Quase quatro décadas depois, o Troca-Troca ainda mantém a proposta de quando foi criado: trocar objetos por outro. Claro que houve adaptações e, hoje, muitos objetos também são vendidos, porém, a essência continua a mesma. No local, é vendido de tudo, desde eletrodomésticos, como televisões, aparelhos de som; de cozinha; de lazer e entretenimento, como videogames, vinil e bicicletas, além de produtos em geral, como roupas e sapatos.
A estrutura do Troca-Troca foi feita no início da década de 1980, mas a prática comercial já existe no local há muitos anos. Embaixo de uma árvore, às margens do Rio Parnaíba, os comerciantes usavam o espaço para fazer escambo de produtos variados. No final do Século do XIX, início do Século XX, a Avenida Maranhão concentrava grandes armazéns de comércio, fazendo da região portuária e fluvial um importante ponto comercial, reunindo homens de negócio e carteiros viajantes.
Em entrevista ao Jornal O DIA, Francisco Antônio Fernandes da Silva, conhecido como Antônio Moreno (69), conta que trabalha no Troca-Troca há 47 anos. Quando ele chegou no local, ainda não existia a estrutura física como conhecemos atualmente. Ele e outros comerciantes ficam embaixo de uma grande árvore e era ali que expunham seus produtos.
“Eu cheguei em Teresina em 1966 e vim trabalhar aqui nesse espaço vendendo e comprando discos. Algum tempo depois eu decidi colocar uma banca, mas como não tinha onde deixar, eu precisava levar tudo para casa todos os dias. Nos organizamos e pagamos um vigilante para cuidar das nossas coisas à noite. Foi crescendo tanto que decidimos falar com os políticos, para que eles fizessem algo por nós, até fazerem essa estrutura. Nós éramos organizados, tínhamos reuniões e uma associação, mas com os amigos os integrantes foram morrendo e acabou com o tempo”, lembra.
Antônio Moreno conta que as trocas iniciaram com os ciganos, ainda na Praça da Bandeira, sendo os colares e objetos de ouro os mais requisitados. Mas também se trocavam outros produtos, como animais, cereais e itens domésticos, como radiolas. O permissionário sempre trabalhou com a venda de vinis, sendo a cultura e a música sua paixão.
Quem também trabalho no Troca-Troca é o permissionário Francisco Paulo de Almeida (65). Há 47 anos ele tira do local o sustento da família. Atualmente, ele vende videogames, mas também já comercializou aparelhos eletrônicos, com televisores. Residente em Timon (MA) e trabalhando como vendas, conheceu o Troca-Troca despretensiosa. Gostou do local e decidiu montar seu negócio por ali mesmo.
“Na época que cheguei aqui não era assim, era tudo descoberto e a gente se protegia do sol e da chuva embaixo de uma grande árvore que tinha. O que mais procuravam eram equipamentos de casa, como geladeira e fogão, e até hoje é assim. As pessoas preferem compra aqui do que em grandes lojas, porque aqui chega a ser até 50% mais em conta e, dependendo do produto, ainda damos garantia de 30 ou 60 dias”, comenta.
Apesar das incertezas das vendas, seu Paulo Almeida garante que não trocaria seu trabalho por outro. Ele enfatiza a tranquilidade do local e pontua que a convivência com os colegas é muito satisfatória.
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Ponto turístico e de referência na capital
A arquitetura do Troca-Troca desponta na Avenida Maranhão, centro de Teresina. Possui seu telhado composto por oito abóboras e pilares de sustentação. A edificação é um símbolo da paisagem urbana de Teresina, tem uma composição marcada pela leveza, transparência, pureza e pelo uso de materiais regionais, e foi projetada por Júlio Medeiros e Goreth Mendes.
“Essa estrutura foi feita na segunda metade da década de 1970, quando o prefeito era o Wall Ferraz. Fizeram a estrutura e se tornou uma marca de referência de Teresina, tanto pelo design da arquitetura, com seus arcos germinados e tijolos, como de localização para a população, por ficar próximo ao terminal de ônibus”, explica o professor e historiador Bernardo Sá.
Com a intensa navegabilidade do Rio Parnaíba, à época, o cais que fica localizado ao lado do Troca-Troca era bastante movimentado, favorecendo o comércio informal. O termo pitoresco “Troca-troca”, que inclusive é citado no hino de Teresina, surge dessa movimentação e escambo de mercadorias.