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Bets: o perigo por trás dos aplicativos de apostas.

A busca pelo dinheiro fácil: apostas online já possuem mais usuários do que investidores na bolsa de valores.

17/09/2024 às 15h36

Nos últimos cinco anos, as apostas esportivas cresceram em ritmo acelerado no Brasil e já representam uma parcela significativa dos gastos das classes sociais mais baixas – o equivalente a 76% das despesas desses grupos com lazer e cultura ou 5% do que gastam com alimentação. 

Em “O impacto das apostas esportivas no consumo”, da PwC, uma preocupação é evidenciada pelos dados da pesquisa Hopes and Fears 2024, onde segundo a qual, a maioria das famílias no Brasil enfrenta dificuldades financeiras. Apenas 43% dizem conseguir pagar todas as contas e ainda ter dinheiro para investir em poupança, viagem e/ou lazer, uma melhora em relação a 2023, quando apenas 37% disseram ter sobrado dinheiro no final do mês. No entanto, esse percentual ainda é inferior ao de 2022, quando 45% afirmaram ter essa segurança financeira.

As apostas esportivas foram regulamentadas no Brasil em dezembro de 2023, com a Lei 14.790/23, que definiu regras como modelo de tributação, modelo de outorga e restrições de público. Operando no país desde 2018, o setor, segundo estimativas, movimentou entre R$ 60 e R$ 100 bilhões em 2023. Como parte desse valor passa de perdedores para ganhadores, ele volta a estar disponível na economia para os gastos das famílias. No entanto, boa parte é usada em novas apostas e fica presa dentro desse ecossistema. Além disso, a cada aposta, uma taxa (Gross Gaming Revenue – GGR) estimada em aproximadamente 12% do valor apostado fica com a casa (empresa onde foi feita a aposta).

Em uma pesquisa do Instituto Locomotiva realizada com mais de dois mil entrevistados em 142 cidades brasileiras, entre 3 e 7 de agosto. De acordo com o estudo, os brasileiros que fazem apostas esportivas em plataformas de bets são de baixa renda, estão endividados e possuem dois ou mais cartões de crédito, principal forma de pagamento das apostas online. Ou seja, uma parte significativa do dinheiro que seria usado para pagar as contas e realizar as compras de supermercado das famílias está sendo direcionado para as apostas. Não apenas isso. Também afetam a percepção da melhoria da economia brasileira, como o aumento da renda, do crescimento da ocupação e o controle inflacionário.

A pesquisa mostrou ainda que quase metade dos apostadores (46%) é formada por jovens entre 19 e 29 anos, e 34% pertencem às classes C e D. Nas classes AB, 25% são apostadores. Outro dado relevante diz respeito ao endividamento desse público: um terço dos apostadores está endividado e com o nome sujo.

 - (Poder 360) Poder 360

A 7ª edição da pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro, divulgada em 2024 pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), capturou esse cenário muito bem. O estudo mostrou que o país já possui mais apostadores do que pessoas que aplicam nos principais produtos de investimento do país. Em 2023, 14% da população (22 milhões) fez pelo menos uma aposta online. Quando perguntados sobre o entendimento do que são as bets, dois em cada dez apostadores afirmaram que elas são uma forma de “investimento financeiro”. (rs) É rir pra não chorar!

A facilidade de acesso pelo celular, aliada à intensa publicidade nas redes sociais por parte de influenciadores contratados e à falta de uma regulamentação eficaz e atenta aos danos graves que se apresentam no horizonte dos usuários que navegam por casas de apostas e cassinos online, torna o problema ainda mais grave. 

Influeniador Felipe Neto em divulgação de casa de apostas online que possui diversas denúncias de calote a seus clientes. - (Divulgação) Divulgação
Influeniador Felipe Neto em divulgação de casa de apostas online que possui diversas denúncias de calote a seus clientes.

Os truques para atrair o consumidor vão além da publicidade. Alguns cassinos e caça níqueis, por exemplo, oferecem crédito gratuito para começar a jogar. A primeira fisgada vem acompanhada de um prêmio e a promessa de ganhos maiores. Até que, em determinado momento, a pessoa começa a perder, mas vai sendo estimulada a ir adiante para recuperar o dinheiro e ter lucro. O ganho fácil vai levar a pessoa a um ambiente onde pode haver perdas significativas.

A lógica, no caso das bets, é um pouco diferente, já que elas são caracterizadas pelas apostas de quota fixa, premiando quem acerta alguma condição prevista no jogo ou o resultado de uma partida. Mas o resultado acaba sendo o mesmo, ou seja, elas podem levar ao desenvolvimento de comportamento compulsivo.

Apostar pode ser divertido, mas não é um caminho para construir um patrimônio, pelo contrário, pode levar a perdas significativas e ao comprometimento das finanças pessoais e familiares. A pessoa está jogando contra uma máquina que foi programada. Então, ela vai ganhar eventualmente, mas vai perder muito mais do que vai ganhar.

Bets são baseadas na sorte, enquanto investimentos envolvem a aplicação do dinheiro de forma planejada e estratégica, em produtos que trazem retorno ao longo prazo, de acordo com cada objetivo ou conquista desejada. NÃO EXISTE DINHEIRO FÁCIL!

Tudo isso se resume à falta de interesse público em educar os nossos jovens. É necessário que políticas públicas sejam criadas e que a grade escolar tenha urgentemente, dentre outras, a matéria Educação Financeira. Famílias estão sendo quebradas por conta de apostas esportivas. Do jogo estão indo para o álcool, do álcool para as drogas e das drogas para depressão.

Se você ou alguém que você conhece está com problemas com apostas e/ou jogos de azar, procure ajuda imediata de um profissional de saúde.

https://www.strategyand.pwc.com/br/pt/relatorios/o-impacto-das-apostas-esportivas-no-consumo.html