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Maternidade Dona Evangelina Rosa: o berço das histórias de vida do Piauí

Com quase 50 anos de existência, a MDER construiu seu próprio legado e identidade, sendo considerada referência em atendimentos de alta complexidade obstétrica

29/07/2023 às 15h33

28/09/2023 às 11h45

Há décadas, a Maternidade Dona Evangelina Rosa (MDER) tem sido o ponto de partida para inúmeras histórias de vida no Piauí. Com quase 50 anos de existência, a unidade de saúde é local de memórias, desafios e transformações. Sua história se confunde com a de milhares de piauienses que deram seu primeiro suspiro nas dependências da instituição. Fundada em 1976, a MDER surgiu após a suspensão dos serviços da Maternidade São Vicente. A missão da maternidade voltou-se, então, para representar uma nova era na obstetrícia do Piauí. Hoje, a Maternidade Dona Evangelina Rosa é considerada referência em atendimento de alta complexidade obstétrica e perinatal. 

O médico obstétrico Joaquim Parente, de 79 anos, realizou um dos primeiros partos na MDER. Ele conta que, inicialmente, a criação da maternidade foi desacreditada. No entanto, um esforço coletivo permitiu o desenvolvimento da instituição que visava, sobretudo, acomodar gestantes que apresentavam complicações na gravidez ou após o trabalho de parto. “O governador Alberto Silva, sentindo as limitações da Maternidade São Vicente, empreendeu uma missão que quase ninguém acreditava à época, que era construir no seu próprio governo um hospital maternidade”, explicou.

Com mais de 40 anos de atuação, o Dr. Joaquim já realizou mais de 20 mil partos e viu diferentes gerações nascerem na Maternidade Dona Evangelina Rosa, ficando marcado em sua vida profissional os diversos acompanhamentos que realizou durante esse período. “Foram tantos partos que é difícil elencar somente um. Tivemos a oportunidade de fazer o parto de uma criança que foi a mais pesada que já peguei nos braços, ela tinha 5,3 kg. E uma série de outras situações que vi acontecer, sobretudo no que diz respeito à pesquisa.”, comenta o médico.

Dr. Joaquim Parente, obtestra há mais de 40 anos da MDER  - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
Dr. Joaquim Parente, obtestra há mais de 40 anos da MDER

Desde a sua criação, a instituição valorizou o ensino e a pesquisa. Ainda no início de sua existência, a Evangelina Rosa tornou-se Hospital-Escola, recebendo disciplinas de obstetrícia e pediatria da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Foi na MDER, em 1981, que foi realizada a primeira pós-graduação na área médica no Estado do Piauí. Por ano, cerca de 50 projetos de pesquisa foram realizados na maternidade, o que demonstra sua importância na educação médica piauiense. 

Ao longo dos anos, a maternidade protagonizou vários marcos, como em 1997, quando realizou a primeira ultrassonografia em hospital público do Estado, e em 2013, com a realização do primeiro teste do coraçãozinho, que visa detectar cardiopatia congênita no recém-nascido. As evoluções e transformações puderam ser vistas por todos os funcionários e pacientes da entidade, que ajudaram a construir a sólida identidade da instituição.

Só quem entende a importância dessa casa são as pessoas que vivem lá. Temos pacientes que chegam em situações gravíssimas e significativas e, no final, conseguimos reverter a situação. Isso é extremamente importante. A maternidade construiu sua própria identidade e, apesar de todas as dificuldades, conseguiu se manter por 47 anos.

Dr. Joaquim Parente Obstetra

“Viver foi possível graças à estrutura da maternidade”, diz jornalista que fez a primeira cirurgia de atresia de esôfago na MDER

A jornalista Maria Clara Oliveira, de 30 anos, teve a vida transformada pela Maternidade Dona Evangelina Rosa. Nascida prematura no local, Maria Clara passou por uma cirurgia pioneira de atresia de esôfago quando ainda era recém-nascida. Na época, a cirurgia foi financiada pelo Governo do Estado, pois nenhum plano de saúde cobria o procedimento e não havia Sistema Único de Saúde (SUS).

Maria Clara nasceu com menos de 2 kg e enfrentou um parto de emergência. Os médicos logo descobriram que ela nasceu sem parte do esôfago, o que exigia uma cirurgia urgente para reconstruir a ligação do órgão com o estômago. A cirurgia foi realizada com sucesso, tornando-a a primeira criança no estado a passar por esse procedimento.

"Quando eu nasci, em meu primeiro suspiro, os pulmões já foram afetados e os exames detectaram que eu nasci sem parte do esôfago, sem a ligação do esôfago com o estômago. E aí precisava fazer, em caráter de urgência, essa cirurgia. Na época, o parto foi feito na Evangelina Rosa", lembra a jornalista. 

