O calor no Piauí não se concentra somente nos meses do B--R-O-Bró. Durante todo o ano, o piauiense busca formas de amenizar as altas temperaturas e uma das principais maneiras de passar pela quentura é investir em aparelhos elétricos como ventiladores, condicionadores de ar e umidificadores de ambiente. Vale tudo para não passar calor. Inclusive usar uma mesma tomada para ligar todos estes aparelhos com aquela falsa sensação de que menos tomadas ligadas é menos gasto de energia.
Mas a tentativa de tornar o ambiente mais agradável de forma econômica pode terminar em transtornos, e dos grandes. Problemas na fiação elétrica e o uso de equipamentos como Ts e extensões são as principais causas de incêndios residenciais e em estabelecimentos comerciais. Quem afirma isso é a engenheira civil Karoline Vilarinho, especialista em Projetos de Combate a Incêndio e Pânico.
Em entrevista ao Jornal O DIA, ela alertou para o risco do mau uso das tomadas e explica o que pode acontecer quando determinada instalação é sobrecarregada pela quantidade de aparelhos elétricos ligada a ela.
Outra orientação que ela dá é manter sempre fora da tomada os aparelhos que não estão em uso. Se terminou de usar o forno micro-ondas, desligue-o. Isso também vale para outros eletrodomésticos como air-fryer, liquidificadores, sanduicheiras, panelas elétricas e processadores. E para quem tem o costume de deixar o celular a noite toda na tomada carregando, fica o alerta: a prática é arriscada. Primeiro porque pode haver um superaquecimento do carregador, da tomada ou do aparelho sem que a pessoa perceba.
Segundo que esse aquecimento pode levar a um curto-circuito e princípio de incêndio sem que os moradores da casa percebam. Mas nem só a fiação elétrica deve ser observada na hora de prevenir riscos de incêndios em casa. Pais e responsáveis devem ficar atentos sobre onde os pequenos põem as mãozinhas.
Karoline Vilarinho elenca: em residências onde há crianças, as tomadas devem ficar tapadas, fios não podem ficar expostos, botijões de gás devem estar sempre com a trava de segurança acionada se o fogão não estiver em uso e fósforos e isqueiros devem estar longe do alcance. O mesmo vale para substâncias inflamáveis como álcool e querosene.
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“Pequenas ações que são erradas e a gente nem se dá conta podem levar a um incêndio. Tem gente que vira o botijão de gás quando ele está perto do fim para poder render mais. Ali dentro tem um líquido composto por propano e butano altamente inflamável. Se ele escorre, o risco de fogo é imenso. Também é bom evitar as pessoas vestirem o botijão com peças de pano, porque o fogo começa a partir do derramamento no tecido”, explica.
É importante ressaltar que o botijão de gás de cozinha deve ficar na área externa e não dentro de casa. O objeto deve estar protegido do sol e da chuva em um espaço onde haja ampla circulação de ar e fora do alcance de crianças.
Sinalização é essencial para evitar tragédia em momentos de pânico
Há 10 anos, o Brasil parou para assistir a uma tragédia que tirou a vida de centenas de jovens na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O incêndio começou depois que alguém acendeu um sinalizador e o fogo acabou atingindo o forro, formado basicamente por espuma. O caso chamou a atenção para a falta de estrutura de estabelecimentos comerciais na hora da contenção de incêndios e de momentos de pânico.
Todo estabelecimento precisa de um alvará de funcionamento expedido pelo Corpo de Bombeiros atestando padrão de segurança, de contenção e de evacuação em casos de fogo. Esse projeto deve ser feito e aprovado por especialistas com base no tamanho e capacidade do espaço.
A engenheira Karoline Vilarinho explica que quando a área é maior que 900 m², o projeto é necessário, sobretudo em estabelecimentos como depósitos de gás e de fogos de artifício, onde o risco de fogo é maior por conta da quantidade de produtos inflamáveis concentrados. “São edificações que precisam de muita segurança, tem que ter uma quantidade mínima de extintores, de larguras maiores das saídas de emergência e de placas sinalizadoras de rota de saída”, explica Karoline.
Essas especificações todas estão previstas na Instrução Técnica nº 11/2019, do Corpo de Bombeiros do Piauí, que estabelece os requisitos mínimos necessários para a dimensionamento das saídas de emergência para a população abandonar a edificação em caso de incêndio ou pânico.
Karline acrescenta ainda que em locais como condomínios residenciais e estabelecimentos comerciais, é preciso sempre estar atento à validade dos extintores de incêndio, ao tipo de extintor, sua colocação em espaço adequado e sua manutenção juntamente com a inspeção de mangueiras e hidrantes.
“Em prédios residenciais é preciso sempre ter uma brigada, que são pessoas treinadas pelo Corpo de Bombeiros para atuar em caso de perigo de fogo. Lembrando que a vistoria dos Bombeiros nas instalações de segurança desses estabelecimentos é anual”, finaliza a engenheira.