O mundo tem passado por severas mudanças climáticas, em processos cada vez mais rápidos e com fenômenos antes raros que se tornaram comuns. Todos os anos temos vivenciado o ano mais quente do mundo, com a temperatura média do planeta podendo aumentar entre 1,1°C e 1,9°C nos próximos cinco anos, de acordo com o Observatório Europeu.
Quem tem sofrido mais com as mudanças no clima são os países do sul global, países que estão em desenvolvimento, apesar de emitirem menos gases poluentes na atmosfera, por não existir um processo de industrialização em grande escala como os mais poluentes, a exemplo de China e Estados Unidos.
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O Brasil é um dos países que menos contribuem com o aquecimento global e um dos que mais têm políticas de proteção ambiental. Enquanto o mundo inteiro pressiona o país a proteger a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, ele enfrenta, em contrapartida, os impactos das ações globais que causam problemas internos, como a necessidade de destinar recursos para lidar com desastres naturais, como as enchentes no Rio Grande do Sul ou a seca que afetou o Norte do país.
Para falar sobre esse tema, conversamos com a climatologista Edivania Lima. Ela é formada em Meteorologia pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), com Mestrado e Doutorado em Meteorologia, obtidos na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
Edivania Lima começa explicando que é preciso primeiro entender os processos climáticos e o que é uma variação climática em comparação a uma mudança climática, pois é algo muito comum as pessoas confundirem: “A variabilidade é aquela situação em que o clima é alterado momentaneamente, mas retorna à sua condição de origem. A falta de água numa estiagem, por exemplo. Na estiagem, diminui a quantidade de precipitações e os rios intermitentes acabam secando. Quando voltam as chuvas, os rios voltam a ter a vazão normalizada, o que é esperado. O El Niño é um exemplo de variabilidade.”
Em relação às mudanças climáticas, ela aponta que, ao contrário da variação, as mudanças não retornam à sua origem. “Quando se fala em mudança, ela persiste por 30 anos ou até mais. A variabilidade pode acabar ocorrendo por conta da própria mudança climática, mas ela precisa ser um fenômeno que persista, não apenas um evento esporádico.”
“Exemplos de mudanças são a ocorrência de fenômenos climáticos extremos, com maior quantidade de furacões, muito mais intensos que em anos anteriores no hemisfério norte. Eles sempre existiram, mas agora ficaram muito mais intensos e causam mais destruição. Tivemos, no Rio Grande do Sul, uma enchente que não é que nunca tinha ocorrido, mas foi a maior de todas as registradas na região.”
Ela complementa explicando que os modelos climáticos são como equações matemáticas, que, de acordo com os cálculos, permitem prever o que pode acontecer daqui a 50 anos. Segundo Edivania, esses modelos estão prevendo mudanças extremamente acentuadas.
“Em fevereiro de 2024, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) divulgou um relatório que apresentou evidências das mudanças climáticas e a previsão de reduzir até 40% das precipitações nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste. Podemos esperar um maior aumento de rios intermitentes. Se as águas diminuem, prejudicam a produção de energia, o abastecimento de água, dentre outros fatores. Os modelos preveem uma redução e aumento da temperatura do ar, o que é preocupante.”
No Piauí, Edivania disse que ficou impressionada com o B-R-O Bró quando chegou por aqui há 12 anos. Na época, observava-se um aumento das temperaturas apenas a partir do mês de agosto, mas no ano passado, em junho, já tínhamos um cenário de calor muito ruim, e as ondas de calor têm ficado cada vez mais extremas.
Efeito Estufa e Responsabilidade Global
Nas escolas, principalmente para quem estudou nos anos 1990 e início dos anos 2000, falar sobre efeito estufa era algo bem comum, mas de forma negativa, como um vilão do processo de aquecimento global. No entanto, a climatologista explica que ele é um efeito natural e benéfico, que garante que as temperaturas sejam condizentes para a sobrevivência de animais e vegetais.
“O aumento de gases, desmatamento, uso de CFCs, aerossóis, a queima de combustíveis fósseis e a combustão que os carros fazem lançam na atmosfera uma grande quantidade de dióxido de carbono. Essa preocupação é muito antiga, desde o pré-industrial. Isso intensifica muito o efeito estufa. Na COP 2021 foi assinado o Acordo de Paris. Os países mais ricos se comprometeram a diminuir a emissão de carbono, e 169 países assinaram. Porém, quando começaram a mexer na economia, esses países começaram a querer sair.”
Ela explica que, ao contrário do mundo, o Brasil é mais criterioso e tem protegido mais o planeta que o restante do mundo. Como exemplo, menciona que, nos anos 1980, na cidade de Cubatão, em São Paulo, iniciou-se um processo de industrialização, e as empresas começaram a emitir muito dióxido de carbono na atmosfera. Isso ocasionou chuvas ácidas, contaminaram os lençois freáticos e tornou tudo impróprio para consumo. A industrialização acabou diminuindo devido a processos rigorosos do país, que, embora ainda contribuam para a mudança climática, estabilizaram os impactos.
“Os furacões estão tão intensos que começaram a pesquisar o que de fato tem acontecido. É o aquecimento do ar? Os cientistas perceberam que o grande vilão era o aquecimento das águas do Atlântico. Com isso, há uma maior evaporação; a água sobe rapidamente e precipita em maior quantidade.”
O Que Podemos Fazer?
Edivania finaliza falando sobre o que podemos fazer para desacelerar o processo das mudanças climáticas e do aquecimento global, que hoje já é irreversível. Ela destaca a importância de cada um fazer sua parte para atenuar os efeitos, como coletar o lixo adequadamente e evitar queimadas como forma de descarte, já que elas causam grandes prejuízos para o solo, a temperatura do ar e, consequentemente, influenciam no clima, no tempo e até no nosso corpo.
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