As mudanças climáticas têm se intensificado a cada ano, e seus efeitos estão sendo sentidos com maior severidade. Segundo um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU), o ano de 2023 registrou um aumento alarmante na frequência e na gravidade dos eventos climáticos extremos em diversas partes do mundo.
Uma das consequências mais evidentes das mudanças climáticas é a ocorrência cada vez mais frequente de tempestades, enchentes, secas e ondas de calor. Essas variações no clima afetam diretamente a agricultura, causando danos às colheitas, erosão do solo e perda de produtividade.
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"Quando abordamos o tema das chuvas, é preciso analisar tanto a quantidade total de precipitação durante o período chuvoso quanto sua distribuição ao longo do tempo. Quando ocorrem desequilíbrios climáticos e eventos extremos, como a concentração intensa de chuvas seguida por longos intervalos de estiagem, isso impacta negativamente a agricultura", esclarece o engenheiro-agrônomo Adão Cabral.
Da mesma forma, longos períodos de estiagem afetam a disponibilidade de água para irrigação. Isso pode levar a uma redução na quantidade e na qualidade das colheitas, já que as plantas não recebem a quantidade adequada de água necessária para crescer e se desenvolver plenamente.
No Piauí, a seca já se faz presente em alguns municípios, o que tem impactado não só a agricultura, como a biodiversidade e as comunidades locais. Este ano, o estado está enfrentando um período chuvoso irregular, um impacto das mudanças climáticas.
“É evidente para todos que o período chuvoso de 2024 está se apresentando de maneira irregular. Em alguns municípios, a quantidade de chuvas tem sido insuficiente, em outros, o volume de chuva tem ultrapassado todos os registros dos últimos cinco anos", aponta o climatologista Werton Costa.
As constantes mudanças no clima criam ainda um ambiente mais favorável para a proliferação de pragas e doenças nas plantações. O aumento das temperaturas e da umidade acaba impulsionando o desenvolvimento desses organismos. “Se há uma alta concentração de umidade com altas temperaturas, há condições ideais para a multiplicação de pragas. Vale ressaltar também que quando há deficiência de chuvas e de água, a plantação torna-se mais suscetível ao ataque de pragas”, explica o engenheiro-agrônomo.
Além de afetar a quantidade de alimentos produzidos, as mudanças climáticas também têm um impacto na qualidade nutricional dos produtos agrícolas. Estudos mostram que o aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera pode reduzir os níveis de nutrientes essenciais em culturas como trigo, arroz e milho, o que, consequentemente, compromete a saúde e a nutrição das populações que dependem desses alimentos.
Para ajustar a agricultura às novas realidades climáticas, são exigidos investimentos substanciais. Esta é a conclusão de um relatório global recentemente divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O estudo aponta que os recursos necessários para adaptação aos impactos das mudanças climáticas devem estar na faixa central de aproximadamente US$ 387 bilhões por ano.
“Esses impactos intensos nos dizem que o mundo deve, urgentemente, acabar com as emissões de gases de efeito estufa e aumentar os esforços de adaptação para proteger as populações vulneráveis”, reforça a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen.
As mudanças climáticas, portanto, não são uma preocupação distante ou futura; elas estão acontecendo agora e requerem que governos e organizações internacionais ajam de forma proativa para enfrentar os seus impactos. É pensando nisso que o Grupo dos Vinte (G20), o principal fórum de cooperação econômica internacional, se reúne anualmente em diversos países.
Composto pelas maiores economias do mundo, como a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália e Canadá, o G20 discute iniciativas econômicas, políticas e sociais, além de traçar estratégias internacionais para os problemas que afligem o mundo, como o meio ambiente e as mudanças climáticas.
Este ano, o Brasil sediará o G20, com destaque para a inclusão de cidades de todas as regiões do país, inclusive Teresina, no Piauí. Os principais temas discutidos nesta edição serão o comércio, desenvolvimento sustentável, saúde, agricultura, energia e combate à corrupção.
Na capital do Piauí, o encontro ocorrerá entre os dias 22 e 24 de maio e vai tratar sobre o combate à fome, à pobreza e à desigualdade. A inclusão de Teresina e de outras capitais fora do eixo Sul-Sudeste representa uma inovação nesta edição do Brasil. A descentralização das atividades visa transformar o G20 em um fórum mais inclusivo e acessível, ampliando sua representatividade.
Além de Teresina, o Brasil vai receber reuniões do G20 em Brasília (DF), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Foz de Iguaçu (PR), Maceió (AL), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA) e São Luís (MA).