Os sinais alarmantes das mudanças climáticas estão cada vez mais evidentes. Em 2023, o aquecimento global desencadeou uma série intensificada de ondas de calor, secas e eventos extremos, exigindo ações urgentes. Dados recentes do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus alertam que este ano pode ser o mais quente registrado nos últimos 120 anos.
No último dia 17 de novembro, testemunhamos a primeira vez em que a temperatura global ultrapassou 2 ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Esse aumento de calor é atribuído ao fenômeno El Niño, que aquece as águas do leste do Oceano Pacífico, combinado com as emissões de gases de efeito estufa resultantes de atividades humanas, como desmatamento, queimadas e uso de combustíveis fósseis.
“Essa informação acende mais um alerta vermelho, indicando uma subida significativa da temperatura global, sendo que a última maior registrada foi entre os anos de 1991 a 2020, que foi apenas de 1,17 graus. E este ano, segundo agências climáticas de vários países, será o ano mais quente registrado na história da temperatura global. Isso acende o cuidado e atenção sobre as mudanças climáticas”, explica o professor e pesquisador Rafael J. Marques, doutorando em geografia física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para Marques, é imperativo que as políticas públicas e ambientais se tornem mais claras e coesas para mitigar os impactos negativos do aquecimento global. “As atividades humanas potencializam a mudança climática. Precisamos de uma resposta ágil para prevenção e mitigação desses problemas, pois este é um alerta gravíssimo que exige ações urgentes”, enfatiza.
Os dados recentes indicam uma tendência alarmante no cenário global, com aumentos de temperaturas e eventos extremos das mudanças climáticas tornando-se cada vez mais recorrentes e acelerados.
Vale ressaltar que os esforços atualmente empreendidos para reduzir o aquecimento global ainda não são suficientes. A Organização das Nações Unidas (ONU) revela que existe apenas uma probabilidade de 14% de limitar esse fenômeno, conforme indicado em seu último relatório antes da 28ª edição da COP, em Dubai.
Adicionalmente, outro relatório destaca um aumento recorde de 1,2% nas emissões globais de gases de efeito estufa, evidenciando a urgência de ações efetivas para reverter essa trajetória preocupante.
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ONU alerta sobre risco de aquecimento global chegar a quase 3ºC
O aumento expressivo das temperaturas em diversas regiões do globo pode intensificar ainda mais, alcançando quase 3 graus Celsius (ºC) acima dos níveis pré-industriais. Segundo o Relatório Anual de Lacuna de Emissões 2023, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), as metas estabelecidas no Acordo de Paris tornam-se progressivamente mais desafiadoras de serem atingidas.
Para cumprir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC, conforme estipulado no Acordo de Paris, seria imperativo reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 42% até 2030. No entanto, uma redução de apenas 28% levaria ao aquecimento global de 2 ºC.
Os dados divulgados nesta segunda-feira (20) revelam um cenário alarmante: em vez de decrescer, as emissões globais aumentaram 1,2% entre 2021 e 2022, atingindo um recorde de 57,4 gigatoneladas de Dióxido de Carbono. Cada gigatonelada corresponde a 1 bilhão de toneladas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) destaca que, até outubro de 2023, foram registrados 86 dias com temperaturas 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Além disso, setembro foi marcado como o mês mais quente já documentado, apresentando temperaturas médias globais 1,8°C superiores aos níveis pré-industriais.
Quais são as consequências do aquecimento global?
O aquecimento global desencadeia uma série de consequências, incluindo o aumento do nível do mar devido à fusão das calotas polares, eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, como furacões, enchentes e secas prolongadas. Há impactos na biodiversidade, com extinção de espécies devido a mudanças rápidas nos habitats.
A acidificação dos oceanos, resultante do aumento das concentrações de dióxido de carbono, também ameaça ecossistemas marinhos. Além disso, outras consequências são:
- Deslocamento de comunidades: agravamento de condições climáticas pode forçar o deslocamento de populações devido a eventos extremos e mudanças ambientais.
- Impactos na agricultura: alterações nos padrões climáticos afetam a produção de alimentos, levando a problemas de segurança alimentar e econômicos.
- Escassez de recursos hídricos: mudanças no clima influenciam a disponibilidade de água, resultando em escassez em algumas regiões e aumentando a competição por recursos.
- Riscos para a saúde: a propagação de doenças relacionadas ao clima, como doenças transmitidas por vetores, aumenta com as mudanças nas condições ambientais.
- Impactos econômicos: prejuízos econômicos significativos devido a danos a propriedades, infraestrutura e perda de produtividade em setores vulneráveis às mudanças climáticas.