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Cemitério São José, um espaço que abriga curiosidades, história e tradição

Construído na época do Império, o São José foi planejado e tem em seu interior uma das capelas mais antigas do Piauí

06/05/2024 às 12h05

Teresina, a primeira cidade-capital planejada e construída no período do Império, surge em 1852, idealizada pelo presidente da província, Conselheiro José Antônio Saraiva, e pelo engenheiro Mestre Isidoro França. Na época, criou-se o projeto ‘Tabuleiro de Xadrez’, que contemplava o que é hoje a região do Centro de Teresina. No planejamento também foi pensado um espaço muito específico, o Cemitério São José, seguindo as medidas higienistas do século XIX.

O Cemitério São José foi pensado dentro da planta de Teresina, mas ficava localizado fora dos limites do ‘Tabuleiro de xadrez’, que tem como ponto de partida a Praça da Bandeira. Na região que foi instalado, à época, era um local bastante afastado do centro da cidade. Em 1859 é, enfim, inaugurado o cemitério e sua capela. Aliás, esse que é o terceiro templo religioso mais antigo de Teresina. O primeiro é a Igreja Nossa Senhora da Amparo, na Praça da Bandeira, e o segundo é a Igreja Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva.

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Temos o primeiro cemitério, onde está a capelinha, e seu entorno. Na parte principal, a mais antiga, eram enterradas as pessoas católicas e as pertencentes à classe mais abastada. Mais ao fundo, fora dessa área, foi construído um segundo cemitério, em 1883, destinado às pessoas que não eram católicas, aos pobres, as que cometiam suicídio ou eram acometidas por doenças, como a lepra, conhecida hoje como hanseníase, e a tuberculose

Viviane Pedrazzanipesquisadora e doutora em Preservação do Patrimônio Cultural
Viviane Pedrazzani destaca que os cemitérios são ótimas fontes de pesquisa - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Viviane Pedrazzani destaca que os cemitérios são ótimas fontes de pesquisa

"Eram doenças que faziam com que as pessoas que as tinham fossem excluídas, inclusive na morte”, conta a pesquisadora.

Os túmulos que estão em torno da capela são bastante antigos, com tumbas que datam de 1870. Algumas décadas depois, em 1938, houve uma grande reforma no Cemitério São José, não somente na parte principal, como em seu entorno. As duas partes, que antes eram separadas, foram unidas e formaram um cemitério único.

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Algumas peculiaridades do Cemitério São José chamam atenção, como as pessoas enterradas após os muros do espaço. Segundo a pesquisadora, isso ocorria com aqueles que eram excomungados pela Igreja, por exemplo. Uma dessas figuras é a do jornalista David Caldas.

“O jornalista David Caldas era atuante e entrava em constantes conflitos com a política imperial, sobretudo destacando a relação da influência religiosa no Estado. O conflito chegou a tal ponto que a Igreja o considerou ateu e, quando morreu, foi reconhecido como alguém indigno para ser enterrado tanto na parte dos nobres quanto dos pobres, sendo sepultado do lado de fora. Na reforma de 1938, esses corpos são trazidos e enterrados dentro do cemitério, inclusive o dele”, comenta a historiadora.

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Um patrimônio cultural

O Cemitério São José, o mais antigo de Teresina, tem 165 anos. Nele, estão enterrados grandes nomes do Piauí, não somente da política, mas também da cultura ou de episódios que marcaram épocas e períodos importantes da cidade, como o ex-governador Jacob de Almendra, o historiador piauiense Odilon Nunes, o músico e poeta da Tropicália, Torquato Neto, o desembargador Cromwell de Carvalho e o motorista Gregório.

“O cemitério, além da função de enterramento e religiosa, com seus rituais, também é um espaço de história, onde, a partir da arte tumular, dos epitáfios, formatos e a quem esses túmulos pertencem, são interessantes para serem estudados, assim como o local que essas pessoas foram sepultadas. Os cemitérios são um importantíssimo patrimônio cultural, inclusive, em muitas cidades do mundo, se tem roteiro de visitação em cemitérios como ponto de atração turística, porque lá tem enterradas figuras representativas para a história nacional ou local. Sinto que falta conhecimento sobre os cemitérios”, conclui a pesquisadora e doutora em Preservação do Patrimônio Cultural, Viviane Pedrazzani.

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