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14% dos estudantes de universidades no Piauí são de outros estados

Alunos enfrentam a saudade e a difícil adaptação em outros estados da federação para realizar o sonho de estudar o que desejam através do Exame Nacional do Ensino Médio.

01/05/2016 08:44

Sair da casa dos pais para iniciar o próprio caminho não é uma decisão fácil. Arrumar as malas, organizar pela última vez a cama que ouviu lamentos da infância durante quase toda a vida, abraçar os familiares e abrir a porta da sua residência para finalmente se jogar no mundo, geralmente sozinho, necessita considerar inúmeros fatores: saudade, medo, inexperiência.


Foto: Elias FOntenele/ODIA


A partida, muitas vezes, acaba sendo necessária; sobretudo, para aqueles que desejam dar continuidade aos estudos e realizar o sonho de cursar o que sempre quis. Em municípios com poucas oportunidades de estudo, a possibilidade de poder mudar de cidade, para dá início a uma nova etapa, é algo muito tentador.

De alguns anos para cá, em decorrência da mudança da forma de ingresso na maioria das universidades do Brasil, muitas pessoas têm deixado sua cidade natal para estudar em outros lugares. O fato de você poder fazer a prova na sua cidade e, no ato da escolha do curso, poder optar entre as universidades que aderiram ao Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, facilitou bastante esse processo.

Em 2014, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Educação (MEC), cerca de 12,8% dos alunos selecionados pelo SISU foram estudar em universidades de estados diferentes ao de sua origem, o que equivale a 19.363 estudantes no país, que participaram da Seleção de 2014.1.

No Piauí, nesta mesma época, a quantidade de alunos de outros estados matriculados nas universidades do Piauí supera a porcentagem nacional, chegando a 14%. São pessoas de todas as regiões do país que vêm para cá em busca de conhecimento. Esses alunos se matricularam em universidades e faculdades que têm como forma de ingresso na instituição, o SISU.

Desde 2012, a Universidade Federal do Piauí (Ufpi) utiliza essa modalidade como a principal forma de ingresso na instituição. Atualmente, a Ufpi possui 2.712 alunos de outros estados, distribuídos em seus campi. Enquanto que a Universidade Estadual do Piauí (Uespi), que aderiu ao SISU apenas em 2012, possui, este ano de 2016, 1.200 pessoas de fora matriculadas em seus campi distribuídos no interior do Estado.

Estudantes buscam residências universitárias para conter gastos e continuar estudos 

Muitas destas pessoas que tentam uma vaga em algum curso no Piauí chegam ao Estado sem nunca terem o conhecido. A estudante de Música, Jéssica Sabino, afirma que, antes de tentar uma vaga em uma universidade, jamais teria cogitado a possibilidade de vir estudar no Piauí. “Se eu não tivesse tido a oportunidade de colocar como opção de estudo lugares fora de onde eu morava, eu jamais teria tentado para Teresina”, afirma.


Foto: Aldenora Cavalcante/ODIA


A jovem de 24 anos, natural de Coroatá, no Ceará, chegou ao Piauí em 2013. Ela havia colocado a opção do curso escolhido para Fortaleza e Teresina e, no entanto, acabou sendo aprovada aqui na Capital, contrariando o destino pré-determinado para a maioria das pessoas que vivem em sua cidade.

“Teresina realmente era um lugar que eu nem falava. Porque as pessoas da minha região geralmente traçam o mesmo caminho: ou elas terminam o ensino médio e vão para Fortaleza ou vão para o Rio de Janeiro e foi isso que eu fiz. Eu acabei indo para o Rio, com a ideia de trabalhar e morei dois anos lá, na casa de uma tia”, explica.

Entretanto, o excesso de trabalho na região Sudeste fez com a jovem decidisse tomar outro rumo. “Eu estava me afastando demais da música, que é algo que eu sempre gostei”, pontua. Dessa forma, Jessica voltou para o Ceará, prestou vestibular, passou e arrumou novamente a mala; desta vez, para um lugar mais próximo de casa. “Um dos pontos que eu considerei ao optar por vir para cá foi a questão da distância. Eu sou uma pessoa muito apegada a minha família e, durante o tempo que vivi no Rio de Janeiro, eu só pude visitá-los duas vezes”, acrescenta.

Apesar de já ter morado longe de casa, a mudança, para a estudante de Música, não foi fácil. Para Jéssica, passar pela mesma situação de adaptação em uma nova cidade, onde não conhecia ninguém, foi igualmente difícil. O primeiro desafio foi encontrar um lugar para morar. Inicialmente morando com um casal de idosos, conhecidos distantes da família, a jovem tentou e conseguiu uma vaga na Residência Universitária da instituição em que estuda Música. “A gente passa por uma seleção até conseguir a vaga”, pontua.

Residência universitária

Cerca de 120 estudantes moram na mesma residência universitária de Jéssica. Todos eles não pagam por moradia e a comida é oferecida gratuitamente pela universidade. “As tarefas domésticas são divididas. Nós temos salas de estudo com ar condicionado e também acabo não tendo quase nenhum gasto porque eu também não pago transporte”, explica. “A única coisa que eu posso reclamar daqui é da falta de privacidade, visto que divido quarto com mais três meninas. A relação é boa e as pessoas são acolhedoras, mas têm alguns dias que a gente sente necessidade de ficar sozinho”, acrescenta.

Para auxiliar nas despesas e não precisar fazer com que sua família permaneça enviando dinheiro frequentemente para gastos pessoais, Jéssica passou a tocar, quase todos os finais de semana, com bandas locais nas festas da Capital. “Atualmente, eu toco de quinta a sábado em pelo menos quatro bandas”, destaca.

Ao longo dos meses, Jéssica conseguiu se adaptar à cidade e ao clima quente, diferente da região serrana em que vivia. Mas no começo, segundo ela, foi difícil lidar com a saudade e com o fato de estar em uma cidade em que não conhecia ninguém. “No Rio, eu conhecia minha tia e alguns vizinhos dela, enquanto que aqui, quando cheguei, eu não conhecia ninguém, nem o casal de idosos que me acolheu. Então, vir para cá foi mais doloroso. É difícil se adaptar e ter que lidar com a saudade”, desabafa, acrescentando que mesmo Teresina ser relativamente perto de onde seus familiares moram, para chegar a sua casa da infância, ela tem que pegar um ônibus para uma cidade vizinha, em uma viagem de sete horas de duração, para depois subir em uma van e, no final, ir com o seu pai de moto para sua casa que fica no interior de Coroatá.

A matéria completa você confere na edição deste domingo do Jornal O DIA.


Por: Aldenora Cavalcante - Jornal O DIA
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