Em comemoração ao Dia dos Pais, celebrado neste domingo (13), o Sistema O Dia entrevistou pais, de diferentes idades, que vivenciam a paternidade afetiva. São homens que não são pais biológicos ou adotivos, mas que fazem parte da vida e fornecem todo o suporte e o carinho necessário para que os seus filhos cresçam em um ambiente seguro e acolhedor.
É o caso do comerciante Renan de Sousa, de 39 anos, que começou a cuidar do sobrinho, o pequeno Pablo Henrique, de 10 anos, quando o seu irmão e pai biológico do menino foi assassinado há cinco anos.
“Eu tinha um irmão, que infelizmente faleceu quando o Pablo tinha apenas cinco anos de idade. Acho que por ser parecido fisicamente com meu irmão, ele começou a me chamar de pai, a ter esse respeito e essa consideração, principalmente pelas coisas que ele pode compartilhar comigo”, disse.
Embora a situação parecesse desafiadora, porque logo após a morte do pai biológico a mãe da criança decidiu deixar o filho sob os cuidados da família do pai, assumir o papel paterno apresentou impactos positivos na vida dos dois. Renan passou a fornecer todo o suporte e afeto para que ambos pudessem superar a perda de uma pessoa que era tão querida por toda a família.
Além de Pablo, Renan é pai de mais duas crianças. O pequeno Ryan Victor, de 11 anos, e Brenda Kelly, de 10 anos. Segundo ele, todos estão sendo criados sem diferenças e tendo que realizar os mesmos deveres na escola e na igreja.
Para comemorar esse dia dos pais, Renan e seus três filhos vão participar de uma festa da igreja junto com os outros moradores do Parque Vitória, na zona sul de Teresina.
Ser avô é ser pai duas vezes
Algumas pessoas afirmam que ser avô é equivalente a ser pai duas vezes. Mas essa definição vai bem mais além, pois envolve, também, educar em dobro, dar amor e carinho em dobro e cuidar em dobro. E, nessa duplicidade de papéis, o amor que o agente de portaria Pedro de Sousa, um avô de 59 anos, sente pela sua neta, a pequena Betina, de apenas 9 anos, tem transformado a vida de ambos.
Desde que nasceu, Betina foi criada junto com a mãe, na casa dos avós, localizada no bairro Angelim. Uma das primeiras palavras que a pequena começou a falar, aos sete meses de idade, foi papai.
“Tenho uma relação tão boa com minha neta que ela me chama de ‘pai Pedro’. O nosso laço é tão grande que ela não nos vê como avós. Eu acho que tudo o que ela precisa ela recorre primeiramente a mim, ou então à minha esposa”, relatou.
O pai biológico da menina mora no bairro Promorar, também na zona Sul de Teresina. Mesmo com a distância, ele não deixou de fornecer todo o suporte e de participar de momentos especiais na vida da criança. “Ele é um pai que se faz presente também. Domingo mesmo o pai dela esteve aqui em casa”, continuou.
Para Pedro, o amor de um avô por um neto é maior, porque é como se fosse pai duas vezes.
Além dos jogos do Flamengo, time de coração de Pedro e da Betina, pai e filha também são engajados nas atividades da igreja. Nesse mês, a pequena passou por uma cerimônia de investidura para se tornar coroinha na igreja da comunidade.
'Paidrasto'
A relação de pai e filha construída entre o motorista Gilmar Dias, de 58 anos, e a jornalista Jéssica Sales, de 34 anos, começou quando ela tinha apenas seis anos de idade. Durante o namoro com a mãe de Jéssica, Gilmar passou a conviver diariamente, e com o firmamento da união estável, se apegou mais ainda à filha afetiva.
“Cheguei a comprar por muitos anos as chupetas e as mamadeiras dela. Jéssica é minha filha e tenho orgulho de falar que ela é jornalista. Tenho mais três filhas do meu primeiro casamento. Tenho, também, o Gabriel, que é fruto da minha união com a mãe da Jéssica. Então, para todo mundo eu digo com orgulho que tenho cinco filhos.”, comentou.
Para Gilmar, as colações de grau da filha foram alguns dos momentos mais emocionantes da sua vida e marcantes para a sua família.
