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Seguro custa caro? Saiba como os microsseguros tornam proteção acessível às pessoas de baixa renda

Arrecadação da modalidade cresceu 75% nos últimos três anos e segmento tem facilitado acesso à população mais vulnerável

27/04/2024 às 22h52

27/04/2024 às 22h52

No Brasil, onde segundo dados do IBGE, 60% da população vive com até um salário mínimo, o futuro se torna uma preocupação distante. O foco principal é fazer o dinheiro render até o final do mês e garantir o pagamento das contas básicas. Em meio a essa realidade, o planejamento para eventualidades, como a necessidade de um seguro, muitas vezes é relegado a segundo plano. 

É nesse contexto que os microsseguros surgem como uma solução prática: projetados para atender pessoas de baixa renda e microempreendedores, essa modalidade conta com opções que variam de R$ 5 a R$ 80 por mês, o que torna a proteção financeira acessível mesmo para aqueles com renda limitada. A modalidade possui, ainda, termos simplificados e o segurado pode cancelar o produto sem taxas.

Microsseguros são mais acessíveis e têm termos simplificados  - (Reprodução/Fundação MAPFRE) Reprodução/Fundação MAPFRE
Microsseguros são mais acessíveis e têm termos simplificados

Em geral, o microsseguro, também chamado de ‘seguro inclusivo’, protege pessoas, bens e negócios contra incidentes de diversos tipos, cobrindo riscos associados a doenças, acidentes, morte, roubo, danos, perda de estoque e de propriedade. Eles funcionam como qualquer outro seguro: o cliente paga um valor mensal - conhecido como prêmio - e, se acontecer algum evento coberto pela apólice, a seguradora paga a indenização. 

De acordo com a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a arrecadação desse segmento cresceu 75% nos últimos três anos. O aumento na procura se deve, principalmente, pela regulação da modalidade em 2021, que passou a incluir microempresas e empresas de pequeno porte. 

“Os microsseguros tem um caráter inclusivo, sendo uma solução para a população de baixa renda que busca por mais tranquilidade, mas que não dispõe de um valor alto para investir. Esta é uma forma de garantir o bem-estar do segurado, da sua família e, eventualmente, a continuidade da empresa, que conta com funcionários que dependem desta como sua fonte de renda. Trata-se de um efeito cascata que traz mais segurança e tranquilidade a todos”, explica o Diretor Técnico de Estudos e Relações Regulatórias da CNseg, Alexandre Leal.

Alexandre Leal, Diretor Técnico de Estudos e Relações Regulatórias da CNseg - (Divulgação/CNseg) Divulgação/CNseg
Alexandre Leal, Diretor Técnico de Estudos e Relações Regulatórias da CNseg

Segundo a Fundação MAPFRE, pelo menos 128 milhões de brasileiros com renda de até três salários-mínimos podem ser atendidos pelos microsseguros. O segmento pode ser oferecido por todas as seguradoras autorizadas a operar no país. Atualmente, estima-se que mais de 100 empresas ofereçam o serviço, incluindo bancos tradicionais como o Banco do Brasil. Nele, a população encontra microsseguros a partir de R$ 6. 

"Esse tipo de seguro representa uma revolução no acesso à proteção financeira para essas pessoas. As opções de pagamento se encaixam em orçamentos apertados e permitem que os mais pobres se planejem sem comprometer seu sustento. Essa modalidade ajuda a população de baixa renda a ter segurança financeira, ao mesmo tempo em que estão investindo também em seu próprio futuro e o de suas famílias”, destaca o consultor financeiro Jorge Cardoso. 

A Diretora Técnica da Superintendência de Seguros Privados (Susep), Júlia Normande Lins, enfatiza que os microsseguros se mostram essenciais para o crescimento econômico e o desenvolvimento urbano, uma vez que se encontram na fronteira entre os serviços financeiros e a proteção social. 

“O microsseguro vem se constituindo como parte da estratégia de governo de muitos países como forma de diminuir a pobreza, ao tornar os sistemas financeiros mais inclusivos por meio da promoção do acesso a serviços como poupança, crédito e seguros para a população de baixa renda”.

Júlia Normande LinsDiretora Técnica da Susep

Proteção financeira adaptável

O crescimento da procura pelos microsseguros também pode ser atribuído à diversificação do próprio mercado. As seguradoras estão buscando ampliar sua oferta de produtos para atender às necessidades específicas da população de baixa renda. Isso inclui a criação de planos customizados que se adaptem às demandas dos clientes. É o que aponta a corretora de seguros Najla Zeidan. 

