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Piauí tem a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, afirma IBGE

Índice de concentração de renda aumentou nos últimos 3 anos no Estado. Economista diz que a situação é reflexo de um processo histórico de disparidade social.

19/04/2024 às 15h02

A concentração de renda no Piauí aumentou nos últimos 3 anos e se tornou a segunda maior do Brasil. É isso o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD Contínua), divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira (19). O estudo revela que, apesar do rendimento médio mensal da população piauiense registrado nos últimos 11 anos seguir crescendo, a concentração do rendimento médio per capita mensal no Estado também aumentou.

Significa dizer que a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos cresceu no Piauí. Essa diferença é medida por um indicador chamado de Índice de Gini. Ele varia numericamente de zero a um, no qual zero significa um patamar de igualdade social e um representa que uma única pessoa detém toda a riqueza. Quanto mais próximo de um, maior a diferença na concentração de rendimentos entre as parcelas da população.

Piauí tem a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, afirma IBGE - (Arquivo O Dia) Arquivo O Dia
Piauí tem a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, afirma IBGE

Conforme os dados da PNAD, nos últimos quatro anos, o índice de concentração de rendimento médio mensal no Piauí saiu de 0,474 em 2020 para 0,0552 em 2023. O aumento foi de 0,078 no intervalo de três anos. O índice de 2020 foi considerado pelo IBGE como o menor da série histórica, que se iniciou em 2012, o que significa dizer que, no primeiro ano da pandemia de covid-19, houve uma leve redução da concentração de renda no Piauí.

Com um índice de 0,0552, o Piauí possui a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, ficando atrás somente do Estado da Paraíba, cujo indicador é de 0,0559. O índice do Piauí é maior, inclusive, que o índice geral da Região Nordeste. De acordo com o IBGE, a concentração do rendimento mensal médio do Nordeste tem caído nos últimos três anos, tendo passado de 0,556 em 2020 para 0,509 em 2023.

Piauí tem a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, afirma IBGE - (Marcello Casal Jr./Agência Brasil) Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Piauí tem a segunda maior taxa de concentração de renda do Brasil, afirma IBGE

Um dos fatores que explica essa redução é, segundo o próprio Instituto, o fato de a região concentrar uma das maiores proporções de domicílios beneficiados pelo Bolsa Família, o que levou a uma melhora na distribuição de renda. Dados do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) apontam que a proporção de domicílios com pelo menos um beneficiário do programa chegou a 19%. O maior percentual está justamente no Nordeste, com 35,5%.

Entre 2019 e 2023, o rendimento per capita do grupo de domicílios que recebia o Bolsa Família cresceu 42,4%, passando de R$ 446 para R$ 635, enquanto que entre aqueles que não recebiam o benefício, a variação foi de 8,6%, passando de R$ 2.051 para R$ 2.227. “O valor pago pelo Bolsa Família voltou a crescer em 2023 e isso se refletiu no valor médio dos outros rendimentos, principalmente pelo fato de que o rendimento proveniente do Bolsa Família ser o de maior peso na rubrica dos rendimentos”, pontuou Gustavo Geaquinto, responsável pela pesquisa junto ao MDS.

Para o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, a redução da concentração de renda no Nordeste revela o impacto do Bolsa Família para o Brasil. “Estamos melhorando a vida das pessoas e dando oportunidades. Esse é o nosso objetivo e esperamos seguir avançando, reduzindo as desigualdades do nosso país”, disse o ministro.

Reduçã - (Reprodução / FDR) Reprodução / FDR
Reduçã

“Concentração de renda é reflexo de um processo histórico de disparidade social”

Aumento da concentração de renda é basicamente questão de matemática. A maior parte da riqueza está nas mãos de uma pequena parcela da população enquanto que a maior parcela, aquela que ocupa a base da pirâmide social, possui a menos quantidade de bens e de poder aquisitivo. Esse fenômeno não é novo no Brasil e tem uma explicação histórica, conforme explica o economista Francisco Sousa.

O economista Francisco Sousa explica do que decorre essa disparidade na concentração de renda - (Assis Fernandes/O Dia) Assis Fernandes/O Dia
O economista Francisco Sousa explica do que decorre essa disparidade na concentração de renda

Segundo o especialista, o Brasil tem uma conformação social historicamente desigual que vem desde a época da colonização. “Quem está no topo das classes sociais hoje sempre teve o maior poder financeiro e esse padrão social nunca mudou. O tempo passa, as formas de governo mudam, mas esse poder econômico se perpetua de modo que a distribuição de renda permanece sem grandes alterações. Alguns tentam diminuir essa disparidade por meio de programas sociais, mas esse jogo social se mantém e é reflexo de um processo histórico de disparidade social”, afirma Francisco.

"O tempo passa, as formas de governo mudam, mas esse poder econômico se perpetua de modo que a distribuição de renda permanece sem grandes alterações"

Francisco SousaEconomista

Para mudar esta realidade ou começar a amenizá-la, ele diz que a solução é investir na criação de políticas públicas de redução da desigualdade por meio de ações distributivas e redistributivas. A maior ação, no entanto, seria a mudança cultural na sociedade. “Precisamos ter o entendimento e a compreensão de que o Brasil tem uma forma injusta de tributação, que precisa de melhorias salariais e políticas públicas novas, que precisa mudar sua legislação para, só então, termos resultados mais concretos a longo prazo. Não é algo que se faça da noite para o dia, mas precisa ao menos começar de algum lugar”, finaliza Francisco.

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