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Piauí lidera geração de energia limpa, mas deficiência na transmissão impõe desafios

Infraestrutura de transmissão de energia produzida no estado impede aproveitamento total de capacidade de produção elétrica.

17/03/2025 às 08h32

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O Piauí desponta como um dos estados brasileiros com maior potencial na geração de energia renovável, sobretudo a partir das fontes solar e eólica. Nos últimos anos, investimentos bilionários foram direcionados para parques de energia limpa, consolidando a região como protagonista no setor. No entanto, apesar do avanço expressivo, o desenvolvimento dessa matriz energética enfrenta desafios estruturais, burocráticos e econômicos que precisam ser superados para garantir a plena utilização do potencial local.

Piauí lidera geração de energia limpa, mas deficiência na transmissão impõe desafios - (Divulgação/CCOM) Divulgação/CCOM
Piauí lidera geração de energia limpa, mas deficiência na transmissão impõe desafios

Entre os principais entraves, estão a falta de infraestrutura adequada para escoamento da energia gerada e a necessidade de aprimoramento na legislação que rege o setor. A deficiência na transmissão tem impedido que toda a capacidade instalada seja aproveitada, resultando em perdas para empresas e consumidores. Além disso, as regras para licenciamento ambiental e outorga ainda geram incertezas e podem desestimular novos investimentos.

Outro fator crítico é o financiamento. Embora haja incentivos fiscais e linhas de crédito específicas, muitos empreendedores enfrentam dificuldades para acessar recursos financeiros a taxas competitivas. A questão da segurança jurídica também surge como um desafio, com disputas relacionadas às terras onde os parques eólicos e solares são instalados, o que pode impactar a confiabilidade dos projetos a longo prazo.

A sustentabilidade social também é um ponto de atenção. O crescimento do setor deve ser acompanhado por políticas públicas que promovam a capacitação da mão de obra local e a distribuição equitativa dos benefícios econômicos gerados. Sem essas medidas, comunidades próximas aos grandes empreendimentos podem não se beneficiar plenamente da expansão da energia renovável.

A reportagem do Jornal O DIA ouviu especialistas do setor. Marcos Lira, professor do curso de Engenharia Elétrica e Pró-reitor de Planejamento da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí, analisam os principais problemas e sugerem soluções para que o Piauí continue avançando na liderança da geração renovável no Brasil.

Infraestrutura e burocracia como entraves

Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e as Agências Brasileiras Solar e de Energia Eólica (ABSOLAR e ABEEólica) colocaram o estado no topo do ranking nacional em matriz elétrica renovável, além de ser o 3º em produção de energia solar centralizada (2025) e eólica (2023) no país. O especialista Marcos Lira aponta que o Piauí se tornou um líder na produção de energias renováveis devido a dois fatores principais: as condições climáticas favoráveis e as políticas públicas voltadas para o incentivo à geração de energia.

“Tem dois fatores que ajudaram o Piauí a chegar nessa condição de líder na produção, na geração de energias renováveis aqui no Brasil. Primeiro, as condições climáticas favoráveis, então a gente tem um bom regime de ventos, principalmente no litoral e na região de chapada, ali no Sul do estado, região de Serra. As condições de radiação solar também são as melhores do Brasil. Nós temos sol praticamente todos os dias do ano, uma das maiores incidências de radiação solar do Brasil está aqui no Piauí. Então a gente pode associar também a esse fator, o fato das políticas públicas voltadas para o incentivo de geração de energia, sobretudo energia solar e energia eólica, porque não basta não ter as condições naturais, meteorológicas, climáticas naturais sem o incentivo às políticas públicas”, disse.

Marcos Lira, professor do curso de Engenharia Elétrica e Pró-reitor de Planejamento da Universidade Federal do Piauí (UFPI) - (Reprodução/Arquivo Pessoal) Reprodução/Arquivo Pessoal
Marcos Lira, professor do curso de Engenharia Elétrica e Pró-reitor de Planejamento da Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Ele destaca que o maior desafio para a expansão da energia renovável no Piauí é a infraestrutura de transmissão. Segundo ele, a capacidade instalada já é elevada, mas as redes de transmissão e distribuição não acompanharam o ritmo de crescimento dos parques solares e eólicos. Isso significa que, mesmo gerando grandes volumes de energia, parte desse potencial é desperdiçado ou fica ocioso.