“Essa abordagem mais personalizada tem tornado os seguros mais acessíveis para um número cada vez maior de pessoas. Nós oferecemos serviços de acordo com o perfil de cada cliente. Verificamos se têm filhos, se são autônomos, qual sua renda mensal e seus interesses específicos de cobertura. Isso possibilita que os tipos de coberturas e os valores sejam adaptáveis”, comenta. 

A corretora de seguros Najla Zeidan destaca importância de produtos personalizáveis  - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
A corretora de seguros Najla Zeidan destaca importância de produtos personalizáveis

Um exemplo de seguro inclusivo específico para um determinado grupo de pessoas é o microsseguro rural. Criado para caber no bolso de pequenos produtores e agricultores familiares, esse produto protege não só em situações de acidentes pessoais, como também em casos de perda da produção agrícola em decorrência de tempestades ou secas, ou em casos de incêndios, por exemplo. 

Vale lembrar que, hoje, há mais de 3 milhões de propriedades regidas por agricultores familiares no Brasil, o que torna a proteção e segurança financeira desses trabalhadores essencial para a economia brasileira. 

Microsseguro rural é opção para proteger agricultores familiares  - (Tomaz Silva/Agência Brasil) Tomaz Silva/Agência Brasil
Microsseguro rural é opção para proteger agricultores familiares

Democratização do acesso é tendência

A finalidade do microsseguro vai além de proteger os mais vulneráveis; ele busca popularizar a proteção financeira no Brasil. Isso se deve ao desafio que o mercado de seguros enfrenta para expandir sua presença na sociedade. Embora o setor tenha registrado um crescimento de 12% e um faturamento de cerca de R$ 410 bilhões no último ano, apenas 17% da população brasileira possui algum tipo de cobertura, conforme apontam estimativas da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). 

Com isso, seguradoras, corretores e entidades têm se empenhado em promover o acesso no país. Para atingir esse objetivo, a Susep incluiu no seu Plano de Regulação para 2024 a criação de uma Política Nacional de Acesso ao Seguro. Entre as iniciativas previstas está a elaboração de estudos para ampliar a adesão aos seguros. 

“Temos um grande mercado para o desenvolvimento do setor. Muito mais pessoas, bens e outros objetos seguráveis poderiam estar cobertos por um seguro e não estão. Por meio dessa política, pretendemos ampliar as formas de acesso ao seguro para toda a população. Serão estratégias para alcançar e mobilizar o grande potencial de mercado que nós temos. O principal objetivo será identificar os potenciais de crescimento do mercado segurador brasileiro, tanto por meio de novos entrantes, como de novos produtos, abrindo novos mercados”, afirma a Júlia Normande. 

Mercado de seguros quer ampliar acesso no Brasil - (Freepik) Freepik
Mercado de seguros quer ampliar acesso no Brasil

A CNseg também estabeleceu objetivos para elevar a arrecadação do mercado de seguros. Até 2028, o setor quer aumentar sua contribuição no Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% para 10%, expandir em 20% a cobertura da população atendida e elevar o volume de indenizações de 4,6% para 6,5%. Essas metas foram estabelecidas no Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PMDS), lançado em março de 2023.

Para Alexandre Leal, outro fator decisivo na democratização dos seguros no Brasil é a simplificação da linguagem e dos processos relacionados a esse setor. Ele ressalta que tornar os termos e procedimentos mais compreensíveis para o público em geral pode contribuir significativamente para aumentar a conscientização e a adesão aos serviços de seguros, especialmente entre a população de baixa renda.

“Nós acreditamos que o seguro ainda é um produto pouco compreendido pelos brasileiros. Há diversas razões para isso. Desde a condição econômica de boa parte de nossa população, que tem reflexos em sua capacidade de consumo, a aspectos relacionados ao setor de seguros, como os termos técnicos que são empregados na descrição dos produtos que oferecemos”.

Alexandre Leal Diretor Técnico de Estudos e Relações Regulatórias da CNseg

Conhecimento e educação financeira são a chave para uma vida financeira saudável

Para promover uma cultura de seguro mais inclusiva no Brasil, a disseminação da importância dos seguros é fundamental. Muitas pessoas ainda associam o seguro principalmente à ideia de morte. No entanto, nos últimos anos, tem havido um aumento na conscientização sobre a relevância desse serviço. 

