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Setembro amarelo: Grupos de apoio ajudam pessoas enlutadas a passar por momento do luto

A pessoa que fica deve internalizar que fez o que esteve ao seu alcance e, apesar das dores psíquicas que surgem repentinamente, o enlutado não deve carregar essa culpa.

26/09/2023 às 10h06

28/09/2023 às 17h02

O luto do suicídio descreve o período de ajustamento à uma morte por suicídio vivenciado por familiares, amigos e outras pessoas afetados pela perda. O posvenção ao suicídio inclui as habilidades e estratégias para cuidar de si ou ajudar outra pessoa a se curar após a experiência de pensamentos suicidas, tentativas ou morte. É um processo que exige, além de tudo, empatia e acolhimento do próximo.

A psicóloga Regina Reis, especialista em Suicidologia e mãe enlutada por suicídio, pontua sobre os sentimentos que se fazem presentes na vida das pessoas que perdem alguém. Ela comenta que a sensação de desorganização é comum, assim como as dúvidas, mas que o enlutado não pode se culpar pelo que ocorreu.

O enlutado não pode se culpar pelo que ocorreu. - (Nathalia Amaral/O Dia) Nathalia Amaral/O Dia
O enlutado não pode se culpar pelo que ocorreu.

“Acontece uma desorganização e a gente fica sem norte. O enlutado vai precisar se ajustar a uma nova vida sem a presença física do seu familiar. Depois da partida, o enlutado fica com muitas perguntas em respostas, um mix de sentimentos, como a vergonha, pois nos sentimentos fracassados e com aquela sensação de ter que dar justificativa, mas que não sabemos, porque a pessoa que parte leva consigo essas respostas. Vem um sentimento de culpa e isso maltrata”, pontua.

A especialista destaca ainda que a pessoa que fica deve internalizar que fez o que esteve ao seu alcance e, apesar das dores psíquicas que surgem repentinamente, como sensação de mal-estar, choro compulsivo e a não aceitação, o enlutado não deve carregar essa culpa. Para isso, deve-se buscar ajuda de especialistas e grupos de apoio.

Psicóloga Regina Reis - (Divulgação/Arquivo pessoal) Divulgação/Arquivo pessoal
Psicóloga Regina Reis

A pessoa que fica, no contexto de vivência, e que conseguiu perceber algum comportamento diferente, fez tudo que estava ao seu alcance. Em muitos casos a gente não percebe, por isso esse sentimento de culpa permanece por muito tempo, mas com a psicoterapia e a rede de apoio a gente vai conseguindo lidar com esses sentimentos, inclusive com o sentimento da raiva e da revolta.

Regina ReisPsicóloga

Regina Reis comenta ainda que o luto por suicídio é algo silencioso e solitário. Nesse processo, o enlutado precisa desse momento de calmaria para se conectar com seus sentimentos e com sua dor. Enquanto alguns optam por não falar sobre o assunto, outros preferem falar repetidas vezes, com uma necessidade que ele tem em externar aquela dor.

Além disso, o luto por suicídio é um processo que leva tempo. Algumas pessoas podem demorar mais, outros retomam a rotina mais rapidamente, mas cada um no seu ritmo. Nesses casos, o luto não tem um tempo cronológico, é um processo adaptativo a uma nova vida sem a presença física da pessoa física que partiu.

“É um processo desafiador; por isso, é de fundamental importância que a sociedade e as pessoas em geral conheçam mais sobre as dificuldades do enlutado. Como que ficam os familiares, pai, mãe, filhos e irmãos após um luto por suicídio? É muito difícil para o enlutado viver com essa experiência de perder alguém”, acrescenta a psicóloga.

Frases que não devem ser ditas a um enlutado

Na tentativa de ajudar e acolher esse enlutado, muitas pessoas acabam deixando a situação desconfortável, justamente por falta de conhecimento ou por não saber como lidar com o suicídio. A psicóloga Regina Reis, especialista em Suicidologia, orienta sobre as frases que devem ser evitadas e reforça a importância da escuta ativa.

- “Você precisa ser forte”: a pessoa pode se questionar como ser forte após a perda de alguém, sendo que, nesse momento, ela só quer externar sua dor

- “Você não percebeu nada?” - muitas pessoas não têm como perceber as intenções do outro, mudanças de comportamento e sinais de alerta;

“Ofereça uma escuta acolhedora, tenha compaixão, esteja ao lado e ofereça ajuda. Não precisa falar muita coisa, a qualidade de presença é importante, porque essa pessoa quer que sua dor seja reconhecida e validada. Participe de grupos de apoio que ajudam pessoas enlutadas a passar por esse momento, pois é um espaço onde essa pessoa poderá compartilhar sua dor e dificuldades, que não está sozinho e outras pessoas também compartilham dessa experiência. É uma troca e ajuda mútua. No grupo de apoio também é valorizado o autocuidado e daqueles que continuam aqui, observar a alimentação, o sono, o emocional e espiritual. Temos a necessidade dessa busca interior, de nos encontrarmos, independente de religião, para sentir que não está sozinho”, conclui a psicóloga Regina Reis, especialista em Suicidologia.

Setembro Amarelo - (Arquivo / O DIA) Arquivo / O DIA
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