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O fim de um jornal impresso e o impacto no debate social

Em um mundo cada vez mais digital em que a informação se propaga à velocidade da luz e a desinformação se torna um desafio crescente, o jornalismo impresso se destaca como mantenedor da memória e fonte confiável de informação: “Verba Volant, Escripta Manent”, ou seja, as palavras voam, os escritos permanecem, já diziam os antigos Romanos.

Com tradição centenária, os jornais impressos são um registro histórico da sociedade e documentam dia a dia a vida, contribuindo para a formação crítica e consciente dos cidadãos.

Mas como tudo aquilo que atravessa o tempo, o jornalismo impresso também precisou passar por reformulações para se adaptar às novas realidades que foram surgindo. Este processo não é simples e envolve uma série de adequações e tomadas de decisões.

Jailson Soares/O Dia
O jornalismo impresso precisou ir se adaptando com o tempo e as transformações tecnológicas

Neste mês de março, o Jornal Meio Norte anunciou a sua última edição impressa após quase três décadas circulando diariamente nas maiores cidades do Piauí e parte do Maranhão. Conforme o comunicado do grupo empresarial, a migração 100% para o digital faz parte do processo de reformulação da marca Meio Norte para se adaptar às novas tendências do jornalismo.

Com o fim da versão física, o Piauí perde, em menos de uma década, seu segundo veículo impresso de ampla circulação diária. Antes do Meio Norte, em 2016, o Diário do Povo anunciou sua saída do mercado. Com 73 anos de existência, cabe agora ao Jornal O Dia, com exclusividade, manter viva a tradição do jornalismo impresso no Piauí.

Para Jacqueline Dourado, doutora em Economia Política da Comunicação e docente da UFPI, o Piauí ter, agora, um único veículo impresso implica na construção do grande debate.

“O fim de um impresso influi no furo de reportagem, na capacidade de trazer o contraponto de um outro jornal. O que estamos cheios é de notícias que não trazem um contraponto. A única maneira que um jornal impresso tem de existir é alterar seu fechamento, sua forma de apuração, ter uma apuração mais lenta e não querer ter uma velocidade de internet. O Dia, agora, tem que trazer os assuntos ainda mais apurados e com capacidade maior de leitura”.

Jacqueline DouradoJornalista, professora e doutora em Economia Política da Comunicação

Professora da disciplina Prática de Jornal do curso de Jornalismo da UFPI, a mestra em Comunicação, Aldenora Cavalcante, comenta que o Piauí perde em diversidade de informações com o fim de mais um impresso. “Um Estado do tamanho do nosso que só tem um jornal impresso diz muito sobre a cultura de consumir notícias hoje em dia. A partilha da notícia acaba afetada, as outras versões, a diversificação do debate democrático se altera e isso contribui em outra coisa: a formação do profissional da Comunicação e o mercado”.

Informações impressas duram mais que as informações digitais

No dia 20 de março de 2020, quando o mundo parou diante da pandemia de Covid-19, os jornais O Dia e Meio Norte foram para as bancas com uma capa histórica compartilhada: pensada pela equipe do Meio Norte e executada pelos diagramadores do Jornal O Dia, a edição trazia a manchete “Pare pela vida. Fique em casa”. O jornal noticiava o início do isolamento social que durou quase um ano no Piauí e construiu uma memória coletiva: a documentação da gravidade do que acontecia no mundo.

Reprodução
As capas produzidas em conjunto entre o Jornal O Dia e o Jornal Meio Norte publicada no começo da pandemia de covi

O jornalismo impresso constrói memórias e elas não se perdem tão fácil quanto no meio digital. É o que afirma Nilsângela Cardoso, pesquisadora da História da Imprensa ao pontuar que a informação impressa dura mais tempo do que as informações somente nas plataformas digitais, pois, nesta, a informação se torna efêmera e pode ser editada. No papel, não. E é isto que o Jornal O DIA tem feito nesses 73 anos: documentar a história. “Se entrou lá, está documentado e fixado na memória para ser consultado como registro oficial no futuro”, finaliza.

Jailson Soares/O Dia
O fim de um jornal impresso e o impacto no debate social

O Jornal Meio Norte não foi o primeiro a anunciar o fim de sua versão impressa. Um dos primeiros jornais impressos de grande circulação a ser fundado no país, o Jornal do Brasil, anunciou em 2010 o fim de sua versão física após 110 anos de existência material. O periódico migrou 100% para o digital e se mantém assim até hoje.

Aqui no Piauí, em 2012, o Jornal O Dia iniciou sua publicação online, mas, diferentemente de outros veículos, não acabou com sua versão impressa. Os dois meios devem seguir assim pelo bem do alcance da informação.

É o que pontua a jornalista e professora da UFPI, Juliana Teixeira. Segundo ela, o impresso não perde o seu poder no contexto da digitalização. Pelo contrário: ele se potencializa.

“Não é uma morte, mas o impresso está se reformulando, assim como aconteceu com a rádio. Hoje temos várias rádios migrando para o Podcast, temos a TV migrando para o streaming. Acho que a tendência é a migração dos meios clássicos para o ambiente digital, mas não significa que a força econômica desses meios vai morrer. Eles se adequam para se manter. O impresso tem um público cativo que prefere o papel pela experiência da leitura. Esse público deve continuar sendo contemplado pela informação e isso se dá pela manutenção das notícias documentadas, físicas”, pontua Juliana.

Jailson Soares/O Dia
“Não é uma morte, mas o impresso está se reformulando", afirma Juliana Teixeira

Assim, o jornal impresso continuará existindo junto ao digital, mudando a linguagem para se aproximar do público, mas sem perder a sua originalidade. O Jornal O DIA, então, que sempre foi o primeiro e respeitado pela credibilidade de suas informações seguirá sendo o único do Piauí.

Você pode conferir a versão online do Jornal O Dia na íntegra através do link: https://odia.presslab.com.br/.

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