A concentração de renda no Piauí aumentou nos últimos 3 anos e se tornou a segunda maior do Brasil. É isso o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira (19). O estudo revela que, apesar do rendimento médio mensal da população piauiense registrado nos últimos 11 anos seguir crescendo, a concentração do rendimento médio per capita mensal no Estado também aumentou.
Significa dizer que a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos cresceu no Piauí. Essa diferença é medida por um indicador chamado de Índice de Gini. Ele varia numericamente de zero a um, no qual zero significa um patamar de igualdade social e um representa que uma única pessoa detém toda a riqueza. Quanto mais próximo de um, maior a diferença na concentração de rendimentos entre as parcelas da população.
Conforme os dados da PNAD, nos últimos quatro anos, o índice de concentração de rendimento médio mensal no Piauí saiu de 0,474 em 2020 para 0,0552 em 2023. O aumento foi de 0,078 no intervalo de três anos. O índice de 2020 foi considerado pelo IBGE como o menor da série histórica, que se iniciou em 2012, o que significa dizer que, no primeiro ano da pandemia de covid-19, houve uma leve redução da concentração de renda no Piauí.
Com um índice de 0,0552, o Piauí possui a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, ficando atrás somente do Estado da Paraíba, cujo indicador é de 0,0559. O índice do Piauí é maior, inclusive, que o índice geral da Região Nordeste. De acordo com o IBGE, a concentração do rendimento mensal médio do Nordeste tem caído nos últimos três anos, tendo passado de 0,556 em 2020 para 0,509 em 2023.
Um dos fatores que explica essa redução é, segundo o próprio Instituto, o fato de a região concentrar uma das maiores proporções de domicílios beneficiados pelo Bolsa Família, o que levou a uma melhora na distribuição de renda. Dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) apontam que a proporção de domicílios com pelo menos um beneficiário do programa chegou a 19%. O maior percentual está justamente no Nordeste, com 35,5%.
Entre 2019 e 2023, o rendimento per capita do grupo de domicílios que recebia o Bolsa Família cresceu 42,4%, passando de R$ 446 para R$ 635, enquanto que entre aqueles que não recebiam o benefício, a variação foi de 8,6%, passando de R$ 2.051 para R$ 2.227. “O valor pago pelo Bolsa Família voltou a crescer em 2023 e isso se refletiu no valor médio dos outros rendimentos, principalmente pelo fato de que o rendimento proveniente do Bolsa Família ser o de maior peso na rubrica dos rendimentos”, pontuou Gustavo Geaquinto, responsável pela pesquisa junto ao MDS.
Para o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, a redução da concentração de renda no Nordeste revela o impacto do Bolsa Família para o Brasil. “Estamos melhorando a vida das pessoas e dando oportunidades. Esse é o nosso objetivo e esperamos seguir avançando, reduzindo as desigualdades do nosso país”, disse o ministro.
“Concentração de renda é reflexo de um processo histórico de disparidade social”
Aumento da concentração de renda é basicamente questão de matemática. A maior parte da riqueza está nas mãos de uma pequena parcela da população enquanto que a maior parcela, aquela que ocupa a base da pirâmide social, possui a menos quantidade de bens e de poder aquisitivo. Esse fenômeno não é novo no Brasil e tem uma explicação histórica, conforme explica o economista Francisco Sousa.
Segundo o especialista, o Brasil tem uma conformação social historicamente desigual que vem desde a época da colonização. “Quem está no topo das classes sociais hoje sempre teve o maior poder financeiro e esse padrão social nunca mudou. O tempo passa, as formas de governo mudam, mas esse poder econômico se perpetua de modo que a distribuição de renda permanece sem grandes alterações. Alguns tentam diminuir essa disparidade por meio de programas sociais, mas esse jogo social se mantém e é reflexo de um processo histórico de disparidade social”, afirma Francisco.
Para mudar esta realidade ou começar a amenizá-la, ele diz que a solução é investir na criação de políticas públicas de redução da desigualdade por meio de ações distributivas e redistributivas. A maior ação, no entanto, seria a mudança cultural na sociedade. “Precisamos ter o entendimento e a compreensão de que o Brasil tem uma forma injusta de tributação, que precisa de melhorias salariais e políticas públicas novas, que precisa mudar sua legislação para, só então, termos resultados mais concretos a longo prazo. Não é algo que se faça da noite para o dia, mas precisa ao menos começar de algum lugar”, finaliza Francisco.
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