforme a cidade cresce, acrescenta-se também novas áreas. É preciso, por questões de organização territorial, culturais e administrativas, que aquela área, em sendo muito grande, seja dividida em parcelas menores a que a gente chama de bairros. Nós oficializamos isso em 1988. Antes disso, não havia em Teresina bairros oficiais. E quando as pessoas chamam uma área por determinado nome, a realidade geográfica se modifica. Para uns o limite é aqui, para outros o limite é lá. No achismo, a gente acaba errando”, explica Carlos Afonso.
Mas o que delimita um bairro? A resposta para esta pergunta é simples: uma rua. Do lado de cá, é bairro X. Do lado de lá, bairro Y. Dentro dos bairros há os conjuntos residenciais e as vilas, mas nem todo bairro possui conjuntos e vilas. O bairro Saci, na zona Sul, por exemplo, é Saci e só. Mas há regiões em que a área territorial é tão grande e povoada, que congregam vários residenciais e conjuntos habitacionais.
O maior exemplo é o bairro Itararé, que abrange os conjuntos Dirceu I e II e diversas vilas ao redor. A denominação com números não é falta de criatividade, segundo explica o secretário da Seplur. É só que os conjuntos foram construídos e entregues à população em épocas diferentes. A primeira leva de casas recebe o algarismo romano I e a segunda leva, o II.
“Se tivesse mais quatro levas de casas no conjunto Dirceu, Teresina provavelmente teria Dirceu III, Dirceu IV e por aí vai. Do mesmo jeito é o bairro Mocambinho. Temos o Mocambinho I, que foi o primeiro bairro entregue; o Mocambinho II, que foi o segundo, e daí em diante. O mesmo se aplica para o Parque Brasil I e II e qualquer outro bairro com numeração em seu nome. Em geral, são bairros planejados, ou seja, que foram construídos por etapas ou ocupados de forma ordenada”, diz Carlos Afonso.
Mas nem todo o crescimento da capital foi planejado e a prova está na quantidade de vilas e conjuntos habitacionais novos nas regiões periféricas. Teresina tem crescido bastante em direção à zona Leste e há “espaços em branco” que ainda demandam um reconhecimento oficial do poder público. Por exemplo, a região do Condomínio Aldebaran, que no momento está em um prolongamento do Árvores Verdes e que deve ser acrescentado a este bairro.
Os dados da Secretaria de Planejamento Urbano revelam algumas curiosidades sobre os bairros de Teresina. Por exemplo, o maior bairro em extensão territorial é o Angelim, mas, apesar disso, ainda é pouco povoado em comparação com outros locais da cidade, o que o torna um dos menos densos. Em termos de densidade populacional, os bairros mais povoados são o Itararé, o Mocambinho e a Santa Maria da Codipi. Estes são locais que possuem grande ocupação habitacional em uma área menor. O bairro menos povoado de Teresina é o Zoobotânico, em razão da quantidade de área verde preservada que possui, o que impossibilita a construção de áreas residenciais.
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A Vila Irmã Dulce não é um bairro, ao contrário do que muitos pensam. Apesar de sua extensão e intenso povoamento, a Irmã Dulce é uma vila dentro da área do bairro Promorar, então quem mora lá, mora, na verdade, no Promorar. É o nome deste bairro que aparece nos contratos imobiliários de quem vive na Vila Irmã Dulce.
Dirceu I e Dirceu II são conjuntos habitacionais construídos dentro do bairro Itararé, portanto não são bairros. O mesmo acontece com os conjuntos Bela Vista I, Bela Vista II, Bela Vista III, Planalto Bela Vista, Novo Bela Vista e Loteamento Bela Vista. Todos eles fazem parte de um bairro chamado Bela Vista. O Centro é sim um bairro da Capital, e Teresina tem duas Vilas São Francisco: uma na zona Norte, região do Mocambinho, e uma na zona Sul. Só a da zona Norte é reconhecida oficialmente como bairro.
De extremo Norte a extremo Sul, os bairros que delimitam o perímetro urbano de Teresina são Chapadinha, ao Norte (após a Santa Maria) e Angélica e Pedra Miúda, ao Sul (após o Esplanada e Portal da Alegria).
Eu moro na Sociedade Anônima Concreto Industrializado. E você?
O que faz de um bairro um bairro é a delimitação territorial, o reconhecimento por lei e um nome. Quem batiza os bairros de Teresina é a própria população levando em conta convenções que traduzem um pouco daquele lugar. Pelos nomes dos logradouros, é possível conhecer bastante da história da nossa capital, de seu povo e da conformação do espaço urbano.
Nome de pessoas, de fazendas, nomes de empreendimentos comerciais e até expressões populares que não fazem muito sentido para quem é de fora de Teresina, mas que são a verbalização da essência do teresinense. Assim são nomeados os bairros da capital piauiense. Por exemplo, o bairro Memorare, na zona Norte, recebeu este nome porque cresceu no entorno do Convento Memorare, uma casa provincial que existia naquela região.
