A data das cores, purpurina, da alegria e da folia chegou,
mas, diferente de outros anos, não poderemos ir às ruas extravasar, pular com
os amigos e cantar pulmões à fora. Diferente das edições anteriores, onde o
Carnaval seria recebido com muita festa, em 2021 precisamos nos conformar que
não teremos sua magia e encanto. As fantasias ficarão guardadas, assim como os
abraços e beijos, e nem faremos aquela aglomeração que tanto gostamos devido à
pandemia do novo coronavírus.
Se dizem que o ano só começa depois do Carnaval, então, de
certo que ainda estamos vivendo uma continuação de 2020. Mas, como não lembrar
das folias de momo sem sentir saudade? Como não ter vontade de encher o corpo
de glitter e sair por aí esbanjando boas energias? Para quem vive e respira
Carnaval, essa certamente será uma data difícil de ser lembrada sem apertar o
coração.
Em todo o Brasil, o Carnaval foi suspenso ou adiado, como
forma de evitar aglomerações e a disseminação da Covid-19. No Piauí, um dos
maiores eventos carnavalescos, o Corso de Teresina, não aconteceu este ano. Uma
festa que arrastava multidões e fomentava a economia local, tanto com a venda
de adereços, bebidas, comidas como pelo tradicional desfile dos caminhões, que
inclusive deu ao Corso o título de maior desfile de carros enfeitados a céu
aberto do mundo, garantindo sua entrada no Guinness Book , em 2012.
O Carnaval do interior do Piauí, também muito tradicional,
ficará apenas na lembrança dos foliões. A lista de cidades que recebiam
milhares de visitantes nesta época é grande: Água Branca, Barras, Luís Correia,
Parnaíba, União, Floriano e tantas outras. Por onde quer que passemos, o
Carnaval deixará um gostinho de saudade.
CARNAVAL, it’s my religion!
Foliã lembra como se preparava a cada ano para a aproveitar
os dias de festa e se mostra otimista para 2022
Se para muitos o período carnavalesco é apenas uma data para
curtir o feriado prolongado, para outros, o Carnaval é quase uma ‘religião’. A
preparação para este grande dia, e porque não dizer um verdadeiro evento,
inicia com bastante antecedência. Afinal, são pelos menos quatro dias de folia
que requerem fantasias chamativas e muita disposição.
A historiadora Gigi Leal, de 30 anos, é uma verdadeira
entusiasta do Carnaval. Ela é daquelas que fica o ano inteiro em contagem
regressiva para a chegada desta data e, de fato, a vida só começa depois do
Carnaval. “O que eu mais gostava de fazer no Carnaval era a preparação das
fantasias que eu iria usar nos cinco dias de festa. Ter uma fantasia para cada
dia leva meses de planejamento. Às vezes, as ideias já começavam a ser
esquematizadas na quinta-feira pós-carnaval. Eu gostava de ir ao Centro
procurar materiais para confeccionar as fantasias e depois me reunir com as
amigas para montarmos nosso ‘ barracão’”, conta.

Foto: Arquivo/PESSOAL
Apesar de sempre curtir as festas de momo em Teresina, nos
dois últimos anos Gigi viajou para outros Estados: em 2019, foi até Recife e,
em 2020, para o Rio de Janeiro. Mas não tem jeito, o calor dos piauienses
sempre fala mais alto e a faz escolher os bloquinhos da nossa terra.
“Gosto do Carnaval daqui, até porque Carnaval bom é com sua
turma e a maioria dos meus amigos passa o feriado por aqui. Eu sou a amiga que
movimenta todo mundo para bolar sua fantasia e nos dias de carnaval sair atrás
de alguma festa para jogar glitter em todo mundo. Se você não gosta de glitter,
passe distante de mim”, brinca a historiadora.
Gigi afirmou que, este ano, sentirá mais falta das fantasias,
bloquinhos de rua e das tradicionais prévias, como da Banda Bandida e do Baile
dos Artistas, e, claro, de se aglomerar com os amigos. “Tem uma foto de um pixo
na internet que diz ‘Não se mate, tem carnaval ano que vem’, essa é a minha
frase motivacional para os dias ruins, então eu estou fingindo que estamos no
mês de 2020, que ano que vem estaremos vacinados e terá Carnaval”, fala
ansiosa.
UNINDO TRIBOS E CORAÇÕES

