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Janeiro Roxo: casos de hanseníase aumentam em adolescentes no Piauí

Ao longo deste mês estão sendo realizadas atividades alusivas à data envolvendo a população e profissionais de saúde

13/01/2024 às 14h12

O Janeiro Roxo é dedicado ao combate à hanseníase, doença infecciosa, contagiosa, de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que atinge principalmente a pele, as mucosas e os nervos periféricos (braços e pernas), com capacidade de ocasionar lesões neurais, podendo acarretar danos irreversíveis, inclusive exclusão social, caso o diagnóstico seja tardio ou o tratamento inadequado. 

O Janeiro Roxo é dedicado ao combate à hanseníase - (Arquivo O DIA ) Arquivo O DIA
O Janeiro Roxo é dedicado ao combate à hanseníase

No Piauí, a doença tem crescido entre os adolescentes. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), somente em 2023 foram registrados 25 novos casos entre menores de 15 anos. Ao longo do ano, foram diagnosticados 662 novos casos da doença em todo o Estado. Em 2022, o Piauí teve 738 novos casos de hanseníase, sendo 24 deles em menores de 15 anos. No ano de 2021, os dados epidemiológicos registraram 679 novos casos, sendo 21 deles em adolescentes. 

Ao longo de todo o mês estão sendo realizadas atividades alusivas à data. Conforme Karina Amorim, coordenadora de IST, a Sesapi está apoiando o desenvolvimento da programação que será realizada nos municípios. Em Teresina, no dia 17 de janeiro, será realizado um seminário de hanseníase no Cine Teatro da Universidade Federal do Piauí voltado para toda a população, profissionais de saúde e pesquisadores. 

Conscientização é uma das formas de reduzir o preconceito e auxiliar no diagnóstico da doença. - (Assis Fernandes / O DIA) Assis Fernandes / O DIA
Conscientização é uma das formas de reduzir o preconceito e auxiliar no diagnóstico da doença.

Quem é acometido com a doença, além de enfrentar os desafios da hanseníase, ainda precisa lidar com o preconceito. Sara Moura, coordenadora do Centro Maria Imaculada, serviço de atenção e saúde vinculado à Ação Social Arquidiocesana (ASA) especializado em Hanseníase, comenta que muitas pessoas que recebem o diagnóstico da doença são excluídas da própria família, devido ao preconceito. 

Em 2018, o cearense Paulo Rodrigues descobriu que estava com a doença. Hoje, ele está curado, mas ainda convive com as marcas deixadas pela doença. As dificuldades iniciaram ainda no diagnóstico e seguiram ao longo de todo o tratamento. 

“No dia 03 de setembro de 2018 é uma data que eu não vou esquecer nunca mais na minha vida. Foi aterrorizante. Eu estava sozinho, me sentindo sozinho e confuso. Foi um dia que internalizei essas emoções por um bom tempo, mas decidi colocá-las no papel, por meio de poesias. O intuito delas é trazer as pessoas ‘comuns’ para o meu mundo, de uma pessoa acometida, para sentirem o que a gente vive, sente e passa”, comenta Paulo Rodrigues.

Paulo Rodrigues descobriu a doença em 2018. - (Assis Fernandes / O DIA) Assis Fernandes / O DIA
Paulo Rodrigues descobriu a doença em 2018.

Sinais e sintomas

  • Sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades; 
  • Manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato; 
  • Áreas da pele aparentemente normais que têm alteração da sensibilidade e da secreção de suor; 
  • Caroços e placas em qualquer local do corpo; 
  • Diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos). 

Transmissão

Os pacientes sem tratamento eliminam os bacilos através do aparelho respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro). O paciente em tratamento regular ou que já recebeu alta não transmite. A maioria das pessoas que entram em contato com estes bacilos não desenvolve a doença. Somente um pequeno percentual, em torno de 5% de pessoas, adoecem. Fatores ligados à genética humana são responsáveis pela resistência (não adoecem) ou suscetibilidade (adoecem). O período de incubação da doença é bastante longo, variando de três a cinco anos. 

Diagnóstico

As lesões de pele provocadas pela hanseníase são bem características. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e epidemiológicos. Para confirmação da doença, é feita uma baciloscopia, um exame que identifica as bactérias presentes na região. Também pode ser realizado um exame histopatológico, ou seja, um estudo dos tecidos do organismo ao microscópio do material retirado da lesão. 

Tratamento

Todos os casos de hanseníase têm tratamento e cura. Para tratar o paciente, é feita uma associação de três antibióticos (rifampicina, dapsona e clofazimina), usados de forma padronizada. Existem dois tipos de tratamento: um tem duração de seis meses, e é direcionado a pacientes que estão infectados, mas não contaminam outras pessoas. 

O outro tem duração de 12 meses e é voltado a pacientes que podem infectar outros indivíduos. As lesões de pele podem desaparecer logo no início, mas isso não quer dizer que o paciente esteja curado, por isso a importância de se respeitar o tempo de tratamento e tomar a medicação corretamente. O paciente pode ser tratado gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Prevenção

A hanseníase não pode ser totalmente prevenida. Para suas formas mais disseminadas, é aplicada a vacina BCG, que é dada aos contatos mais próximos do paciente para evitar que se infectem. Na suspeita da doença, é preciso procurar atendimento em uma unidade de saúde o mais rápido possível. O diagnóstico precoce, o tratamento oportuno e a investigação de contatos é fundamental, pois evita a evolução da enfermidade para as incapacidades e deformidades físicas que dela podem surgir, além da contaminação de mais pessoas.