Sentado à mesa de jantar em sua residência, Francisco das Chagas Carneiro, pedreiro aposentado de 72 anos, relembra com orgulho os tempos em que ajudou a expandir a cidade de Teresina. Durante mais de cinco décadas, ele dedicou sua vida à construção de obras e lares na capital. Entre as recordações, destaca-se a construção do bairro Parque Piauí, na zona sul da cidade.
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Natural de Brejo (MA), Chagas, seus pais e seus irmãos chegaram em Teresina nos anos 60, e passaram a morar no bairro Monte Castelo. Ele lembra que, naquele período, o movimento da cidade era concentrado no centro, entre as praças, mercados e construções que, hoje, são históricas.
“Quando chegamos em Teresina, o movimento era na Praça Saraiva, na Praça João Luiz. Na zona sul o movimento era pouco. Existia casa até à Tabuleta, mas depois de lá era tudo mato, não tinha casa. Tudo foi construído depois. Na época, um dos meus tios trabalhava para a Construtora Lourival Parente e ele contratava as pessoas para trabalharem nas obras”, conta Francisco.
Aos 16 anos, Francisco começou a trabalhar como ajudante de pedreiro na criação do Parque Piauí. O bairro foi concebido pela Companhia de Habitação do Piauí (COHAB-PI), que entre 1966 e 1969 construiu diversos conjuntos habitacionais a fim de abarcar a grande quantidade de pessoas que migravam para a capital.
Ao longo dos anos, Francisco das Chagas testemunhou de perto a transformação dessa região. Com um olhar nostálgico, ele recorda os dias em que caminhava cerca de 7 quilômetros diariamente, junto com seus colegas de trabalho, para chegar ao local onde o bairro seria erguido.
“Não tinha nada na região sul da cidade. A gente vinha andando do Monte Castelo para o Parque Piauí todos os dias. Nós construímos uma quadra completa e, quando terminava, começavamos a construir a próxima quadra”, comenta o pedreiro.
Nos primeiros anos da criação do Parque Piauí, as pessoas não queriam morar no local. Isso porque, o bairro era carente de infraestrutura básica, como o acesso à água. “Ninguem queria morar aqui, porque não tinha água. O acesso à água era difícil na época. Os primeiros moradores do bairro tinham que ir buscar em outros bairros mais longes”, destaca Francisco das Chagas.
Uma das primeiras moradoras do Parque Piauí, a aposentada Maria da Conceição Silva, de 75 anos, conta que enfrentou algumas dificuldades ao se mudar para o local. Aos 15 anos, ela passou a morar em uma casa na avenida principal do bairro, mas devido a grande quantidade de terra e poeira, Maria foi até a Cohab para solicitar uma nova residência em outro ponto do conjunto habitacional.
“Quando chegamos aqui, não tinha nada, era apenas terra e poeira. Ninguém queria casa aqui, tinha muita casa abandonada. Então, quando casei, com 18 anos, eu e marido fomos morar em uma das casas que estavam fechadas, que na época ficava na avenida principal do Parque, mas como era muita poeira, fomos até a Cohab e tiramos a nossa, que acabou sendo mais para dentro do bairro”, aponta.
Morando no conjunto há 60 anos, Maria criou todos os seus filhos no bairro e comenta que não pensa em deixar o local. “A minha casinha aos poucos fui ajeitando. Depois que meu marido morreu, acrescentei alguns cômodos, coloquei piso, não penso em sair daqui porque tem tudo perto”, acrescenta.
A construção do Parque Piauí, iniciada em maio de 1967, foi concluída em setembro de 1968 durante o governo de Helvídio Nunes. Em 1977, o bairro foi ampliado. Apesar das dificuldades encontradas no início, o Parque Piauí foi se consolidando com o passar do tempo, contribuindo para a expansão urbana de Teresina. Atualmente, é considerado um dos bairros mais populares da capital, com mais de 55 anos de histórias, vivências e mudanças.