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Dia das Crianças: Os desafios e dilemas modernos na educação dos pequenos

Existem receitas prontas para criar um filho da melhor forma? Nesta reportagem especial do O DIA, mães discorrem sobre a criação de seus filhos

12/10/2022 10:57

A internet e o uso constante das redes sociais aumentaram a disseminação e o acesso às informações sobre parentalidade e métodos que mães e pais deveriam seguir para criar seus filhos. Hoje, existem diversas linhas pedagógicas e manuais práticos que visam estimular novos tipos de educação, diferentes daquelas experimentadas por nossas mães e avós. 

Métodos como “BLW”, “Easy”, “5s” e “Ferber” estão cada vez mais comuns. Com isso, muitos pais se perguntam: “O que devo fazer? Quem devo ouvir? Que tipo de método aplicar? Devo seguir os manuais à risca?”. 

O método BLW significa desmame guiado pelo bebê, onde ele pega com as mãos os alimentos cortados em tiras ou pedaços e come sozinho (Foto: Pexels)

Diante de tais questionamentos, a psicóloga Ianny Luizy ressalta que é preciso levar em consideração a personalidade de cada criança, bem como a realidade individual de cada família. 

“O nascimento de um bebê muda toda a rotina de uma casa e adaptações precisam surgir para esse novo integrante da família. Ter uma rotina nos primeiros anos ajuda muito no desenvolvimento do bebê. A introdução alimentar, por exemplo, é algo importantíssimo para a criança conhecer os sabores e para os pais entenderem os gostos, limitações e preferências de seus filhos. Mas, quando falamos sobre isso, temos que considerar a personalidade de cada criança e as adequações para cada família, pois não é uma receita de bolo que funcionará para todos”, explica a especialista. 

Para algumas mães, os métodos facilitam a criação de uma rotina mais saudável, fazendo com que o filho seja uma criança mais ativa, com o sono e alimentação regulados. 

A jornalista Nathalia Caroline Da Silva, de 31 anos, conta que, desde que descobriu sua gravidez, decidiu buscar por informações que a ajudassem a criar o  pequeno Arthur Zuri, de 1 ano e 4 meses, de uma maneira diferente da qual ela foi criada. 

“Desde que ele nasceu, sempre tentei seguir à risca os métodos, principalmente da rotina do sono e da introdução alimentar. Sempre fiz tudo de acordo com os especialistas. Eu o amamentei exclusivamente até os seis meses, sem que ele tomasse nenhum outro tipo de líquido e sem consumir outros tipos de alimentos”, pontua.

A jornalista destaca que o sono regulado é importante para a rotina do seu bebê. "Ele precisa tirar dois cochilos por dia, só que, às vezes, ele pula uma das sonecas e isso acaba bagunçando a rotina como um todo. Mas, sempre tento fazer tudo certo, para que eu possa colher os frutos lá na frente. Principalmente em relação ao sono, que é algo que atrapalha o humor dele e isso afeta no sono noturno. Consequentemente, afeta o meu sono também”, diz a mãe. 

Nathalia Caroline Da Silva e seu filho Arthur Zuri (Foto: Arquivo Pessoal)

Nathalia Caroline acredita que investir em métodos e técnicas para desenvolver uma educação neurocompatível, aliada a uma disciplina positiva e um ambiente saudável é a melhor maneira para criar seu filho. No entanto, ela ressalta que é necessário também não se deixar sobrecarregar pela rotina de todos os dias. “Depois que ele completou um ano, eu estou tentando relaxar um pouco mais”, completa. 


Paralelo a essa linha de raciocínio, a analista de sistemas Kaline do Nascimento Silva, de 32 anos, acredita que alguns métodos são ineficazes. Mãe de Maria Helena, de 6 anos, e de Ricardo, de 1 ano e 4 meses, Kaline destaca que “crianças não vêm com manual de instrução”. Ela conta que não existe um passo a passo do que deve ser feito e quando deve ser feito. 

“Meus dois filhos são duas crianças completamente diferentes uma da outra em questão de desenvolvimento e personalidade. O que me leva a acreditar ainda mais que métodos e técnicas são ineficazes. Eu acho que as crianças precisam ser respeitadas antes de mais nada, elas precisam ser ouvidas e compreendidas”, diz.

Kaline do Nascimento e os filhos Maria Helena e Ricardo (Foto: Arquivo Pessoal)

A mãe acrescenta ainda que busca criar seus filhos de uma forma livre, respeitando o espaço de cada um. “Eu acredito que preciso formar hoje o adulto que eu quero amanhã, respeitando as pessoas e o espaço que ocupa. Quero um adulto livre e seguro”, comenta.


Interferência externa

Apesar das perspectivas serem diferentes, os dilemas são os mesmos: Nathalia Caroline e Kaline do Nascimento sofrem com comentários e a interferência de terceiros, que sempre tem algo a comentar a respeito da criação de seus filhos. 

