O dia 21 de janeiro, celebra o Dia Nacional de Luta Contra a Intolerância Religiosa. A data é uma homenagem à yalorixá Gildásia dos Santos e Santos, conhecida como Mãe Gilda de Ogum, que faleceu em 21 de janeiro de 2000, na Bahia, após sofrer um ataque cardíaco depois de difamações que questionavam sua fé e seu caráter. A religiosa, fundadora do terreiro de candomblé Axé Abassá de Ogum, foi homenageada com a criação da lei em 2007.
A data chama atenção para o respeito, não somente aos espaços sagrados das religiões de matriz africana, que ainda são as que mais sofrem com a intolerância religiosa em nosso país, mas para todas as manifestações religiosas que compõem uma sociedade miscigenada.
A antropóloga do programa de pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), professora doutora Verônica Cavalcante, observa que o Brasil carrega essa mescla de religiões e crenças desde a colonização, com a chegada dos colonizadores europeus; dos indígenas, nossos povos originários; e dos africanos - que chegaram na condição de escravizados.
"Segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], a maioria das pessoas afirma ser católica, inclusive, o Brasil é considerado o país mais católico do mundo, e o Piauí é o estado mais católico. Entretanto, essas pessoas também nutrem uma espiritualidade por outras religiões”, comenta a especialista.
Mesmo com a vastidão de campos religiosos, observa-se, ainda, que esse preconceito racial e a intolerância religiosa perduram no país como uma “tradição” atualmente. Pai Frazão de Xangô, sacerdote de terreiro de umbanda, lembra que as primeiras revoluções religiosas do Brasil iniciaram em meados de 1982, como forma de combater a discriminação de cultos, quando havia uma predominância das religiões europeias.
“Nós, povo preto, viemos de um continente preto e, quando a colonização europeia começou a conhecer nosso culto, foi automaticamente demonizado. Essa foi a leitura da nossa religiosidade que foi passada de geração em geração, criando o que conhecemos hoje como preconceito religioso. Eles propagam de forma pejorativa e negativa, como se fosse um culto satânico, sendo que isso não existe dentro da nossa religiosidade”, argumenta Pai Frazão de Xangô.
Na visão da pesquisadora Verônica Cavalcante, as pessoas continuam se comportando e olhando para as religiões criadas pelos escravos “como se aquelas pessoas que lá estiveram fossem inferiores, ignorantes e de que a única religião aceita no Brasil é o cristianismo. Parece que ainda vivemos um período de colonização”, reforça.
A reportagem completa está disponível na versão impressa do Jornal O DIA deste final de semana, 20 e 21 de janeiro de 2024.