“A doação de órgão é importantíssima. Se eu não tivesse feito o transplante, eu já estava do outro lado. Hoje continuo dando aula, viajando, todo mundo deveria deixar um documento dizendo ‘eu sou doador de órgão’”. Este relato é da professora doutora Edite Maria de Morais Malaquias. Há 5 anos, ela é transplanta de fígado. Ela precisou fazer o procedimento aos 59 anos, após descobrir uma cirrose causada pelo consumo em excesso de medicamentos.
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Edite lembra que começou a ter sangramentos vaginais, que não eram comuns em sua idade. Ao se consultar com vários médicos, teve um especialista que a indicou procurar uma doutora que trabalhava com transplantes e pessoas com problema no estômago.
“A médica pediu uma ultrassonografia e disse que eu tinha cirrose crônica, e eu disse que não bebia. Mas ela informou que poderia ser de medicamento, porque sou diabética e hipertensa, mas a gente nunca está preparada. Um dia, eu cheguei com os exames e ela disse ‘a senhora está pronta para fazer o transplante’ e eu me assustei. Mas Deus me preparou, eu não me desesperei, liguei para a minha família e começamos os processos”, conta Edite Malaquias.
A especialista indicou à professora que fosse para o Ceará realizar todos os procedimentos exigidos. Mas por ter familiares em Recife, todo processo de exames e acompanhamento mensal para poder receber o novo fígado aconteceu na cidade. Neste período, Edite estava cursando doutorado e, portanto, afastada das atividades na universidade em que trabalha.
Outro ponto que favoreceu o rápido transplante da docente foi uma crise de encefalopatia, uma doença causada por substâncias tóxicas normalmente eliminadas pelo fígado, que se acumulam no sangue e chegam ao cérebro.
“Eu comecei a surtar, ter crise, olhava para as pessoas e não conhecia, só lembrava da minha família. Tive uma crise no dia da consulta e o médico se assustou porque não conseguia me dar injeção. Depois disso, fui para o grupo dos mais graves e só tinha uma moça na minha frente, justamente a que me doou o fígado, porque ela tem um problema hereditário que o fígado dela, aos 30 anos, não serve mais para o corpo dela”, descreve.
Edite e a sua doadora ficaram no mesmo quarto no dia do transplante. Sua cirurgia durou mais de sete horas. Após o procedimento, a docente ficou irreconhecível, pois todo o seu corpo ficou inchado.
“Senti dores na coluna, nunca senti nada na barriga. E em todo momento tinha fé em Deus que iria ficar boa, eu nunca chorei, me desesperei. Eu sentia que não estava só, minha família foi maravilhosa. O pior foram as crises, nem a calcinha eu acertava tirar, horrível, não desejo pra ninguém, minha crise demorava dois dias, no máximo. Mas estou bem, até morrer vou tomar quatro comprimidos todo dia, e tenho que fazer exames periodicamente e levar para ao médico”, conclui Edite Malaquias.
Edição: Virgiane PassosPor: Sandy Swamy- Jornal O Dia