No mês da mulher uma pesquisa feita exclusivamente com mulheres mostra que a brasileira está insatisfeita ou muito insatisfeita com a forma como as mulheres são tratadas atualmente na sociedade brasileira, e na região Nordeste, essa insatisfação é ainda maior.
O estudo feito pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), mostra que oito em cada dez entrevistadas se dizem insatisfeitas ou muito insatisfeitas com essa condição. No Nordeste, esse percentual atinge 85%. A violência e o assédio, seguidos do feminicídio e da desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres, são os principais pontos negativos destacados na pesquisa. No Piauí, por exemplo, mais de 12 mil mulheres estão com medidas protetivas válidas no estado, somente em Teresina o número chega a mais de seis mil mulheres.
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A vice-governadora Regina Sousa fez uma análise do cenário no Piauí e cobrou união e uma mudança educacional para alterar o quadro de violência e desrespeito contra as mulheres no estado. “A gente precisa despertar, só vai mudar se a gente se juntar. É uma questão muito séria de educação, de construção social, não é uma questão de segurança pública. Como é que a gente vai adivinhar que um homem vai sair com uma menina e no dia seguinte ela vai aparecer morta, não tem como seguir e monitorar. A gente nem sabe quando casal briga, não um problema de segurança pública, é de construção social”, afirma Regina Sousa.
FOTO: Gabriel Paulino/Ascom Vice-Governadoria
Um dado que chama a atenção é que as mulheres do Nordeste são as que menos concordam com a afirmação de que a desigualdade entre gêneros diminuiu nos últimos dez anos (54% delas disseram que a desigualdade foi reduzida no período, contra 56% da média nacional). No Nordeste, 21% consideraram que não houve alteração e outros 22% disseram o quadro está pior ou muito pior.
Educação desde criança
Para a vice-governadora a principal maneira de evoluir nos índices sociais é mudar a educação desde criança, quebrando paradigmas culturais histórico. “A sociedade é responsável por isso sim, tem que educar os meninos que eles não têm poder sobre as irmãzinhas, geralmente os pais dão poderes, os homenzinhos da casa podem tudo, ele cresce achando que realmente tem poder sobre as mulheres. Ele vai crescer achando que tem e vai querer fazer o que os adultos fazem, praticar a violência, xingamentos, violência física, verbal, e a gente nunca vai ter uma sociedade sem violência. Ninguém nasce querendo ser violento, se aprende, precisa desaprender. Tem que ir educando, na escola, em casa, para que daqui a 10, 15 anos a gente tenha uma geração mais saudável” disse a vice-governadora.
A doméstica Valdirene Torquato da Silva foi morta pelo ex-marido em janeiro Foto: Assis Fernandes/ODIA
Principais preocupações
Questionadas sobre as suas principais preocupações, as entrevistadas citam em destaque (como primeira resposta) a violência e o assédio contra a mulher (44%). Entre os principais motivos para os crimes violentos, elas citam o machismo (29%), o ciúme (20%) e a impunidade (20%).
A maioria (60%) viveu ou tomou conhecimento de mulheres que foram vítimas de situações de violência nos últimos 12 meses. A grande maioria das entrevistadas (72%) declara saber que o Brasil ocupa a quinta posição em mortes violentas de mulheres.
As situações mais comuns de preconceito ou discriminação que elas viveram ou presenciaram aconteceram no trabalho (39%), escola ou universidade (41%), festas ou locais de entretenimento (57%), na rua (73%) ou no transporte público (56%).
Violência começa em casa
Ao serem indagadas onde mais ocorrem situações de violência contra a mulher, 75% afirmaram como primeira resposta que elas acontecem em casa. Entre aquelas que já sofreram ou tomaram conhecimento de violência, 58% disseram que o agressor foi uma pessoa conhecida. Entre essas, 80% relataram que o autor foi o cônjuge, companheiro ou namorado.
Para o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE, a falta de denúncias aumenta ainda mais o risco de crimes mais graves. “Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas”, afirmou.
O levantamento Mulheres Preconceito e Violência foi realizado entre os dias 19 de fevereiro a 2 de março, com 3 mil mulheres nas cinco regiões do país. Ele traça um amplo quadro desse problema no país e se alinha aos esforços de investigar a situação das mulheres brasileiras e de combater o preconceito e a violência. É superlativa a impressão, no levantamento, de que os casos de violência contra a mulher aumentaram durante a pandemia da Covid-19.