Foto: Arquivo/PESSOAL
E quem disse que o Carnaval não junta todo mundo nessa
grande festa? Se você pensa que roqueiro não curte folia, está muito enganado.
O jornalista Diego Iglesias é um admirador da folia de momo desde criança,
quando ia às matinês com seus familiares. E histórias são o que não faltam para
contar. Ele já curtiu bloquinho com febre, já subiu em trio elétrico e até
aproveitou aqueles cinco minutos entre um trabalho e outro para arriscar uns
passinhos. Ele e a namorada, a professora universitária Carol Cabral, já
curtiram alguns carnavais juntos e lamentam por este ano não ter como celebrar
a data. “Ano passado foi o nosso segundo Carnaval juntos. No primeiro, fiz ela
descobrir o Carnaval de rua de Teresina, já que eu estava trabalhando para a
entidade que organizava a nossa folia. Acho que nos surpreendemos”, conta
Diego.
DIEGO E CAROL JÁ CURTIRAM ALGUNS CARNAVAIS JUNTOS
Já Carol comenta das viagens que o casal fez juntos e da
tristeza por este ano não ter Carnaval. “Não ter carnaval já era algo meio
previsível para nós, tendo em vista a pandemia. Ficamos bem tristes, ainda mais
porque nosso último Carnaval foi muito bom. Fizemos nossas próprias fantasias e
acessórios, inclusive, deve ter glitter espalhado até hoje no apartamento que
alugamos, e fizemos a programação dos blocos que iríamos para aproveitarmos da
melhor forma os bloquinhos de rua da cidade”, completou a professora.
BLOCOS TRADICIONAIS NÃO IRÃO ÀS RUAS

Foto: Arquivo/ODIA
Folião que é folião não deixa de pular atrás do trio.
Infelizmente, devido à pandemia e ao adiamento e/ou suspensão do Carnaval, os
blocos carnavalescos não sairão às ruas este ano. Em Teresina, alguns desses já
somam mais de uma década e meia espalhando alegria. Um deles é o Sanatório
Geral, que, em 2021, realizaria sua 17ª edição. O idealizador e coordenador do
bloco, Jorginho Medeiros, lamenta que o Sanatório não saia este ano. Mas
reforça que todos os cuidados devem ser mantidos, afinal, a pandemia da
Covid-19 ainda não encerrou. “Este seria o 17º ano do bloco Sanatório Geral.
Mas motivado pela pandemia, não vamos sair nem nos concentrar. Realmente é uma
grande perda para todo mundo. Os setores de festas e eventos tiveram que parar
praticamente 100% e o Carnaval, que mobilizaria a economia do Estado e de
Teresina, e do País como um todo, foi suspenso. Mas não temos como ir contra
isso, temos que nos resguardar para ver se no próximo ano a gente consegue
voltar com o bloco e as atividades públicas. É uma pena, porque muitas
famílias, vendedores, ambulantes, bares, seguranças, bandas, músicos, som,
gerador, palco, luz, e tantos outros, vão perder mais um ganha pão”, ressalta Jorginho
Medeiros. Outro tradicional bloco que não sairá às ruas este ano é o Capote da
Madrugada, que, em 2021, chegaria à sua 18ª edição. Para João Furtado,
presidente do bloco, apesar da tristeza, este é um momento de ficar em casa e
cuidar da saúde, não somente da sua, mas pensando no bem-estar da população em
geral. “Às vezes, passamos por grandes provações, como a que estamos passando
agora com essa pandemia. Estamos em um momento para nos mantermos em casa,
refletirmos e aguardarmos, pois com certeza vai passar. A Família Capote da
Madrugada deixa as suas sinceras condolências às famílias das milhares de
vítimas que tiveram suas vidas ceifadas por este vírus e pedimos a todos que
mantenham as recomendações para evitar a proliferação da doença. Este ano,
2021, não teremos Carnaval, mas com Fé em Deus em 2022 voltaremos”, profetiza.
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