Allan Santos da Silva, de 24 anos, ficou injustamente preso por sete dias na cidade de Teresina. O jovem, que trabalha como entregador, foi confundido com um criminoso de mesmo nome, porém 18 anos mais velho, foragido da justiça do Espírito Santo.
O incidente começou no último sábado (20), quando Allan foi abordado pela polícia enquanto estava com amigos em um sítio na zona rural de Teresina.
Apesar das diferenças físicas entre ele e o homem procurado, além da discrepância nas documentações, Allan foi levado à Central de Flagrantes onde ficou por três dias e, posteriormente, foi transferido para a Colônia Agrícola Major César, onde permaneceu detido por mais quatro dias.
Durante a detenção, Allan relatou que foi impedido de se comunicar com sua família. "Verificaram o meu CPF e não encontraram nada. Mesmo assim, me levaram para a central. Fiquei preso por sete dias, fui humilhado, maltratado, tive o cabelo raspado, nunca passei por isso antes na vida", disse o jovem em um vídeo publicado nas redes sociais.
A liberação de Allan ocorreu após a intervenção do defensor público Juliano Leonel e uma audiência de custódia. O juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos de Teresina, emitiu a decisão de soltura, destacando o "patente engano" na prisão do entregador.
"Tais nacionais possuem filiação paterna, data de nascimento, números de RG e CPF, naturalidade e fisionomia totalmente discrepantes entre si. Nesse sentido, é patente engano, uma vez que flagrantemente se tratam de homônimos, caso em que o que cumprimento do mandado nem sequer deveria ter sido homologado", disse o juiz na decisão.
O entregador, pai de uma criança de 3 anos, descreveu a experiência como traumática e disse que nunca mais será o mesmo. Agora, ele busca justiça e reparação pelo erro. Além disso, Allan pede ajuda para arcar com os custos legais de sua defesa, que estão em torno de R$ 5 mil.
“Essa é a nossa justiça. Quero que o estado pague pelo o que fizeram contra mim. Sou inocente e não devo nada a ninguém. Hoje não sou mais a mesma pessoa, tenho medo de ser preso novamente”, relatou o jovem.
A equipe de reportagem do Portal O Dia entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) para obter um esclarecimento, mas o órgão informou que não irá se posicionar sobre o caso.
Advogado comenta caso: "até quando a justiça vai errar só com pretos?"
O caso de Allan Santos traz à tona a vulnerabilidade do sistema de justiça criminal brasileiro. Nas redes sociais, o advogado Walisson Reis manifestou sua indignação com as circunstâncias que levaram à prisão injusta de Allan Santos. O advogado ressaltou o erro da polícia em não perceber que Allan não era a pessoa procurada no mandado e questionou até quando a justiça vai cometer esse tipo de injustiça.
"Allan ficou preso junto com marginais que cometeram crimes. Na época do crime, ele tinha 11 anos de idade. Nunca foi ao Espirito Santo, nunca cometeu crime nenhum. Ele, um jovem negro, teve sua cabeça raspada, foi agredido pela polícia e jogado dentro de um presídio. Quantos ainda serão presos inocentemente? Até quando a justiça vai errar só com pretos nesse país?", disse o advogado.
Walisson Reis destacou ainda que ele irá tomar a frente do caso de Allan. "Iremos tomar todas as medidas cabíveis para ele seja reparado e para que isso não aconteça com mais ninguém. Isso é uma grande injustiça contra um inocente e uma pessoa vulnerável. Que justiça é essa? Ele não merecia passar por tudo que passou", acrescentou.