O salário mínimo foi criado em 1936 no governo de Getúlio Vargas. Na época, o valor definido levava em consideração quanto um trabalhador gastava. Com a Lei nº 185, o salário deveria ser capaz de atender as necessidades básicas de um trabalhador e sua família, como alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene e transporte. No entanto, apesar de o salário mínimo passar por reajustes periódicos após avaliação dos gastos da população, o valor atual, que é de R$ 1.302, não contempla todos os custos do trabalhador brasileiro.
Segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo ideal para viver bem no Brasil seria de R$ 6.571,52. O número é cinco vezes maior que o salário atual. O estudo revela ainda que cerca de 60% do salário atual é gasto com alimentação. Já os outros 40% são voltados às despesas como energia elétrica, água, vestuário e outras contas.
Dessa forma, muitos trabalhadores buscam obter uma renda extra durante o mês, a fim de que sua sobrevivência não dependa de uma remuneração que não abarca todas as necessidades. A teresinense Edna Fernanda, de 35 anos, é um exemplo: trabalhando como atendente em uma papelaria há mais de 10 anos, ela faz vendas de cosméticos e lingeries no seu tempo extra. Edna tem um filho de seis anos e conta que o salário mínimo não supre as despesas da família.
A atendente trabalha informalmente com vendas há, pelo menos, quatro anos. De acordo com ela, o valor mensal ajuda muito. “Às vezes tem um contratempo e o cliente não paga na hora, mas aí vamos suprindo com aqueles que pagam e vai dando certo”, destaca.
O advogado especialista em Economia e Finanças, Antônio Cláudio da Silva, explica que há disparidade entre a evolução salarial e a inflação. Ou seja, enquanto o custo de vida foi ficando cada vez mais elevado, o trabalhador não teve um grande aumento de remuneração. “A inflação foi subindo e o salário mínimo não acompanhou. Durante muito tempo, esse valor não teve aumento real, só tivemos aumento da inflação”, aponta.
Com o aumento da inflação, o brasileiro assalariado acaba tendo uma diminuição em seu poder de compra. Em 2022, por exemplo, muitos alimentos da cesta básica ficaram mais caros. Em média, o café teve aumento de 22%; o pão francês, 34%; a farinha de mandioca, 20%; a batata teve aumento de 54% e o arroz, 14%.
Conforme aponta o advogado, caso o salário mínimo acompanhasse o crescimento do valor dos produtos, isso causaria um efeito dominó: a geração de emprego e renda seria comprometida, bem como haveria um segundo aumento da inflação. “No Brasil, se você aumenta demais o salário mínimo, acaba comprometendo a geração de emprego. O crescimento tem que acontecer de forma gradativa por 10 anos para chegar a um valor maior. Hoje tudo está atrelado ao salário mínimo, qualquer aumento maior do que o projetado, faria com que aumentasse também os preços e, com isso, também cresceria a inflação. É o tipo de coisa que tem que crescer devagar para que não haja um impacto na geração de renda e de emprego”, afirma o especialista.
“Ter uma renda extra é essencial", diz arquiteta que trabalha com pintura nos finais de semana
Ao contrário do que muitos pensam, estar formado no ensino superior e ter um diploma não é garantia de possuir o salário ideal. Diante do aumento das despesas básicas do dia-a-dia, muitos profissionais vêem a necessidade de procurar um serviço extra que possa ajudar a complementar a renda. O famoso “trabalho freelancer” salva o rendimento de muitas pessoas no final do mês.
A arquiteta Taísa Castro, formada desde 2017 pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), trabalha em um escritório de segunda a sexta em horário comercial. Mas, é nos finais de semana que ela exerce a sua grande paixão: pinturas. A arquiteta conta que busca conciliar as duas atividades e que o valor extra ajuda a manter o equilíbrio financeiro.“Eu me formei em 2017 e desde então trabalho na área. Desde pequena tenho contato com desenhos, mas nunca havia investido nesse lado. Em 2018, uma amiga que também é arquiteta, começou a insistir para que eu pintasse quartos de bebês em projetos que ela estava trabalhando. Com isso, passei a pintar paredes de quartos, em sua maioria infantis. Eu amo fazer pintura, dedico apenas o final de semana, então para mim é muito bom, pois consigo conciliar o meu emprego formal”, detalha a arquiteta.
A arquiteta ressalta que, ao trabalhar de maneira independente, é preciso lidar com a sensação de insegurança e que, por isso, não abandona o seu trabalho formal. “A gente fica com aquela incerteza se teremos ou não clientes. Então, é por isso que não abro mão do meu emprego fixo, pois lá tenho garantia de que todo mês vou estar recebendo aquele dinheiro. O que eu receber por fora é lucro”, diz Taísa.
Incentivo ao empreendedorismo
Para o advogado Antônio Cláudio da Silva, uma das maneiras de ganhar mais que um salário mínimo é empreender. O especialista em Economia e Finanças reforça que é preciso que o empreendedorismo seja estimulado no país. “As pessoas querem segurança, mas não existe segurança. Nem no serviço privado, nem no público. Agora, quando você é empreendedor, você define o que quer ganhar. Mas, para ser empreendedor, você precisa entender como funciona um negócio”, comenta.
Segundo o advogado, além do empreendedorismo, é importante que as pessoas sejam ensinadas sobre educação financeira e planejamento. “As pessoas acabam gastando mais do que ganham, porque não têm noções de educação financeira, não colocam no papel ou controlam o que entra e o que sai”, conclui.
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