Muito se fala que é preciso conhecer a nossa História para refletir sobre o presente, evitar cometer erros do passado e planejar o futuro. Mas tão importante quanto conhecer a História, é vivê-la. Em Teresina, são vários os espaços onde é possível entrar em contato com a História viva e pulsante. Mas um deles, em especial, carrega não só a História contada. Ele também é essa História.
Qual o teresinense que nunca ouviu falar da Praça do Fripisa? O local é ponto de referência para quase tudo que se for fazer no Centro da capital. Quando se fala naquele espaço a primeira coisa que vem à mente são as paradas de ônibus, ponto de convergência e dispersão dentro do espaço urbano. Mas ali nas redondezas há outro local que inspira e expira História, mas que muitas vezes passa despercebido pela pressa do ir e vir.
Trata-se da Biblioteca Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho. Localizado na Rua Coelho Rodrigues, ao lado da Praça Demóstenes Avelino (Praça do Fripisa), o local é considerado um templo da Educação teresinense e mantém viva a História da Capital através de um acervo riquíssimo. Mas antes mesmo de ser a sede da principal biblioteca do Piauí, o espaço já inspirava conhecimento.
A Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho foi instalada onde antes funcionava a Faculdade de Direito do Piauí. Isso talvez explique o nome que a batiza: Cromwell de Carvalho foi um dos fundadores da Faculdade de Direito. Tendo sido um dos mais renomados juristas piauienses, ele também atuou como poeta, escritor e professor.
Viviane Marini Pedrazzani, historiadora e doutora em Preservação do Patrimônio Cultural, explica que a formação da Biblioteca Estadual do Piauí está atrelada a um momento de interesse do poder público estadual em criar um sistema educacional consistente, isso lá nas décadas de 1870 e 1880. Ao mesmo tempo, havia uma preocupação em formar um acervo que reunisse o que havia disponível para literatura no Estado.
Como é comum no patrimônio cultural de Teresina, o prédio da Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho mistura um estilo arquitetônico eclético com toques de Neoclassicismo. Sua localização também diz muito sobre a natureza do espaço: está dentro do perímetro que abrange a maior parte da Avenida Frei Serafim, região que, em fins do século XIX e início do século XX, estava em expansão, sendo povoada pela alta sociedade e seus casarões. Como sede da Faculdade de Direito do Piauí, o prédio onde hoje funciona a Biblioteca Estadual era frequentado pelas rodas da elite econômica e intelectual da época.
Mas se ali funcionava a Faculdade de Direito, onde ficavam as bibliotecas? A historiadora Viviane Pedrazzani responde: “Inicialmente, elas ficavam muito dispersas, não tinham um espaço que foi construído dede o começo como sendo pré-estabelecido para ser uma biblioteca. Tanto que a partir da década de 1940, elas eram muito espalhadas aqui e ali. Até que alocaram a biblioteca do Estado no espaço que hoje é o Arquivo Público, que é a Casa Anísio Brito”.
A Casa Anísio Brito reuniu, durante anos, o Arquivo Público do Piauí, a Biblioteca Estadual e o Museu do Piauí. Só em meados do século XX, estes espaços foram desmembrados e, dentro deste processo, a biblioteca e o museu foram transferidos para seus atuais espaços, na Praça da Bandeira (o Museu do Piauí) e na antiga Faculdade de Direito (a Biblioteca Cromwell de Carvalho). O processo de transferência da biblioteca para seu atual endereço aconteceu em 1973, quando a Faculdade de Direito foi incorporada ao espaço físico da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Viviane Pedrazzani explica que, além de um templo da educação, a Biblioteca Cromwell de Carvalho é, também um lugar de memória. “Temos um prédio com toda uma carga de história. É um lugar de memória, porque além de reunir toda a trajetória educacional, tanto do Grupo Escolar Abdias Neves, quanto da Faculdade de Direito, ele depois dá continuidade aos registros históricos que temos enquanto acervo documental. É um espaço que agrega uma memória viva da literatura”, diz a historiadora.
O prédio onde funciona a Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho foi tombado em 17 de junho de 1994 devido à sua importância cultural para o Piauí e possui como uso público atual o título biblioteca pública estadual. O tombamento mudou a forma como o espaço era gerenciado. Telhados, janelas, portas e pisos devem ser mantidos com suas características originais e qualquer intervenção tem que ser feita com cautela. No entanto, isso só não basta para tornar o local um patrimônio histórico propriamente dito.
E por falar em acervo, o da Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho é vasto e bastante diverso. Estima-se que o espaço tenha 60 mil livros dos quais pelo menos 30 mil já foram devidamente catalogados. A maior parte deste acervo vem de doações e compras. Vale lembrar que a Biblioteca Cromwell de Carvalho é a responsável pelo Sistema de Bibliotecas Públicas do Piauí. Quem explica o que isso significa é a coordenadora do espaço, Renata Alves Raymundo.
A biblioteca Cromwell de Carvalho é a única do Piauí a disponibilizar um exemplar da Bíblia Sagrada em braile.
Além das salas de leitura e de estudo, a Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho conta com uma vinilteca – um acervo de discos de vinil – de visitação gratuita e aberta ao público. “Quem quiser pode vir para conhecer, ouvir algum disco e saber mais sobre o nosso cenário musical. Temos ainda as oficinas, as intervenções artísticas. Nós meio que absorvemos um pouco do vácuo deixado pelo fechamento da Casa da Cultura. Então a Cromwell de Carvalho é bem mais que uma biblioteca. Eu costumo chamar de lugar de transformação social”, afirma a coordenadora do espaço.
De acordo com Renata, a Biblioteca Estadual recebe uma média de 200 visitantes por dia. O espaço é bastante procurado por concurseiros em busca de um local silencioso e confortável para estudar. A biblioteca disponibiliza aos frequentadores computadores para aulas online e pesquisas na internet além das salas de leitura.
Para Renata Raymundo, a Biblioteca Cromwell de Carvalho traduz não só a história do Piauí, como também contribui de forma significativa para a difusão do conhecimento.
Veja algumas curiosidades sobre a Biblioteca Estadual Desembargador Cromwell de Carvalho
- A biblioteca teve sua feitura jurídica em 21 de junho de 1910 mediante lei sancionada pelo então governador do Piauí, Antonino Freire da Silva
- É o órgão central do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Piauí e responsável pela execução do mecanismo de Depósito Legal no Estado. O Depósito Legal é a obrigação legal feita a qualquer editor de livros ou publicações de enviar um ou mais exemplares de qualquer obra impressa no Piauí ao repositório estadual.
- É a única biblioteca do Piauí a contar com um exemplar em braile da Bíblia Sagrada