Começou nesta quarta-feira (06) as aulas do Projeto de Alfabetização EJA Intercultural Warao, primeira iniciativa no Brasil de atendimento trilíngue aos imigrantes venezuelanos indígenas da etnia Warao. O projeto vai ensinar para 82 venezuelanos com idade de 15 a 70 anos os idiomas Português, Espanhol e Warao. Eles vivem desde 2019 em abrigos na cidade de Teresina.
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Nas salas de aulas, além dos professores brasileiros, os estudantes serão acompanhados por 12 educadores sociais Warao, contratados pela Seduc, que atuarão como tradutores e mediadores. A Secretaria também adaptou o prédio da Unidade Escolar João Emilio Falcão, no bairro Bela Vista, Zona Sul de Teresina, para que a alfabetização do Warao seja baseada no princípio da interculturalidade.
“Esse projeto é uma reivindicação dos indígenas warao. Quando a gente iniciou o atendimento em parceria com a Prefeitura, eles reivindicaram que os adultos também queriam aprender a língua de acolhimento, que é o português. Então, a gente chamou as lideranças warao para uma reunião na SEDUC com os setores da EJA. Esse projeto, na verdade, é dos indígenas. A gente só mobiliza as condições para efetivá-lo. É um atendimento que nós estamos fazendo para que eles tenham o acesso à língua de acolhimento, que é o português, e que depois sejam inseridos no mercado de trabalho”, explicou a Raquel Lima, diretora da Unidade de Educação Indígena da Seduc.
No Piauí, são 263 indígenas da tribo warao residindo aqui no Piauí. O Projeto de Alfabetização EJA Intercultural Warao tem como foco o acolhimento linguístico dos indígenas e a construção de uma educação popular, baseados nas experiências de vida das pessoas atendidas, como prevê o método de Paulo Freire. O foco principal do projeto é no ensino do idioma para as crianças.
Uma das alunas da escola indígena é a Jamili. Ela consegue se comunicar em português, mas de forma bem limitada. Agora, a jovem warao está empolgada com a nova oportunidade de aprender o nosso idioma. “Bom esse projeto que realizou por nome dos indígenas, warao e tanto indígena brasileiro. Eu acho que é muito importante porque nós como indígenas temos o direito e temos o direito de estudar e manter a sua própria cultura. Eu cheguei em 2019 e já tenho três anos aqui. Bom, para mim não foi fácil, está muito difícil lutar com a nossa família, com os nossos parentes E é melhor aprender outro idioma, porque é muito importante para nós”, disse.
Didática utilizada vai partir da realidade dos indígenas
O processo de ensino-aprendizagem foi proposto pelos próprios indígenas. Eles manifestaram o interesse de que a língua deles deve fazer nesse processo. A SEDUC vai precisar contratar 12 educadores warao, que vão fazer essa mediação com o warao. Foram contratadas três professoras de espanhol para os waraos que falam espanhol, além das professoras de português.
“Pedagogicamente, a gente está partindo do contexto dos próprios warao. Hoje, na aula inaugural vai ser uma síntese, mas a gente sentou com os warao e eles colocaram como é que eles queriam essa aula e foram organizando a aula. A palavra geradora hoje dessa aula é a casa, que o warao chama Hanoko, que para eles é muito caro essa coisa da habitação, porque hoje eles estão aonde? Nos abrigos. A SEDUC sempre está procurando a partir do contexto dos indígenas produzir o ato educativo”, disse.
O secretário de Educação Washington Bandeira comemorou a iniciativa e o pioneirismo piauiense. “É uma ação pioneira, inédita, reconhecida pela Agência da ONU para Refugiados, ACNUR, porque é uma ação completa e intersetorial. Ela é da Secretaria da Educação, mas envolve também a Secretaria da Assistência Social, o Pacto pelas Crianças, coordenado pela doutora Isabel Fonteles, e é completa porque envolve abrigo, acolhimento a esses povos em imóveis do governo do Estado, envolve também educação completa, alfabetização, educação para jovens e adultos, e educação técnica trilíngue, na língua portuguesa, espanhola e warao, assistência às crianças, aos filhos dos alunos”, finalizou.