“Apesar da expansão, a gente tem um, talvez o principal desafio, seja o escoamento dessa energia através de linhas de transmissão, porque você tem condições favoráveis de gerar essa energia renovável em vários lugares do Piauí, mas muitas vezes você não tem os pontos de conexão na redistribuição, que são as linhas de transmissão. Então eu preciso criar uma condição de colocar as minhas usinas geradoras próximas dos pontos de escoamento, que são essas linhas de transmissão. Então diversificar essa malha e essa linha de transmissão é extremamente importante para a expansão dessas energias”, afirma.

Apesar dos avanços no marco regulatório, que estabelecem critérios claros para a instalação de usinas solares e eólicas, um dos principais desafios que ainda persiste é a burocracia envolvida na concessão de licenças ambientais. O especialista aponta que, embora os processos estejam bem definidos a nível nacional e estadual, a morosidade na aprovação dos projetos pode desestimular investimentos, prejudicando a agilidade necessária para o crescimento desse setor.

“Do ponto de vista do marco regulatório, esses desafios estão superados. A gente tem um marco regulatório a nível nacional, a nível estadual, que dá todas as condições para implementação dessas energias. Então, do ponto de vista jurídico e regulatório, não existe nenhuma dificuldade. Até porque o marco estabelece quais são os critérios para você colocar uma usina solar e eólica. Então, o estudo e relatório de impacto ambiental, e isso, se a empresa não fizer, ela não consegue avançar no projeto”, relata.

O especialista Marcos Lira também enfatiza que o armazenamento de energia continua sendo um dos maiores desafios para a geração renovável, especialmente para a solar e eólica. Ele explica que, embora a geração dessas energias seja abundante durante o dia ou em períodos com bons ventos, a energia precisa ser consumida em outros momentos, além de garantir uma fonte de energia mais estável e capaz de suprir possíveis desabastecimentos.

“Armazenar energia é sempre um desafio, mas é um desafio que precisa ser enfrentado o quanto antes, porque quando eu gero energia, seja ela numa hidroelétrica, na usina solar, ou na usina eólica, eu tenho que gerar e essa energia precisa ser consumida, no mesmo instante, não tem como armazenar essa energia. Então, quando eu resolver o problema do armazenamento da energia, e não pode ser em pequenos dispositivos, sem ser dispositivos robustos, onde eu possa armazenar essa energia por alguns dias, eu vou resolver esse problema, porque imagina, eu gerei energia solar durante o dia, não tem como gerar energia solar à noite, mas essa energia que eu gerei durante o dia, hoje eu não posso usar à noite. Quando eu resolver o problema do armazenamento, sim, eu vou ter uma energia que eu posso usar à noite, eu posso usar em dias nublados, chuvosos, com a energia eólica é a mesma coisa, quando eu conseguir armazenar essa energia estará resolvido o problema dos possíveis desabastecimentos de geração”, ressaltou.

Impactos econômicos e o desenvolvimento do Piauí

Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí, enfatiza o compromisso do governo estadual em fomentar o setor. Segundo ele, o Piauí não apenas lidera em matriz elétrica renovável, mas também se posiciona como um exportador de energia limpa para outras regiões do Brasil.

“O governador Rafael Fonteles ele vem através dos programas e dos incentivos que são identificados e encontrados, distribuídos em suas vastas secretarias, identificando oportunidades para que a atração de grandes empreendimentos, sejam eles nacionais e/ou internacionais, sejam instalados aqui no estado do Piauí. O Piauí tem essa vocação das energias, mas tem um diferencial competitivo e comparativo em relação aos demais estados do nordeste que é a abundância de água [...]. Então, temos grandes motivadores que colocam o estado do Piauí como um diferencial comparativo e competitivo entre os demais estados e entre os demais projetos que a gente vem identificando e que vão se concretizar ao longo dos próximos anos”, analisa.

Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí - (Assis Fernandes / O DIA) Assis Fernandes / O DIA
Ricardo Castelo, vice-presidente de Energias Renováveis da Investe Piauí

Castelo destaca também a importância da qualificação da mão de obra local como um dos pilares para o sucesso do setor no estado. Ele ressalta que, além das condições climáticas favoráveis e das políticas públicas, o Piauí tem uma vocação natural para formar profissionais capacitados, por meio das universidades e cursos técnicos.

“O Piauí também tem uma vocação muito importante de formação de mão de obra, através das suas universidades, através dos seus cursos, tentando aproveitar a mão de obra local, fazer com que o estado aproveite essa essa onda, eu diria que é um um ‘tsunami’ em relação ao que está se projetando e em relação ao mercado de empregos e geração de renda. A gente vê uma série de universidades apresentando os seus cursos para que a formação de mão de obra comece a ser estabelecida agora, porque realmente os empregos vão se dar daqui a dois ou três anos. E a mão de obra precisa ser qualificada para este novo mercado de investimentos”, relatou.

Ele enfatiza ainda que os investimentos no setor de energias renováveis no Piauí estão alinhados com uma visão de futuro, voltada para a Quarta Revolução Industrial e o novo desenvolvimento do mercado industrial. Ele explica que, tradicionalmente, grandes projetos estavam concentrados no Sul e Sudeste do Brasil, mas agora o foco se desloca para o Nordeste, onde as fontes de geração de energia estão em abundância.

“Diversos grandes projetos estão se dirigindo ou estão se distribuindo no Brasil, de uma maneira geral, eram no Sul e Sudeste, mas agora o que se vê é a Quarta Revolução Industrial ou o novo desenvolvimento do mercado industrial ele deve se instalar mais próximo das fontes de geração de energia, e pelo que vemos é que essas fontes estão no Nordeste. Mas como nesse primeiro o sistema interligado poderia absorver esse tipo de carga e geração? Através de linhas e subestações,. E desde o ano passado, através de leilões de linhas e subestações, o estado do Piauí ganhou em torno de cinco lotes das empresas Eletrobras e EDP para ampliar o sistema de rede de transmissão e subestações dentro do estado. Isso faz com que estado se torne mais robusto e mais apropriado para receber todos essas instalações e desenvolvimento que deve ocorrer nos próximos anos, mas não significa dizer que é o bastante, porque a carga que vem é muito elevada e precisa de muito mais estudos a serem realizados, pois é uma carga nova”, cita.

Por fim, ele destacou as iniciativas do governo estadual para minimizar os impactos sociais nas comunidades locais causados pelos grandes projetos de energia. Ele explicou que, embora o aumento de renda e a geração de empregos sejam efeitos positivos das obras, há momentos em que os impactos negativos se tornam evidentes, especialmente durante o pico das obras e na continuidade dos negócios ao longo dos anos.

“Os impactos aí pressupõe algo que é positivo sobre algum ponto de vista que está relacionado ao aumento da renda, a geração de emprego, as informações relacionadas a fixação do homem naquela localidade, mas em determinados momentos da obra vem sendo identificado como algo que precisaria ter uma visão social, um pouco mais abrangente, até conta do pico da obra e depois da continuidade dessas empresas ou desse negócio por mais 20 a 25 anos. E o Governo do Estado, através de suas secretarias, vem estabelecer uma visão muito intensa, crítica em relação ao que pode estar acontecendo, estabelecendo de alguma forma parcerias ou ajudas em relação a algumas prefeituras quando estas procuram o Estado para que seja identificados e ajudados em relação a essa variação de carga tributária, investimentos que são feitos em relação a esses dois marcos que eu diria: o momento da instalação e o da operação. Nós identificamos muito ainda para ser feito, mas que está sendo feito de maneira muito criteriosa, com visão muito abrangente pelo Governo do Estado, pelo governador Rafael Fonteles, que trata o assunto de maneira importante”, argumenta.


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