O bairro Vale Quem Tem se formou no entorno de uma fazenda da família Prado e que era chamada por seus proprietários de “Vale Quem Tem Vergonha”. Quando ela foi loteada, o loteamento recebeu o nome de Vale Quem Tem. O “Vergonha” foi subtraído para facilitar a nomenclatura e evitar expressões de cunho pejorativo com a região.
E por falar em expressões pejorativas, há bairros em Teresina que tiveram seus nomes mudados porque continham palavras ofensivas. O São João, por exemplo, antes de receber nome de santo por conta de sua casa paroquial, se chamava Macacau. E o Morro do Urubu, que foi renomeado para Morro da Esperança na década de 60, por sugestão de Dom Avelar Brandão Vilela.
Na zona Sul, o bairro Saci recebe este nome por causa do empreendimento que existia naquela área. Tratava-se da fábrica de cimentos Sociedade Anônima Concreto Industrializado, representada pela sigla S.A.C.I. Quando foi erguido pela extinta Cohab nas décadas de 60 e 70, o conjunto acabou recebendo o nome de Saci. Também na zona Sul, o Promorar era “Pra eu morar”, expressão comumente usada por quem construía suas casas lá.
O bairro Por Enquanto tem este nome por conta de sua localização próximo ao local de passagem do Rio Poti. Dependendo do nível do rio, tinha como passar a pé por lá ou não. Era comum falarem “Por enquanto dá para passar. Por enquanto, não dá”. A expressão acabou entrando no vocabulário de quem morava na região, que falava “É lá perto daquele Por Enquanto” ou “É lá no Por Enquanto”. O nome pegou e ficou.
Subindo para a zona Norte, outro bairro que recebe seu nome por causa de um empreendimento. Este, no entanto, sequer chegou a ser construído. Trata-se da Santa Maria da Codipi. Codipi não é uma santa, mas se refere à Companhia Distrito Industrial do Piauí, que seria erguida naquela região pelo Governo. O poder público comprou o lote, mas nunca o ocupou. Em lugar disso, os teresinenses tomaram conta e foram construindo suas casas. Para se diferenciar do bairro ao lado, o Santa Maria das Vassouras, os moradores o chamaram de Santa Maria da Codipi, que acabou englobando o Vassouras pouco depois.
E o próprio Santa Maria das Vassouras tinha este nome por causa da Cerâmica Vassouras, que funcionava no local.
Confira abaixo a explicação para a origem dos nomes de alguns bairros de Teresina
Bairros com nomes de expressões populares:
- Bela Vista: recebe este nome por causa do relevo alto em alguns pontos que permitia aos moradores terem “uma bela vista” da região.
- Ilhotas – recebe este nome por se localizar próximo às ilhotas de pedras fósseis do Rio Poti
- Itaperu – diz a cultura popular que no local onde o bairro cresceu foi construído um cruzeiro por um rezador para espantar a assombração de um peru que assustava os moradores todas as noites. O cruzeiro foi erguido sobre uma pedra que ficou conhecida como “pedra do peru”. Em tupi, “Itaperu”.
- Itararé – em Tupi significa “curso do rio através das rochas” e dava nome à fazenda de Pedro de Almeida Freitas, que existia na região.
- Macaúba – o local tinha grande concentração de árvores de macaúba.
- Matinha – o local teve sua vegetação cortada para abertura de uma estrada para o Matadouro. O espaço ficou conhecido como “Matinha” por conta da baixa arborização.
- Noivos – local onde os noivos de Teresina se reuniam para celebrar seus casamentos.
- Pedra Mole: os moradores que construíam suas casas ali usavam materiais de construção descartados por outros empreendimentos. As pedras que eles usavam eram chamadas de pedras moles.
- Piçarra – na área havia grande concentração de piçarra, usada no revestimento de pavimento de estradas.
- Piçarreira – no local havia uma jazia de piçarra, daí o nome.
- Por Enquanto – os moradores deram este nome em razão da proximidade com a passagem do Rio Poti, que às vezes permitia a passagem a pé e às vezes, não. “Por enquanto dá para passar, por enquanto, não”.
- Promorar – os moradores que erguiam suas casas naquele local diziam que os imóveis eram “Pra eu morar”.
- Santa Maria da Codipi: bairro criado no entorno do local onde seria construída a Companhia Distrito Industrial do Piauí.
- Três Andares – os moradores deram este nome por causa do relevo da região, com ladeiras divididas em três níveis ou três andares.
- Tabuleta – no local havia uma placa de madeira (tabuleta) indicando a entrada da cidade para quem vinha do Sul do Piauí e a sede do posto fiscal.
- Vale Quem Tem – derivação do nome da fazenda de Geovane Prado, conhecida como Vale Quem Tem Vergonha. A propriedade foi loteada quando o bairro foi criado.
- Vermelha – no local havia uma fazenda de solo formado por barro vermelho. Seu dono, Laurindo Veloso, a chamava de Quinta Vermelha. Com o povoamento, o nome Vermelha foi mantido.
- Vila Operária – a área foi ocupada por operários que trabalhavam na construção da estrada de ferro.