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Descriminalização da maconha: STF retoma julgamento nesta quarta (6)

A análise retornará com o voto-vista do ministro André Mendonça que, em agosto de 2023, pediu mais tempo para examinar o assunto

05/03/2024 às 16h25

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) deve retomar, nesta quarta-feira (6), o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 635659, que discute se o porte de maconha (cannabis sativa) para consumo próprio pode, ou não, ser considerado crime. A análise retornará com o voto-vista do ministro André Mendonça que, em agosto de 2023, pediu mais tempo para examinar o assunto. 

STF vota por descriminalização da maconha nesta quarta-feira (5) - (Freepik) Freepik
STF vota por descriminalização da maconha nesta quarta-feira (5)

A discussão leva em consideração o artigo 28 da Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), que aborda sanções relacionadas ao consumo pessoal de drogas. Em vez de punições mais severas, como prisão, o artigo prevê sanções alternativas, como medidas educativas, advertência e prestação de serviços à comunidade, para aqueles que são pegos comprando, portando, transportando ou guardando drogas para seu próprio consumo.

Até agora, cinco votos afirmaram que é inconstitucional considerar apenas o porte de maconha para uso pessoal como crime, enquanto um voto defende a validade da regra estabelecida na Lei de Drogas. 

Consumo próprio x tráfico

O colegiado também vai discutir como diferenciar a posse e produção de drogas para uso pessoal e tráfico. Isso ocorre porque a Lei de Drogas não estabeleceu critérios claros para distinguir as duas situações. 

Atualmente, essa distinção é feita de maneira variada pela polícia, pelo Ministério Público e pelo Judiciário, levando a diferentes interpretações dependendo do local onde ocorre a prisão. O objetivo é garantir que situações semelhantes sejam tratadas da mesma forma em todo o país, desde o momento da abordagem policial.

Idas e vindas

O julgamento iniciou em agosto de 2015 com o ministro Gilmar Mendes propondo descriminalizar o porte de drogas para consumo pessoal. Mais tarde, ele restringiu a medida apenas à maconha e sugeriu a definição de parâmetros para diferenciar o tráfico de consumo próprio.

Na sessão seguinte, o ministro Edson Fachin concordou que a regra é inconstitucional apenas para a maconha, mas sugeriu que o Congresso Nacional estabelecesse os critérios.

O ministro Luís Roberto Barroso defendeu a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal, propondo a posse de até 25g da substância ou cultivo de até seis plantas fêmeas.

Posteriormente, o julgamento foi suspenso após pedido de vista do ministro Teori Zavascki. Em agosto de 2023, o caso retornou com o ministro Alexandre de Moraes sugerindo que pessoas flagradas com 25g a 60g de maconha ou seis plantas fêmeas sejam consideradas presumivelmente usuárias, baseado em estudo sobre apreensões em São Paulo.

O ministro Cristiano Zanin foi o único até agora a votar a favor da constitucionalidade da regra. Ele argumentou que simplesmente descriminalizar poderia piorar problemas de saúde relacionados ao vício e retirar os únicos critérios objetivos para distinguir usuários de traficantes. Zanin sugeriu que, além disso, poderia ser estabelecida como critério adicional a posse de até 25 gramas ou seis plantas fêmeas para determinar se alguém é um usuário de drogas.

Descriminalização vai além da liberação para uso pessoal, aponta advogado

Em entrevista à imprensa, o advogado criminalista Wesley de Carvalho destaca que a descriminalização da maconha não se limita à legalização do consumo pessoal. Ele argumenta que essa decisão impactará diretamente na segurança pública do Brasil e no progresso das pesquisas científicas sobre o uso medicinal da cannabis.

“Nos dias de hoje o usuário ainda é criminalizado. Mesmo se estiver portando pequenas quantidades da substância, pode ser autuado por trafico de drogas. Nós sabemos que existe o racismo institucional e que ele está enraizado em toda a sociedade. Não é diferente na segurança pública. Todos os dias diversos jovens negros e de periferia são presos por tráfico de drogas. Grande parte da juventude está sendo criminalizada por portar uma certa quantidade de maconha”.

Wesley de CarvalhoAdvogado Criminalista
Descriminalização vai além da liberação para uso pessoal, aponta advogado - (Reprodução/Google) Reprodução/Google
Descriminalização vai além da liberação para uso pessoal, aponta advogado

O advogado ressalta que o avanço em relação à aceitação da cannabis ocorre mais em relação ao uso medicinal do que o uso recreativo. Além disso, há uma resistência em entender o consumo pessoal de drogas.

“Vemos que vários países que aderiram à criminalização global das drogas e, principalmente, da maconha, já voltaram atrás, como é o caso dos Estados Unidos. O Brasil ainda está aquém. Nós percebemos que o avanço do debate sobre a cannabis está acontecendo com base na ciência e no uso medicinal. É a maconha que tem está desmistificando esse conceito errôneo sobre o uso de drogas no meio social”, acrescenta.