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Sargento ameaçou jornalista em áudio para evitar denúncia: "Se eu perder minha farda, tu vai junto"; Ouça

A jornalista Yara Ataíde, que denunciou agressões do ex-marido e sargento do Corpo de Bombeiros, Gilvan Freitas Rodrigues, disse que foi ameaçada por ele depois que veio a público expor que há sete anos era vítima de violência doméstica. Ela conta que ainda ontem (18) ele a enviou um áudio via WhatsApp em que a ameaça caso ela prossiga com as denúncias.

No áudio divulgado pela própria Yara, é possível ouvir Gilvan dizer que, caso ele perca a farda do Corpo de Bombeiros, ela e os filhos também serão prejudicados. Ouça abaixo a transcrição completa do áudio mostrado pela jornalista:

“E outra coisa. Tu esquece que, se por acaso eu perder minha farda, eu vou prejudicado, teus filhos vão junto, tu vai junto. Eu acho que tu esquece isso também, né? Mas vai à vontade. Vai embasada, viu? Vai embasada, porque o feitiço pode virar contra o feiticeiro”.

Gilvan Freitas Rodriguessargento do Corpo de Bombeiros, ao ameaçar ex-mulher

Yara tem dois filhos com o sargento do Corpo de Bombeiros: um de dois anos e um de quatro anos. Ela conta que as crianças já presenciaram várias vezes ela sendo agredida pelo ex-marido e afirma que ele “não tem medo, porque fazia isso inclusive na frente das câmeras”. Por “câmeras”, ela se refere aos equipamentos de monitoramento que possui em casa. A jornalista recorda que Gilvan sempre teve um comportamento agressivo com ela, mas que não denunciava porque era constantemente ameaçada por ele.

Assis Fernandes/O Dia
Yara Ataíde, jornalista agredida pelo ex-marido sargento dos Bombeiros

“Uma das primeiras agressões que ele fez contra mim, ele botou a arma na minha boca, porque ele tinha porte de arma. Só que como ele já foi preso em flagrante uma vez, a arma foi recolhida. Na mão dele eu sofria violência psicológica, ele sempre me colocava para baixo. Eu cheguei a desenvolver depressão e ansiedade por todos esses anos que vivi com ele. Hoje estamos separados. Há duas semanas, na verdade, que foi justamente o dia do vídeo que postei nas redes. Ali eu me separei, mas ia fazer isso na calma e na tranquilidade. Só que ontem ele foi na minha casa me afrontar. Ele merece ser exposto. Sete anos de casamento e ele me ameaçando”, relatou Yara.

A jornalista acrescenta que quando foi preso em flagrante em agosto do ano passado, o sargento Gilvan chegou a lhe mandar mensagens dizendo para ela pensar no casamento e nos filhos, porque caso o denunciasse pelas agressões, Yara iria “destruir sua vida”. “O sonho dele é essa farda. Ele só fala nessa farda, que ele não pode perder essa farda. É violência psicológica em alto grau”, desabafa a jornalista.

Veja o vídeo que Yara divulgou ao denunciar o sargento Gilvan Freitas Rodrigues:

Yara vai protocolar denúncia no Corpo de Bombeiros Militar do Piauí

Com 12 anos de carreira, Gilvan Freitas Rodrigues é sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Piauí e foi denunciado nesta quinta (18) pela ex-mulher, a jornalista Yara Ataíde, por violência doméstica. No vídeo publicado por ela nas redes sociais, o sargento aparece dando um soco na jornalista e a agredindo fisicamente de forma violenta. O ciclo de agressões durou sete anos, segundo Yara.

Ela conta que já denunciou anteriormente o ex-marido junto ao Corpo de Bombeiros, mas que a corporação “fez vista grossa”. E quando ela publicou nas redes pela primeira vez denúncias contra o sargento, a corporação teria chegado a lhe bloquear em seu perfil oficial e ele lhe ameaçou, o que a fez apagar a postagem na época.

Hoje (19), após denunciar novamente Gilvan por violência doméstica e o caso ter ganhado repercussão, Yara foi acolhida pela rede de proteção na Casa da Mulher Brasileira e deverá ser ouvida ainda hoje pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM). A jornalista informou que também vai ainda hoje ao Corpo de Bombeiros Militar do Piauí protocolar mais uma denúncia contra o sargento Gilvan.

“Os Bombeiros se omitiram da primeira vez que ele me agrediu. O Corpo de Bombeiros Militar do Piauí foi omisso. Eu já havia aberto um processo no qual o CBM fez vista grossa. Só que desta vez eu expus tudo. Eu me recuava, guardava para mim e hoje falo publicamente para todas as mulheres que sofrem violência doméstica que não se recuem, não se calem. É muito difícil romper esse ciclo, mas ontem eu rompi o meu de sete anos”, desabafa Yara.

Divulgação
Yara vai protocolar denúncia no Corpo de Bombeiros Militar do Piauí

Corpo de Bombeiros vai investigar sargento, mas não fala em afastamento

Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Piauí informou que vai abrir procedimento administrativo para apurar a conduta do sargento, tanto no âmbito de suas funções dentro da corporação quanto em sua vida social. No entanto, a corporação não falou em afastamento do militar de suas funções. O CBM reiterou que qualquer comportamento que atente contra a dignidade da pessoa humana não reflete seus valores e que não apoia e nem incentiva com qualquer tipo de violência.

Jornalista será ouvida hoje na Delegacia da Mulher

A jornalista Yara Ataíde, que denunciou que sofria agressões do marido há sete anos, será ouvida ainda hoje (19) pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), em Teresina. A informação foi confirmada pela secretária estadual da Mulher, Zenaide Lustosa, que está acompanhando o caso. Zenaide esteve nesta manhã na Casa da Mulher Brasileira, onde Yara buscou acolhimento após denunciar o marido, sargento do Corpo de Bombeiros, por violência doméstica.

Em entrevista, Zenaide Lustosa explicou que Yara Ataíde está sendo atendida conforme o protocolo de acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica. Este protocolo prevê atenção psicossocial, atendimento humanizado e o acompanhando da parte investigatória que fica a cargo da polícia. Segundo a secretária, a principal preocupação no momento é com o avançar das investigações.

Para Zenaide Lustosa, é com o avanço dos inquéritos e a responsabilização dos autores da violência doméstica que as vítimas se sentirão encorajadas para denunciar. Entre os motivos para o silêncio das mulheres que sofrem algum tipo de agressão, a secretária cita o medo de morrer, a dependência econômica e a descredibilização de seus relatos.

“Nós, enquanto Estado, temos feito várias campanhas no sentido de que as mulheres denunciem. Temos o 180, que é o Disque Mulher Nacional, e temos o WhatsApp que funciona 24h e é uma central de acolhimento através do 0900 000 1673. E também atendemos dentro da Casa da Mulher Brasileira junto com o Município na área psicossocial. Temos também o canal 190, em casos de urgência, o Centro de Referência Francisca Trindade, que funciona na sede da Secretaria. São vários os canais para fazer denúncia”, diz Zenaide Lustosa.

Assis Fernandes/O Dia
Zenaide Lustosa é secretária estadual da Mulher e acompanhou Yara na Casa da Mulher Brasileira

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