A cirurgia consistiu em reconstruir a ligação entre o esôfago e o estômago, sendo um sucesso graças à dedicação da equipe da MDER. Maria Clara passou três meses dentro de uma incubadora, recebendo cuidados e sendo alimentada por sondas. "O procedimento e o pós foram um sucesso. O médico responsável por me atender criou um ambiente ao meu redor que simulava a temperatura do útero, e isso só foi possível graças à estrutura que a maternidade já tinha na época", conta Maria Clara.

Maria Clara Oliveira fez a primeira cirurgia de atresia de esôfago na MDER - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Maria Clara Oliveira fez a primeira cirurgia de atresia de esôfago na MDER

Naquele período, não havia histórico de bebês recuperados por esse método, tornando a situação de Maria Clara ainda mais desafiadora. Ela recorda um caso triste de um menino que nasceu no mesmo período que ela, com o mesmo problema, mas cuja cirurgia não teve sucesso, resultando em seu falecimento poucos dias depois.

"Viver foi possível por conta da estrutura da maternidade e porque o médico teve as condições para dar vida a ideia dele. Nunca tive complicações por conta da cirurgia, cresci e meu esôfago também cresceu", ressalta Maria Clara.

A história de Maria Clara destaca a importância da Maternidade Dona Evangelina Rosa, que salva vidas e oferece oportunidades de tratamento para famílias em momentos delicados.

Teresinense que nasceu prematura na MDER hoje trabalha como fonoaudióloga na instituição

“É muito gratificante trabalhar no local em que nasci e ouvir histórias parecidas com a minha”. O relato é da teresinense Priscila Sales, que em 1996 nasceu prematura na Maternidade Dona Evangelina Rosa. Através dos cuidados dos funcionários que lá atuavam no período de seu nascimento, tornou-se uma criança forte. Hoje, 27 anos depois, Priscila trabalha como fonoaudióloga na MDER. 

Priscila Salles nasceu com apenas 800 gramas, um peso extremamente baixo. Foram dois meses de internação, divididos entre um mês na UTI neonatal e outro mês na enfermaria, até que Priscila ganhasse peso suficiente para ter alta e começar sua jornada. Anos depois, impulsionada pelo exemplo dos profissionais que a ajudaram a vencer os desafios iniciais de sua vida, formou-se em fonoaudiologia. 

“Durante o período da faculdade eu estagiei da maternidade. Após me formar, fui chamada para trabalhar efetivamente aqui. Estou trabalhando na enfermaria há cerca de sete meses. Diariamente ajudo mães e crianças”, comenta a fonoaudióloga.

Priscila Sales, fonoaudióloga da MDER - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Priscila Sales, fonoaudióloga da MDER

A história de Priscila é um exemplo vivo do ciclo de cuidado que faz da Maternidade Evangelina Rosa ser o que ela é. Seu trabalho, assim como o de tantos outros profissionais dedicados, reafirma a importância da instituição como uma referência no atendimento de alta complexidade obstétrica e perinatal, moldando o futuro de inúmeras histórias de vida no Piauí.

Ouço diversos pacientes falando sobre seus filhos que também nasceram prematuros e com baixo peso, assim como eu. Algumas mães até brincam comigo, dizem que hoje sou uma mulher cheia de saúde. Nós, os funcionários, tentamos acolher da melhor forma cada paciente. E levar esperança através de orientações e cuidados.

Priscila SalesFonoaudióloga

Nova Maternidade Dona Evangelina Rosa é inaugurada e promete continuar histórias de superação

Foi inaugurada, nesta sexta-feira (28), a Nova Maternidade Dona Evangelina Rosa, que fica situada na avenida Presidente Kennedy, zona Leste de Teresina. Com uma nova estrutura, a maternidade promete continuar as histórias de nascimento, tratamento e superação no Piauí. Inicialmente, a unidade de saúde irá atuar com os serviços ambulatoriais. Já em outubro deste ano, passo a funcionar com toda sua capacidade. 

Na obra foram investidos cerca de R$ 175 milhões. “Todos os serviços oferecidos pela Evangelina Rosa estarão na nova maternidade, só que em maior quantidade, reduzindo a fila de espera. Teremos mais UTIs e ambulatórios”, destaca o secretário de Saúde do Piauí, Antonio Luiz. 

Leia também: Ministra da Saúde participará da inauguração da nova Maternidade de Teresina

Diante da mudança, muitos se perguntam o que irá ocorrer com o antigo prédio da maternidade que continuará funcionando com alguns atendimentos até que toda a transição esteja completa. Quando todos os serviços forem transferidos, a atual maternidade prestará outros serviços. Serão abrigados no local centros como o Núcleo de Prevenção aos Transtornos Mentais, Centro de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Idosa, além de unidades de acolhimento adulto e infantil.

A nova unidade é tida como a maior maternidade pública do Brasil e conta com 293 leitos, mais de 20 especialidades e cerca de 1.200 servidores, que irão garantir maior capacidade de atendimento às gestantes e recém-nascidos. 

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