As chamas das fogueiras juninas nunca apagaram no coração dos brasileiros, mesmo após dois anos sem o maior evento do País, suspensos devido à pandemia da Covid-19. Em 2022, as festividades vêm com tudo e prometem trazer toda a emoção e energia característicos do período. Então, é hora de tirar a roupa de quadrilha do guarda-roupa, bater a poeira do chapéu de palha e escolher seu par, porque o São João vai começar.
E se é para viver as festas juninas com intensidade, nada melhor do que participar de uma das maiores manifestações artísticas: as quadrilhas. Os grupos piauienses vêm se preparando desde janeiro deste ano, mesmo antes das festas juninas serem anunciadas para o mês de junho. Na verdade, eles nunca pararam de ensaiar, afinal, o São João corre na veia dos nordestinos de janeiro a janeiro. É o que conta o presidente da Federação de Quadrilhas Juninas do Piauí (Fequajupi), João Rodrigues.
(Foto: Federação de Quadrilhas Juninas do Piauí/Arquivo pessoal)
“Os preparativos estão de vento em popa, são mais de 30 grupos nos preparativos finais para começar a se apresentar na segunda quinzena de junho, com competições em diversos estados do Nordeste. No Piauí, muitos festivais já estão com data agendada, inclusive eventos privados. Já na segunda quinzena de julho, tem início os eventos nacionais, marcados para acontecer em Natal, em Brasília, na Bahia, entre outros”, conta.
Segundo João Rodrigues, todos os grandes festivais já sinalizaram que irão realizar seus eventos, o que tem animado ainda mais os grupos, que estão promovendo ensaios tanto online como presencial. Retornar com as festividades após dois anos tem gerado uma grande expectativa nos participantes e até uma sensação de ineditismo, sobretudo porque terá a presença do público.
“Agora, com a liberação, está todo mundo eufórico para esse retorno. Está parecendo a primeira vez que vamos dançar quadrilha. A gente vinha tendo, a cada ano, um crescimento e, parar assim por dois anos, retornando agora, é como se fosse começar do zero. Pisar no palco é único, e o que determina a apresentação é o público. São dois anos sem contato. Essa troca de energia dá um gás ainda maior para os grupos, que vivem de apoio das comunidades, bairros e cidades que convidam, e quando o público brinca junto é mais uma motivação, é o ápice de tudo”, diz o presidente da Federação.
Festivais juninos serão realizados até agosto
Por via de regras, as festividades juninas acontecem no mês de junho, mas, este ano a programação será diferenciada. Para dar conta de tantas apresentações e festivais, os eventos regionais terão início na segunda quinzena de junho e serão estendidos até agosto, quando encerram os festivais nacionais. A alteração das datas foi necessária para que os grupos tivessem mais tempo para ensaiar.
Segundo a Federação de Quadrilhas Juninas do Piauí, mais de quatro mil integrantes federalizados irão participar diretamente dos festivais este ano. Em geral, os grupos têm acima de 40 integrantes, porém, alguns podem ultrapassar os 160 componentes. Para iniciar o esquenta e animar o público, será realizado, neste domingo (29), o pré-junino, com apresentação de 10 grupos juninos. O evento é simbólico e terá duração de 15 minutos por quadrilha. O evento ocorre na Nova Potycabana, das 18h às 22h e a entrada é gratuita.
Há duas semanas das festas, quadrilhas intensificam ensaios
Os grupos de quadrilhas juninas estão em contagem regressiva para o início dos festivais. Faltando apenas duas semanas para o início do período junino, os quadrilheiros estão intensificando os ensaios para que tudo fique perfeitamente coreografado. Natan Costa é presidente da quadrilha Balança Matuto e conta sobre a empolgação do grupo.
“Os componentes estão muito felizes por retornar ao São João verdadeiro, pois estavam sendo feitas apenas lives. A quadrilha irá dançar com 40 pares e estamos ensaiando desde o dia 15 de março. Estamos tentando nos organizar, principalmente o financeiro, que é muito alto, mas estamos otimistas”, relata.
(Foto: Federação de Quadrilhas Juninas do Piauí/ Arquivo pessoal)
A expectativa é de que o figurino e as coreografias estejam concluídas até o dia 15 de junho. A quadrilha Balança Matuto irá participar dos arraiais organizados pela Federação, que ocorrerão tanto em Teresina como em outros municípios Demerval Lobão, União e José de Freitas.
Figurinos recebem atenção e encantam pelos detalhes
Além da coreografia, o figurino dos quadrilheiros é algo que encanta o público, especialmente pela riqueza de detalhes. O brilho, as cores e até a dimensão das peças torna a apresentação ainda mais vibrante. E já que é para fazer bonito, os estilistas e designers não economizaram na criatividade e desenvolveram roupas que prometem encher os olhos. A produção está a todo vapor e os ateliês estão correndo contra o tempo.
O figurino do grupo Balança Matuto está sendo confeccionado pela equipe do Renato Nunes (31). A produção segue acelerada para dar conta de todos os detalhes. Somente desta quadrilha são 80 peças, 40 masculinas e 40 femininas. A confecção segue paralela à produção de outros três grupos juninos. Para concluir tudo no prazo, só mesmo uma jornada dupla.
(Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Temos seis costureiras, três pela manhã e três à tarde, costurando a todo vapor. O prazo máximo para entregar é dia 15 de junho, que é quando iniciam as apresentações, porque as peças ainda precisam ser bordadas e passar pelos últimos ajustes de prova. As peças são muito trabalhadas, especialmente as de destaque, como da rainha caipira, noivos e Maria Bonita. Cada quadrilha gasta, em média, R$50 mil para confeccionar todo o figurino”, explica Renato Nunes.
