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“O teresinense não pode naturalizar o calor”, alerta climatologista

Quem vive em Teresina se acostumou a brincar com as altas temperaturas, mas normalizar a situação pode agravá-la ainda mais.

26/09/2024 às 10h59

26/09/2024 às 10h59

Em período de B-R-O-Bró o que mais se ouve é gente reclamando do calor. Um abanar de camisa ali, uma sombra de poste acolá, seja como for, o teresinense dá um jeito de espantar aquela sensação já conhecida de “um sol para cada um”. Mas nessa de dar um jeito no calor, o aumento da temperatura acaba se tornando algo corriqueiro e isso gera preocupação para os especialistas e as autoridades competentes. É que tudo que se torna rotina, tende a ser naturalizado e quando se fala em aumento da temperatura, se fala de algo que foge à normalidade. 

Para o climatologista Werton Costa, essa ideia de se acostumar com a quentura não é algo positivo. O que é uma adaptação pode acabar se tornando uma forma de ignorar o problema e evitar combate-lo de forma mais direta. 

“A maior preocupação hoje é o fato de nós vivermos em uma cidade quente e a gente se acostumar com isso. Quando a gente naturaliza esta condição, não tomamos uma atitude, e em um breve lapso temporal isso poderá levar a situações ainda mais desagradáveis que vão repercutir, por exemplo, num número maior de internações no sistema de saúde, num número maior de doenças respiratórias e doenças de pele entre outras coisas".

Werton CostaClimatologista
“O teresinense não pode naturalizar o calor”, alerta climatologista - (Assis Fernandes/O Dia) Assis Fernandes/O Dia
“O teresinense não pode naturalizar o calor”, alerta climatologista

Teresina vem há pelo menos cinco anos ficando com as temperaturas acima da média no período mais quente do ano. O padrão de elevação é meio grau a 1,5 grau e, muito embora existam regiões brasileiras onde a situação é mais crítica, os fenômenos recentemente registrados das ondas de calor na capital dão uma ideia do que esse aumento de temperatura significa e pode vir a se tornar a longo prazo.

Segundo a Climatologia, a situação da capital piauiense é de agravo neste B-R-O-Bró de 2024 em relação ao que se observou em anos anteriores. Mas pelo menos em comparação com 2023, o mês de outubro pode ser de calor um pouco menos agressivo. É que há previsão de chuvas isoladas a partir do dia 01. Chuvas estas que não apareceram no calendário climático do ano passado, o que acabou por agravar ainda mais os fenômenos das ondas de calor que foram registradas.

Outubro pode ter chuvas no Piauí, diferente do que aconteceu em 2023 - (Arquivo O DIA) Arquivo O DIA
Outubro pode ter chuvas no Piauí, diferente do que aconteceu em 2023

Werton Costa comenta a respeito dos indicativos de chuva para o mês de outubro próximo.

“A gente tem na Climatologia aquela história de que o pico do B-R-O-Bró é outubro. A população já reclamou do B-R-O-Bró antes mesmo de ele chegar, ou seja, estamos tendo uma espécie de antecipação de fenômenos desagradáveis. Isso amedronta um pouco, mas esperamos um outubro com chuva. Já temos alguns indicativos, a previsão está muito tímida e colocando poucos volumes, mas está colocando algum volume. E se lembrarmos do ano passado nesta mesma época, as condições estavam brutalmente adversas e não tinha chuva”, explica.

A chuva que poderá cair em outubro no Piauí estará relacionada a um fenômeno chamado Vórtice Ciclônico de Altos Níveis, o VCAN, que pode trazer, inclusive, episódios de temporais rápidos acompanhados de ventos fortes e raios. Estes vórtices são comuns na primavera e no verão, formam-se na alta troposfera e são caracterizados por ventos que giram no sentido horário nas camadas superiores da atmosfera. Eles podem durar cerca de 10 dias e geralmente se deslocam do Atlântico em direção ao noroeste.

Chuva que poderá cair em outubro no Piauí tem relação com o VCAN - (Jailson Soares/O Dia) Jailson Soares/O Dia
Chuva que poderá cair em outubro no Piauí tem relação com o VCAN

Aumento do calor deve levar à mudança de protocolos

O Governo do Piauí publicou recentemente uma portaria que proíbe o uso de fogo em todo o Estado e em todas as suas formas entre 17 de setembro e 17 de outubro. A medida leva em consideração o alto número de queimadas e incêndios florestais registrados nesta época do ano e seus impactos na fauna e na flora. O Protocolo Fogo Zero é uma das medidas que os especialistas chamam de “invasivas, mas necessárias para lidar com as mudanças climáticas”.

Em entrevista ao Portalodia.com, o climatologista Werton Costa, que também é diretor de Prevenção e Mitigação da Defesa Civil Estadual, afirma que o aumento da temperatura exige a adoção de medidas antecipadas e, principalmente, uma mudança de cultura, mas que isto só ocorrerá mediante o diálogo com as partes competentes e a academia.

Entre as mudanças de protocolo que o climatologista sugere para enfrentar o calor estão decretos antecipados de calamidade para agilizar o processo burocrático na tomada de ações e o diálogo com pesquisadores do clima, com profissionais da saúde e da Psicologia, já que é comprovado cientificamente que o calor afeta a saúde mental com o chamado estresse térmico.

“Ouvindo a ciência nós podemos, por exemplo, solicitar um novo horário de aulas escolares, melhorar a qualidade da climatização dos ambientes de uso coletivo, repensar a própria estrutura de funcionamento dos serviços públicos e os horários de funcionamento dos diferentes setores da economia, adaptando tudo à nossa realidade”.

Werton CostaClimatologista

Ele lembra que recentemente a Secretaria de Saúde do Piauí emitiu um alerta para os riscos de adoecimento por conta da baixa umidade do ar e que isso deu uma ideia da gravidade da situação que se está enfrentando. “Quando um órgão de Saúde comunica para a população que ela está em risco, é porque o problema é muito maior que só climático. Quando falamos de clima, falamos de saúde pública e de educação, para dizer o mínimo. Então o que se espera é a movimentação de vários setores para evitar o adoecimento das pessoas e a consciência delas mesmas de que o que se vive hoje não está nem um pouco dentro da normalidade”, finaliza o climatologista.


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