No caso da jornalista, é comum ouvir que “na época dos seus avós, não era assim que criavam os filhos”. Nathalia pontua que isso é uma das coisas que mais a incomodam em relação à maternidade. “Eu venho pesquisando desde a minha gravidez e, pelas coisas que eu li e especialistas que eu consultei, vi que era a melhor opção. O que me incomoda são alguns comentários de terceiros. Às vezes eles tentam colocar o método que eles fizeram na época deles, mas que na minha vivência não funciona”.

Já a analista de sistemas destaca que escuta muitas coisas sobre como a sua filha deve se comportar. “Costumo dizer que eu estou criando Maria Helena para ser livre, para falar o que pensa e não abaixar a cabeça, ser dona de si. E muitas vezes recebo críticas de pessoas dizendo que minha filha está se metendo em conversa de adulto, porque ela discute sobre política e outros assuntos. Outra crítica comum é dizerem que Maria Helena está dançando funk e que isso não é para a idade dela. Mas, na minha época, o “tchan” também não era para minha idade. Então, estou sempre combatendo esse tipo de coisa”, diz Kaline. 

Para a psicóloga Ianny Luizy, o respeito precisa prevalecer acima de tudo. “Temos que lembrar que não existe o jeito certo ou errado de educar seu filho, existe seu jeito de educar. E que cada mãe seja respeitada com as atitudes que elas queiram tomar sobre a educação do seu filho”. 


Psicóloga Ianny Luizy destacam que mães precisam ser respeitadas (Foto: Arquivo Pessoal)


E a tecnologia?

É inegável que a tecnologia está presente em todos os aspectos de nossas vidas. Todavia, muitas famílias buscam direcionar seus filhos em relação ao uso da tecnologia, especialmente quando ainda são crianças ou bebês. 

O pequeno Arthur, filho de Nathalia Caroline, não tem acesso às telas de celulares, computadores ou televisores desde que nasceu. Segundo a mãe, especialistas recomendam que, até os dois anos de idade, não haja nenhum tipo de entretenimento a partir das telas. 

“Ele não tem acesso, só se for um caso muito específico. Às vezes temos que recorrer ao celular para ele parar de chorar. Mas, no dia a dia, a gente brinca jogando bola. E isso faz com que ele seja uma criança muito ativa fora do celular. Talvez se ele tivesse tido acesso a essas telas, ele não seria uma criança tão ativa”, conta a mãe.

Especialistas recomendam que, até os dois anos de idade, não haja nenhum tipo de entretenimento a partir das telas (Foto: Pexels)

Sobre o assunto, a psicóloga Ianny Luizy destaca que deve exigir um espaço de interação com os pais e que esses sejam os maiores exemplos em relação a utilização de telas. “Hoje temos um mundo cheio de telas e muitos mais optam que suas crianças cresçam sem telas. Para isso, é necessário que se crie tempo de qualidade com os filhos, lembrando que o que mais ensina é o exemplo”.

Apesar de não direcioná-la ao seu bebê, Natalia Caroline diz que a tecnologia é essencial à ela no que se diz respeito ao monitoramento diário do seu filho. “Para mim, enquanto mãe, funciona bastante porque assim consigo monitorar toda a rotina dele e acompanhar o que ele está fazendo”, afirma Nathalia. 


Desafios diários 

Além de escolher uma maneira prática e didática de criar o filho, existem ainda outros desafios que não estão sob controle dos pais. A jornalista Nathalia Caroline destaca que a sua maior dificuldade é a falta de uma rede de apoio quando se precisa dela. 

“São muitos desafios, a rotina que temos é muito corrida. Como hoje em dia todo mundo tem alguma ocupação, se não tivesse a minha sogra para ficar com ele, talvez eu tivesse ainda mais dificuldade. Eu não tenho uma rede de apoio com outras pessoas, às vezes deixo de sair e de me divertir com meu marido porque não temos com quem deixar ele. Hoje é tudo voltado ao bebê”, diz a jornalista. 

Kaline do Nascimento, por sua vez, afirma que os desafios são exercícios diários enfrentados por todas as mães. Questões que envolvem a segurança física e mental dos pequenos, de acordo com Kaline, são um dos aspectos que mais preocupam. “Queremos proteger nossos filhos da maldade do mundo. E isso é algo que está além dos nossos super poderes de mãe. Mas, estou sempre orientando. Como dizia minha avó: "ser mãe é padecer no paraíso", finaliza.

Por fim, a psicóloga Ianny Luizy acrescenta que é preciso entender que mães não têm tudo sob controle e que, muitas vezes, é preciso sair da rotina. “Mesmo que se eduque um filho com uma rotina estabelecida, é de suma importância entender que nem sempre a rotina será seguida à risca e que imprevistos acontecem. Às vezes, sair da rotina é necessário, pois tudo é aprendizado e memórias afetivas são as que mais valorizamos”, conclui. 

Edição: Ithyara Borges
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