O investimento no figurino tem sido alto este ano. De acordo com o costureiro e dançarino, as quadrilhas do Piauí eram muito criticadas no quesito roupas. “Se alguma quadrilha do Piauí chegava no festival, as pessoas diziam que o figurino era muito simples, mas eu venho notando que os grupos estão investindo bastante nessa parte, à nível das quadrilhas nacionais. Para mim, é uma felicidade muito grande chegar em um local e as pessoas elogiarem, dizendo que o figurino está bonito”, complementa.
Período junino aquece as vendas e impulsiona o comércio
Além de animar o público, o período junino é uma época que movimenta o comércio. Milhares de pessoas e empreendimentos se beneficiam com a data, seja com a venda de tecidos, aviamentos, comidas, adereços, entre outros. Renato Nunes, proprietário de um ateliê, conta que, neste período, o foco são as roupas juninas.
“O ateliê costura todo tipo de vestuário, mas neste período a gente para só para atender as festas juninas. Eu tenho as costureiras que confio e nesta época do ano elas me ajudam bastante, às vezes, ficando até além do horário. É também uma forma de gerar uma renda extra”, conta.
Juliana Pereira (29) é costureira há 12 anos, mas somente há quatro anos tem produzido vestuários juninos. Uma oportunidade que ela agarrou e que tem dado muito certo, especialmente pelo extra que gera neste período.
(Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“É muito prazeroso e gratificante ver as pessoas vestidas com as roupas que produzimos. Para dar conta, precisamos dobrar os horários. É emoção demais, é uma arte, não é só uma costura. Eles trazem as ideias e a gente coloca em prática, atentos a cada detalhe. E não deixa de ser uma renda extra, um dinheiro que ajuda em casa”, disse.
Cláudia Ribeiro da Costa (47) também é costureira. Dos 27 anos de profissão, este é o primeiro que ela dedica para fazer roupas de quadrilha. “São peças que exigem muito cuidado, pois tem muitos detalhes embutidos, precisam ser resistentes, já que os movimentos são rápidos. Tem sido uma renda extra, porque depois da pandemia as coisas ficaram muito difíceis, então qualquer valor que entrar é bom, além, claro, de ser uma experiência. Estou gostando e pretendo continuar”, completa.
Comércio aposta em adereços e artigos decorativos
A procura por adereços juninos já começa a aquecer as vendas no comércio do Centro e bairros de Teresina. Os lojistas estão com o estoque abastecido e garantem que a tendência é que as vendas melhorem ainda mais no mês de junho e julho, quando de fato as festas juninas irão acontecer.
Para este ano, os lojistas estão apostando em adereços de cabeça, como tiaras e presilhas que remetem ao tema junino. Fitas, laços e mini chapéus de palha tornam o acessório o grande diferencial da composição. Esses e outros acessórios juninos sofreram aumento. Se antes um adereço podia ser comprado por R$7, este ano não deve sair por menos de R$12.
(Foto: Assis Fernandes/ODIA)
“Mesmo com o preço acima, as pessoas estão comprando. O período junino tem um significado muito grande para as pessoas, é tradicional, e ninguém quer deixar de participar. Já estamos sentido um aumento das vendas, mas acredito que vai melhorar só mais perto das festas, porque todo mundo deixa sempre para última hora”, Rosário Trajano, gerente administrativa de uma loja de acessórios no Centro de Teresina.
Na loja do empresário Valdinei Tavares, a procura por chapéus, bandeirolas e demais artigos de decoração já começou. “Geralmente quem nos procura são os comerciantes, que aproveitam nossos preços de atacado para abastecer os comércios de bairro. Todos os anos temos que trazer novidades, então como este ano terá Copa do Mundo, os artigos decorativos estão vindo nas cores verde e amarelo”, conta.
Famílias organizam festa temática para confraternizar
As festas juninas são tão tradicionais na vida da advogada Bruna Teles Gomes (25), que ela e sua família se reúnem todos os anos para confraternizar. Rodeados de comidas típicas e artigos decorativos, eles aproveitam a data para provar os quitutes característicos da época e dançar quadrilha.
“A festa junina sempre foi a minha festa favorita, desde a época da escola, em que tínhamos que ensaiar as apresentações e participar das festinhas. Minha família é grande, daquelas que se reúnem sempre e gostam de comemorações. Há uns quatro anos dei a ideia de fazermos comida de festa junina em um final de semana do mês de junho e todo mundo gostou”, explica.
O encontro deu tão certo que, no ano seguinte, a organização começou com antecedência. Cada membro da família ficou responsável por preparar uma comida típica, enquanto outros familiares organizavam as brincadeiras e decoração.
Bruna Teles e família (Foto: Arquivo pessoal)
“As festas sempre acontecem aqui em casa. Em 2020, teve até uma reforma para deixar ainda melhor o espaço de fazer a festa. Fazemos dia 24 de junho ou próximo da data. O cardápio é de comidas típicas e aqui nunca pode faltar o arrumadinho. Minha mãe faz a Maria Isabel, paçoca e o creme de galinha. Sempre tem bolo de milho, mingau de milho, beiju com leite condensado e coco ralado, canjica, bolo de macaxeira”, comenta.
Bruna Teles Gomes enfatiza que para a brincadeira ficar ainda melhor, todos devem vão caracterizados, com chapéu de palha e roupas quadriculadas. A compra dos artigos de decoração também são comprados com antecedência, para que tudo fique perfeito