Raimundo Nonato Alves, de 17 anos, é autista, além de ter deficiência visual e mental. Nenhuma dessas deficiências impediu que ele aprendesse música e, hoje, leve sua alegria em apresentações realizadas em diversas locais de todo Piauí. Sua mãe, Francisca das Chagas da Costa, conta que a música transformou a vida dos dois. “Quando eu adotei ele, ele vivia em abrigo e era muito agressivo. A música transformou a minha vida e a dele, pois mudou o comportamento dele completamente. À medida que ele entrou na música, ele ficou mais calmo, mais carinhoso”, explica.
Foto: Arquivo pessoal
Raimundinho, como é chamado, integra o projeto beneficente Música Eficiente há um ano e meio. A mãe do jovem conta que conheceu o Música Eficiente através de panfletos, e que já no primeiro dia em que visitou o espaço, presenciou mudanças no adolescente. “No primeiro dia ele já assistiu aula e desde então a música entrou nele. Mudou tudo, até no dentista ele já senta sozinho, abre a boca, faz o atendimento direitinho. É um trabalho muito bonito”, afirma.
O projeto funciona na zona Norte de Teresina e atende atualmente aproximadamente 220 crianças em Teresina, 98 em Demerval Lobão, 68 em Lagoa do Piauí e 86 e Miguel Leão. João Giberto Oliveira Fostes, diretor do projeto explica que o projeto surgiu em 2013, dentro de uma sala de aula. “Eu estudei na escola Pequena Rubi e como professor eu retornei à escola para desenvolver um projeto musical chamado Mais Educação, que era um projeto de formação de bandas dentro das escolas. Ao desenvolver esse trabalho, eu percebi que tinha crianças que não estavam participando dessa atividade por ter alguma deficiência”, explica.
A partir daí, João Gilberto resolveu fazer um teste com dois adolescentes com deficiências intelectuais. “Pra mim foi um despertar, perceber que aquelas crianças poderiam, sim, ser incluídas dentro daquele projeto. Até então eu não tinha entendimento de como trabalhar com pessoas com deficiência. Foi muito desafiador”, afirma.
Atualmente, o projeto Música Eficiente atende crianças e adolescentes com diversos tipos de deficiência na faixa etária de 05 a 17 anos de idade. O diretor diz que dependendo da desenvoltura já são atendidos pelo projeto crianças de 3 e 4 anos, além de alguns adultos e idosos com deficiência física. “Nós sabemos que a deficiência não tem idade, mas algumas deficiências, mesmo adulto, nós pegamos. Porque você imagina, a criança ela já tem dificuldade no atendimento, imagina o adulto, o idoso”, ressalta.
Doações mantêm atividades
O projeto é desenvolvido com o trabalho de voluntários e é oferecido de forma gratuita. Ele lembra que alguns pais, que podem e querem ajudar, fazem doações para a manutenção do projeto, já que atualmente somente o poder judiciário é parceiro da entidade. “O Judiciário tem nos ajudado com penas pecuniárias e com isso podemos comprar um instrumento aqui, outro ali”, ressalta.
No projeto são desenvolvidas aulas de violão, teclado, piano, instrumentos de sopro, flauta doce, canto coral, violino, bateria e percussão. “Temos surdos que tocam bateria, down que toca violão, deficientes intelectuais que tocam teclado, piano. Muitas vezes, a sociedade vê aquela deficiência e já determinar como incapaz. Aquele olhar já impede aquela pessoa de avançar. Mas a música consegue penetrar no mais íntimo da gente. E nós conseguimos aprender e ter um novo olhar, e fazer o despertar daquela criança e daquele adolescente”, ressalta.
Para João Gilberto é muito gratificante ver o resultado que a música provoca. “Poxa, você olhar pra uma criança que tem deficiência intelectual, que é deficiente visual, que é autista, três deficiências em um só. E hoje você ter o depoimento de uma mãe dizendo que os remédios foram retirados, hoje ele consegue ficar sentado, hoje ele consegue socializar. É uma melhora no contexto total. A música consegue penetrar no mais íntimo da gente, é comprovado isso”, afirma.
Atualmente, são voluntários no projeto aproximadamente 12 músicos e musicistas que desenvolvem as aulas dentro de um acompanhamento terapêutico do ensino e da música. atividadesE apesar de não ter atendimento de profissionais multidisciplinares, o projeto também conta com profissionais que auxiliam os professores do projeto, como fonoaudiólogo, fisioterapeuta, assistente social, pedagogos, que orientam como atuar com essas crianças.
Os alunos se apresentam em eventos realizados pelo Estado. Foto: Arquivo Pessoal
Matrículas abertas
O projeto Música Eficiente funciona às terças e sábados na Av. Pref. Freitas Neto, St - A, 1500 – Mocambinho, próximo à escola Pequena Rubi. O telefone para contato é o 99917-4628. Mas a proposta é que o projeto passe a funcionar três vezes por semana em 2019. As matrículas estarão disponíveis a partir do dia 02 de janeiro, e o projeto está aberto para parcerias com as prefeituras interessadas para levar o projeto para os municípios. Para mais informações sobre o projeto pode acessar as redes sociais: voluntários eficientes e no site www.projetomusicaeficiente.com.br.
Intercâmbio
Este ano, o Projeto Música Eficiente foi convidado a fazer um intercâmbio na Itália. A ideia é levar os alunos para realizar uma apresentação em janeiro ou fevereiro. Apesar de ter o valor das passagens, o organizador está recebendo doações para ajudar no custeio da viagem. Os interessados em ajudar o projeto podem fazer doações na conta da Caixa Agência 3828/Operação 003/Conta 1054-0.
Por: Viviane Menegazzo