O Instituto de Criminalística do Piauí, por meio do IML, concluiu o laudo cadavérico de João Miguel Silva, 7 anos, a criança que foi envenenada em Parnaíba e morreu no HUT no dia 28 de agosto. A substância encontrada no estômago dele era terbufós, um inseticida/pesticida que age na comunicação entre os nervos do corpo e causa uma série de alterações nas contrações musculares, no raciocínio e na cognição.
De acordo com o médico legista Antônio Nunes, diretor do Instituto de Criminalística, o terbufós é mais letal que o chumbinho, nome popular para o veneno de rato e cujo uso é considerado clandestino e irregular no Brasil. “O terbufós é pior que o chumbinho. É mais tóxico. Tem efeitos similares só que vai além. Chamamos de pesticidas para matar insetos e ratos. Ele altera todo o sistema nervoso. Onde há sinapses nervosas, ele age e atrapalha essa comunicação. O resultado é dificuldade na contração muscular, alterações no raciocínio e na cognição”, explica Antônio Nunes.
A alteração muscular causada pelo terbufós no organismo de João Miguel foi o que levou ao quadro de insuficiência respiratória que a criança teve. É que o veneno agiu dificultando a contração muscular dos pulmões e impossibilitando Miguel de respirar. Além disso, ele teve também um quadro de diarreia por conta do aumento da contração muscular dos intestinos, tontura, desorientação, tremores e convulsões.
Segundo o IML, estes sintomas são característicos de um quadro de envenenamento por terbufós. Por mais que sejam sinais comuns em outros tipos de quadros clínicos, quando aparecem em conjunto e com a intensidade que apareceram, indicam um quadro grave de intoxicação por este tipo de inseticida/pesticida.
“É um quadro clínico fechado. A criança que morreu envenenada em Parnaíba morreu porque ingeriu terbufós. No exame cadavérico foram encontrados grânulos pretos no estômago. Este estômago foi para o laboratório de toxicologia forense do IML onde ficou atestado que esta criança morreu porque tinha terbufós em seu organismo. Não há necessidade de um novo exame, só se por acaso o juiz determinar”, afirmou Antônio Nunes.
O diretor do IML comentou ainda que foi encontrada outra substância tóxica na casa de Lucélia Maria da Conceição Silva, acusada de envenenar João Miguel e o irmão. Trata-se de deltametrina, substância usada em remédios para piolhos e ácaros. Nenhum indício de deltametrina foi encontrado no corpo de Miguel.
Irmão continua internado no HUT
Ulisses Gabriel da Silva, 8 anos, irmão de João Miguel, segue internado no HUT após também ter sido vítima de envenenamento em Parnaíba. Ele e o irmão comeram um caju envenenado oferecido pela vizinha, Lucélia Maria da Conceição Silva. Ulisses chegou a apresentar melhora em seu quadro, mas em 13 de setembro voltou para a UTI.
Antônio Nunes, diretor do IML, diz que não é possível precisar se a ação do veneno no corpo de Ulisses deixará alguma sequela e “só o tempo vai poder dizer como ele vai se sair em sua recuperação”.