Símbolo do progresso e desenvolvimento, a Usina Santana marcou o crescimento econômico do de Teresina no início do século XX, em meados de 1906. Foram 76 anos de atividade, gerando emprego, movimentando o comércio, mudando vidas e construindo a história de centenas de famílias que dependiam da produção de açúcar e álcool.
À época, a Usina desempenhou um papel fundamental e tornou-se referência na indústria açucareira da região, sendo desativada por volta de 1982, após um longo processo de falência. Hoje, o local está em ruínas, mas com um valor simbólico imenso. É como se cada parede caída ainda carregasse um fragmento de vida.

Vindos de outros estados em busca de trabalho, homens e mulheres ia se alojando e construindo suas moradas nas terras, que na época chamava-se apenas de Usina, e contava com cerca de 300 operários. Devido à necessidade de dar condições de moradia aos trabalhadores, Gil Martins, fundador da fábrica, formalizou a doação de terras aos trabalhadores, passando-se a constituir um espaço de habitações e reorganização espacial, surgindo, assim, o Povoado Usina Santana.
Primeiro, fabricava-se açúcar e cachaça que abastecia Teresina e região. A gestão do Dr. Gil Martins durou até 1956, quando a fábrica foi vendida para um grupo de Pernambuco. A partir daí, deixou de fabricar cachaça e continuou com a produção de açúcar e álcool.

Sebastião Linhares (86) trabalhou por muitos anos na Usina Santana e exerceu suas atividades na segunda fase da fábrica. Ele foi um dos responsáveis por ajudar a construir a estrutura após o empreendimento ser vendido para a empresa pernambucana. A pequena fábrica deu espaço a um imenso galpão e ganhou uma torre de tijolos. Construída em 1954, sua estrutura foi erguida com tijolos de barro e cal, mas sua primeira moagem ocorreu em 1956. A chaminé, com seus 52 metros, e feita com os mesmos materiais, pode ser vista de longe e destaca-se entre o verde da mata.

“[A primeira moagem] foi pouca coisa, só para testar, mas deu tão certo que foi evoluindo e ficou até 1982. Um engenheiro veio de Pernambuco e deu uma garantia de 12 anos para essa chaminé, hoje ela está com mais de 70 anos. A iniciativa recupera histórias que pareciam perdidas em meio às ruínas de uma época esquecida e nunca caiu. Dá uma tristeza [ver que a fábrica fechou], era para ter continuado, pena que o dono não teve condições”, disse.
No campo, os homens eram os responsáveis por arar a terra, enquanto as mulheres tinham a função de fincar os colmos nos buracos, cobrir e regar. A água destinada à hidratação dos trabalhadores era trazida pelas mulheres em baldes e armazenada em grandes tambores.
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Filme conta a história da Usina de Santana
Ao longo dos anos, a fábrica teve muitos donos, mas foi durante a gestão dos pernambucanos que a Usina Santana fechou, em 1982. Sem recursos, a empresa demitiu os trabalhadores e seus pagamentos foram feitos com a terra usada para o plantio de cana. O fechamento da fábrica impactou significativamente na vida da comunidade, que se mantinha exclusivamente da produção da fábrica.
Famílias como a do ator, produtor cultural e empresário de marketing digital, Teodorico Júnior (25), que decidiu transformar a sua e as histórias de outros ex-trabalhadores e descendentes em filme. O média-metragem “Entre o Fogo e a Cana”, é uma obra que mistura ficção e realidade e vai contar parte da história da Usina Santana.

“A família da minha mãe é de Frecheirinha, no Ceará, e a do meu pai é de Pedro II, no Piauí. Assim como tantas outras, são famílias iam se conhecendo e fincando suas raízes. A ideia do filme nasceu de dentro, literalmente. Eu nasci e cresci na região da Usina Santana. Tenho familiares que trabalharam ali, e desde cedo convivo com as histórias que rondam aquele espaço. Para mim, a usina é mais do que um lugar físico: é símbolo de um tempo, de um povo, de lutas invisibilizadas. Sempre senti que aquela história merecia ser contada com a grandeza que tem, e foi a partir dessa inquietação que o projeto nasceu”, comenta.

À frente da produção do filme, Teodorico Júnior conta que pretende fazer um resgate histórico entre os anos de 1978 e 1982, justamente o período que antecede o fechamento da usina. Segundo ele, foi um momento de grandes mudanças, tensões e emoções, ideal para construir uma narrativa forte, sensível e impactante.
“Claro que seria impossível contar toda a trajetória da usina em um média-metragem. O fato de ser ator e apaixonado por narrativas contribuiu muito para que eu sentisse a necessidade de transformar essas memórias em um filme. A arte sempre foi, para mim, uma forma de dar voz ao que não foi registrado. Em 2024, produzi um documentário entrevistando ex-funcionários da usina e o último dono”, explica, Teodorico Júnior. O filme “Entre o Fogo e a Cana” ainda não tem data para ser lançado, mas a previsão é para este ano.
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