Na adolescência da filha, Gilmar lembra que vez ou outra precisava tomar decisões difíceis e agir como um pai protetor quando a mãe e filha entravam em conflito. “Eu sinto que entrei ainda mais na vida delas e conquistei o meu espaço. A Jéssica, por exemplo, me chama de ‘papy e rei’. Ela nunca chamou de pai, só por essas denominações carinhosas”, lembrou.
Avô assumiu papel de pai após tragédia
Quando o pai biológico dos pequenos Pedro, de 10 anos, e Ana Rosa, de 8 anos, faleceu vítima de um acidente de trânsito, no final de 2021, o avô das crianças, o comerciante Carlos Augusto, de 49 anos, viu a sua vida ganhar um novo significado.
Seu Carlos passava a maior parte do seu tempo no município de Graça Aranha, no interior do Maranhão, pois cuidava dos negócios de família. Com a perda irreparável do pai das crianças, Carlos Augusto assumiu um papel de pai e avô simultaneamente.
A relação de afeto construída entre eles foi de extrema importância para as crianças, pois ajudou a enfrentar o luto e na adaptação à nova realidade sem o pai. Desde então, Carlos Augusto tem sido uma presença constante na vida de Pedro e Ana Rosa, oferecendo a eles um porto seguro.
"Quando aconteceu o acidente, foi um choque para todos. Mas eu sabia que precisava ser forte. Eles perderam o pai tão cedo, e eu não deixaria faltar amor e cuidado em suas vidas", compartilhou Carlos Augusto.
Nos momentos de lazer, avô e os netos interagem nas idas para a escola, para o shopping e até mesmo nas atividades do comércio deixado pelo pai das crianças, que também era comerciante. Para ele, essas atividades ajudam a criar um ambiente seguro e acolhedor para os pequenos.
Ciúme que se transformou em forte amizade
O início da relação paterna entre o professor de matemática Jardel Cardoso, de 40 anos, com a filha afetiva, a jovem Tawanne Ramylla, de 13 anos, não foi a das mais fáceis. Jardel conheceu a sua esposa no ano de 2019 após um almoço com amigos em um clube. Conforme ia conhecendo a sua companheira, o professor começou a se tornar uma figura mais presente também na vida filha, que na época tinha 9 anos de idade.
Quando Tawanne percebeu que Jardel não era apenas amigo de mãe sua, a pequena começou a demonstrar ciúmes.
“Quando fomos a um clube, a Tawanne pegou um daqueles espaguetes de piscina e bateu na minha cabeça e disse que eu não podia me sentar do lado da mãe dela. E eu disse calma mulher eu sou só amigo da tua mãe. Deixa de ciúme besta”, brincou.
Mas se cativar significa criar laços, passar a ter necessidade do outro, Jardel e Tawanne passaram a se aproximar quando passaram a desenvolver atividades em comum. Para a menina, a presença do seu padastro nas atividades da igreja era especial, porque antes ela tinha apenas a companhia da mãe e de suas avós.
“A família é importante em qualquer contexto em que você esteja inserido. Ela sempre teve a mãe, a avó e a bisavó como excelentes referências. A partir do momento em que passei a acompanhá-la no Carmelo, eu considero que passei a me tornar uma dessas pessoas especiais. Ela passou a ter mais respeito por mim, a ter mais carinho”, lembrou.
Hoje, Tawanne e Jardel realizam diversas atividades juntos. Mesmo sendo torcedora do Flamengo, a pequena consola o pai afetivo quando o São Paulo, time de coração de Jardel, perde um jogo importante.
“Quando ela conheceu minha mãe ela perguntou se podia chamá-la de vó. Então, não fui eu quem aceitei a Tawanne, foi ela quem nos aceitou. A partir daí eu passei a sentir mais necessidade de estar com ela”, continuou.
Tawanne Ramylla sempre demonstrou um enorme talento para a arte e é uma das atividades que é incentivada e desenvolvida junto ao pai afetivo. Na percepção de Jardel, a sua vida agora existe em função da sua filha e da sua esposa.
Por não ter tido um pai presente em sua vida, Jardel tenta ser para filha o que não teve na sua criação. Para ele, a sua inspiração para cuidar da menina é a sua própria mãe.
“A minha mãe me criou sozinho. Naquela época era comum esse comportamento dos pais de abandonar a família. Sei quem ele é, mas não tenho contato. Minha mãe me inspirou a ser o homem que sou hoje”, finalizou.