Eric Dannemann, Diretor Executivo de Vida da Allianz Seguros, salienta que essa mudança é resultado da recente pandemia global, que despertou na sociedade a necessidade de estar preparada para eventualidades.

“Apesar de historicamente ser visto como tabu, temos observado uma mudança de percepção das pessoas em relação a essa forma de proteção. Começaram a enxergá-lo como uma solução completa que oferece apoio em diversos momentos da vida, especialmente após os desafios enfrentados durante a pandemia da Covid-19", aponta Dannemann. 

Eric Dannemann, Diretor Executivo de Vida da Allianz Seguros - (Divulgação/Allianz Seguros) Divulgação/Allianz Seguros
Eric Dannemann, Diretor Executivo de Vida da Allianz Seguros

Nesse cenário, o conhecimento desempenha um papel extremamente relevante. Quando as pessoas compreendem os benefícios e a importância do seguro não apenas como uma proteção contra riscos imprevistos, mas também como uma ferramenta para garantir segurança financeira e tranquilidade para si e para suas famílias, elas estão mais propensas a considerar o seguro como parte essencial de seu planejamento financeiro.

“Acredito que, ao divulgarmos os seguros e promovermos mais discussões sobre o assunto, poderemos alcançar diversas classes sociais. O que falta é informação e uma compreensão mais ampla sobre a importância dos seguros”, reforça o consultor financeiro Jorge Cardoso. 

Além disso, a educação financeira também é necessária, especialmente para aqueles que têm dificuldade em gerenciar suas finanças. Ao aprenderem a administrar seus recursos de forma eficiente e estratégica, as pessoas podem fazer escolhas financeiras mais conscientes. Isso inclui se planejar para o futuro por meio da proteção desses recursos contra possíveis adversidades. 

“Para que os seguros sejam realmente eficazes, é necessário que as pessoas compreendam como eles funcionam e como podem ser integrados a um planejamento financeiro abrangente. É aqui que entra a importância da educação financeira. Ao capacitar as pessoas com o conhecimento necessário para tomar decisões financeiras, podemos ajudá-las a entender a importância dos seguros e a incorporá-los de forma eficaz em seu planejamento financeiro”, finaliza Cardoso. 

Educação financeira também é fundamental para planejamento do futuro - (Pexels) Pexels
Educação financeira também é fundamental para planejamento do futuro

Como se planejar financeiramente?

Após ouvir especialistas no assunto, o Portal O Dia preparou uma lista de como as pessoas podem se planejar financeiramente para garantir um futuro tranquilo. Confira a seguir:

1. Estabeleça metas financeiras claras: Defina objetivos financeiros de curto, médio e longo prazo. Isso pode incluir economizar para uma viagem, comprar uma casa ou garantir uma aposentadoria confortável.

2. Crie um orçamento: Acompanhe seus ganhos e gastos mensais para entender para onde está indo seu dinheiro. Isso ajuda a identificar áreas onde é possível economizar e priorizar gastos.

3. Pague-se primeiro: Reserve uma parte do seu salário para economizar assim que receber. Automatize transferências para uma conta poupança ou investimentos, garantindo que você esteja constantemente economizando.

4. Reduza dívidas: Priorize o pagamento de dívidas com juros altos, como cartões de crédito. Considere consolidar ou refinanciar dívidas para reduzir os custos totais.

5. Crie um fundo de emergência: Mantenha uma reserva financeira para cobrir despesas inesperadas, como reparos em casa, despesas médicas ou perda de emprego. Especialistas recomendam ter de três a seis meses de despesas em economias.

6. Invista no seu futuro: Considere investir em planos de aposentadoria, como o plano de previdência privada, e em outras opções de investimento que possam ajudar a aumentar seu patrimônio ao longo do tempo.

7. Reveja regularmente: Periodicamente, reveja e ajuste seu orçamento conforme necessário. As mudanças na vida, como aumentos salariais, despesas inesperadas ou novos objetivos financeiros, podem exigir ajustes no planejamento financeiro.

8. Busque conhecimento: Mantenha-se informado sobre finanças pessoais, investimentos e planejamento financeiro. Existem muitos recursos disponíveis, como livros, podcasts e cursos online, que podem ajudar a aumentar seu conhecimento e habilidades financeiras.